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Quem foi Assunta “Pupetta” Maresca

Conheça a história da Poderosa Chefona da máfia

18/11/2024

O imaginário popular está cheio de figuras mafiosas famosas. Don Vito e Michael Corleone da trilogia O Poderoso Chefão, Jimmy Conway de Os Bons Companheiros, Tony Montana de Scarface e Tony Soprano de Família Soprano são apenas alguns dos vários exemplos de mafiosos que deixaram seu legado na cultura pop.

Mas onde estão as mulheres na história da máfia? Embora sejam frequentemente retratadas como vítimas ou coadjuvantes em filmes e séries de televisão, na vida ganhando notoriedade em um mundo tradicionalmente controlado por homens. Em A Poderosa Chefona e Outras Mafiosas, lançamento da DarkSide® Books, Barbie Latza Nadeau mergulha na vida dessas mulheres implacáveis que ao desafiaram expectativas sociais e mostraram que poder não tem gênero.

A Poderosa Chefona e Outras Mafiosas traz à tona diversos nomes que cooptaram esse mundo masculino, afirmando-se em um sistema que simultaneamente as oprime, mas também oferece oportunidades de poder e sobrevivência. Entre as várias histórias de vida apresentadas por Barbie Latza Nadeau, há uma que se destaca: a de Assunta “Pupetta” Maresca, a primeira mulher a ser reconhecida como líder de um dos grupos criminosos mais poderosos da Itália.

Conheça mais da vida e história da Lady Camorra:

De Rainha da Beleza a Esposa da Máfia

Assunta Maresca nasceu em 19 de janeiro de 1935 em Castellammare di Stabia, uma cidade ao sul de Nápoles. Com quatro irmãos, ela era a única menina da família chefiada por Alberto Maresca, um famoso e perigoso contrabandista. Associado com a organização criminosa Camorra, aliada a Máfia Siciliana, o clã Maresca era conhecido na cidade por seu uso especializado de lâminas e canivetes, assim como pelo contrabando de cigarros.

Assunta cresceu nesse meio, aprendendo desde cedo a guardar bens contrabandeados em sua casa de bonecas e a atirar em “qualquer alvo bem no meio dos olhos”. Bastante mimada pela família, sua beleza e porte pequeno lhe renderam o apelido “Pupetta”, que significa “boneca” em italiano. Quando ainda era adolescente, Pupetta venceu um concurso de beleza local e se tornou Miss Rovegliano. Ela logo passou a chamar a atenção e a ser cortejada por diversos homens poderosos, todos associados com a Camorra. Um deles foi Pasquale Simonetti, conhecido como Pasquale ‘e Nola, um poderoso Camorrista que fixava os preços de frutas e legumes em mercados de Nápoles e negociava produtos contrabandeados.

Em 27 de abril de 1955, os dois se casaram, depois que Pasquale saiu da prisão por “supostamente” assassinar alguém. Logo em seguida, Pupetta descobriu estar grávida do primeiro filho do casal. No entanto, a felicidade durou pouco.

De Viúva a Vingadora

Em 16 de julho de 1955, menos de três meses após o casamento, Pasquale foi morto a tiros na Piazza Mercato em Nápoles enquanto descascava uma laranja. O crime, cometido por Gaetano Orlando, havia sido encomendado por ninguém menos do que seu ex-parceiro de crime, Antonio Esposito, o qual desejava eliminar a concorrência do rival.

Desesperada, Pupetta correu até o hospital e ficou ao lado do marido, que sangrou até a morte. Contudo, antes de falecer, Pasquale lhe contou que o mandante do crime era Esposito. Mais tarde, em uma entrevista, ela disse: “Tirei a arma de Pasquale de sua mesa de cabeceira e a carreguei comigo do dia que o enterrei até o dia em que a usei”.

A polícia sabia quem era o culpado, mas não parecia inclinada a intervir em uma guerra no território da Camorra. Pupetta então jurou que vingaria a morte do marido. Tudo piorou quando Esposito teve a ousadia de comparecer ao funeral de Pasquale.

Foi assim que, junto do irmão mais novo, Ciro, Pupetta rastreou Esposito e foi até Nápoles para encontrá-lo. Em 4 de agosto de 1955, em frente ao Palácio da Justiça de Nápoles, Pupetta, grávida de seis meses, tirou sua Smith & Wesson da bolsa, segurou-a com as duas mãos e disparou 29 vezes contra Esposito em plena luz do dia.

De Vingadora a Diva do Crime

Em 14 de outubro de 1955, ela foi presa pelo assassinato de Esposito. Seu julgamento começou em abril de 1959 ganhando intensa cobertura midiática. Sua beleza e dramaticidade — digna de uma trágica heroína — lhe tornaram uma lenda local.

