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A carreira musical de Charles Manson

O líder da seita Família bem que tentou…

12/05/2025

Antes de se tornar um dos nomes mais infames da história criminal do mundo, Charles Manson tentou (e muito) ser músico. Nascido em Cincinnati, o líder da seita Família Manson, responsável por uma série de assassinatos brutais em 1969, chegou a Los Angeles em 1967 com a ambição de gravar um disco. O plano não deu certo, mas sua música, de qualidade questionável, continuou a assombrar a cultura popular.

LEIA TAMBÉM: Como Vincent Bugliosi levou Manson e seus seguidores à justiça

Manson aprendeu a tocar guitarra na prisão e, ao ser solto, tentou infiltrar-se no cenário musical californiano. Conheceu figuras como Neil Young, Dennis Wilson (dos Beach Boys) e o produtor Terry Melcher, filho de Doris Day. Neil Young chegou a elogiá-lo: “Ele tinha um tipo de música que ninguém mais fazia. Era como um poeta vivo”, disse o músico ao escritor Bill Flanagan. Já John Phillips, do grupo The Mamas and The Papas, recusou-se a trabalhar com ele: “Eu tremia toda vez. Dizia: ‘Não, acho que passo'”.

O momento mais próximo que Manson teve do sucesso foi em 1968, quando Dennis Wilson regravou a faixa Cease to Exist, de Manson. O baterista transformou-a em Never Learn Not to Love, b-side de um single dos Beach Boys. Mas Dennis alterou a letra e assumiu os créditos sozinho. Manson recebeu uma motocicleta como pagamento, mas não esqueceu a “traição”. “Dei a Dennis Wilson uma bala, não dei? Porque ele mudou as palavras da minha música”, contou à jornalista Diane Sawyer.

chaos charles manson

O disco que ninguém quis

Com a prisão de Manson em 1969, seu colega de cela Phil Kaufman tentou lançar suas demos. Sem interesse das gravadoras, Kaufman bancou a prensagem de duas mil cópias do álbum Lie: The Love and Terror Cult (1970). Embora as vendas tenham sido pífias na época, seus exemplares viraram item de colecionador com o passar dos anos.

As letras de Manson, cheias de referências à manipulação e à paranoia que o levaram a cometer uma série de crimes, hoje soam como prenúncios do mal que ele causaria. Em Look At Your Game Girl, ele canta: “Você acha que está amando/ mas só está chorando…/ Esses sentimentos são reais?”. Para o crítico Theodore Grenier, a música “personifica a abordagem de Manson para influenciar jovens mulheres, sugerindo que seu caminho era mais libertador”.

Como já falamos aqui, Manson desenvolveu uma obsessão doentia pelo White Album, dos Beatles (1968), interpretando canções como Helter Skelter, Piggies e Blackbird como profecias de uma guerra racial apocalíptica – como no enredo ruim de um filme distópico. O líder da Família acreditava que os assassinatos que ordenou — incluindo o da atriz Sharon Tate, que estava grávida — iniciariam o conflito, que chamou de Helter Skelter. “Eles estavam cantando para mim, dizendo o que fazer”, afirmou durante o julgamento. Paul McCartney, anos depois, respondeu: “Era só uma música sobre um escorregador. Nada a ver com isso”.

Marilyn manson

Apesar do fracasso comercial, as gravações de Manson encontraram um público peculiar. Bandas e artistas de punk, metal e industrial, como Skinny Puppy e Marilyn Manson, samplearam sua voz ou regravaram suas canções. O próprio Marilyn Manson (cujo nome artístico é uma fusão de Marilyn Monroe e Charles Manson) contou ter descoberto as músicas do serial killer na adolescência: “Foi o início da minha identificação com ele”, disse em entrevista. Já o Nine Inch Nails, de Trent Reznor, usou trechos de falas de Manson no álbum Broken (1992), gravado na mesma casa onde Tate foi assassinada — uma decisão que Trent mais tarde lamentou.

Mesmo na prisão, Manson continuou a compor. Em 2007, um álbum com novas gravações, One Mind, vazou na internet, mas foi rapidamente removido da rede após protestos. Em 2014, um fã chegou a leiloar