Apelidada de “Diva do Crime”, ela se tornou uma celebridade, recebendo propostas de casamento, presentes e canções em sua homenagem. A comoção era tanta que flores eram jogadas no veículo que transportava Pupetta da prisão até o tribunal, tal qual uma realeza desfilando pela cidade. Ao não demonstrar remorso e desafiadoramente declarar ao tribunal “Eu faria isso de novo!” e “Matei por amor!”, Pupetta recebeu calorosos aplausos dos presentes na sala do tribunal.

Ao fazer o trabalho tradicionalmente destinado aos homens, vingando a morte do marido, ela mostrou que as esposas da máfia também poderiam sair das sombras. No entanto, a jovem foi condenada a dezoito anos de prisão, que foram posteriormente reduzidos a treze anos pelo Tribunal de Apelação. No fim, Pupetta cumpriu apenas dez anos da sentença, recebendo um misterioso perdão em 1965.

Na prisão, ela deu à luz seu primeiro filho, Pasqualino. Com o apelido de “Lady Camorra” e status de ícone da elite criminosa napolitana, Pupetta era considerada pelas detentas e guardas como uma mulher de honra, sendo tratada com a deferência devida a um Capo. Não demorou até que ela ganhasse o título inédito de “madrinha”, recebendo e aconselhando mafiosos locais que iam visitá-la.

Lady Camorra

Ao sair da prisão em 1965, Pupetta continuou a participar de atividades relacionadas à máfia. Nos anos seguintes, ela atuou em um filme inspirado em sua vida, abriu duas lojas de roupas em Nápoles e se envolveu com outro chefe da Camorra, Umberto Ammaturo, um traficante de armas e drogas. Juntos, os dois expandiram suas atividades criminosas e tiveram filhos gêmeos.

Contudo, os problemas estavam longe de ter fim. Pasqualino, seu filho com Pasquale, era veementemente contra o novo relacionamento da mãe. Ammaturo, por sua vez, era conhecido por ter ciúmes do rapaz, que tinha ambições de subir de nível na organização criminosa. Em 1974, aos 18 anos, Pasqualino foi encontrar Ammaturo em uma construção e desapareceu misteriosamente. Embora não houvesse provas, Pupetta suspeitava que o amante tinha assassinado o filho e enterrado o corpo no cimento. Em uma entrevista concedida em 1995, ela contou que questionou Ammaturo, que por sua vez negou qualquer envolvimento. Apesar de brigarem ferozmente, ela permaneceu ao lado de Ammaturo até 1982 para proteger os dois filhos.

Após a morte de Pasqualino, Pupetta continuou seu envolvimento com a Camorra, sendo posteriormente acusada de estar por trás do assassinato de Ciro Galli, membro da Nuova Camorra Organizzata (NCO), uma organização comandada por Raffaele Cutolo na tentativa de renovar a Camorra e enfrentar as famílias tradicionais. Em fevereiro de 1982, durante uma guerra entre organizações, Pupetta arranjou uma coletiva de imprensa para defender seus homens e publicamente desafiar Cutolo, o denunciando como “louco pelo poder”. A atitude de Pupetta deixou a imprensa em polvorosa, já que era incomum alguém associado à elite da máfia fazer declarações públicas. Contudo, ela sabia exatamente o que estava fazendo e utilizou a publicidade para proteger e desviar a atenção de sua família.

Ainda em 1982, junto de Ammaturo, foi presa pelo assassinato do cientista forense Aldo Semerari, o qual havia ajudado Ammaturo a escapar da prisão ensinando-lhe a fingir insanidade. Embora tenha negado o envolvimento no crime, Pupetta enfrentou sozinha as acusações, já que Ammaturo fugiu para a América do Sul. No fim, ela cumpriu quatro anos de prisão, sendo libertada em 1986 e absolvida em 1989 por falta de provas.

A madrinha original

Após isso, Pupetta passou seus anos vivendo uma vida tranquila nos subúrbios de Nápoles em sua cobertura milionária. Lady Camorra, como ficou conhecida, se tornou tema de vários filmes e programas de televisão, além de aparecer em reality shows e entrevistas.

Uma mulher pequena, mas com grande carisma e aparência de estrela de cinema, Pupetta pegou as rédeas de sua história e foi responsável por construir sua própria mitologia. Desde cedo, ela entendeu as regras do jogo e soube como demonstrar seu poder, utilizando a imprensa e sua própria condição de mulher para conquistar seus objetivos. Ela faleceu em 29 de dezembro de 2021 aos 87 anos devido a complicações causadas pela covid.

Em uma entrevista a Barbie Latza Nadeau, autora de A Poderosa Chefona e Outras Mafiosas, ela afirmou: “Durmo facilmente à noite. Não tenho medo de morrer”.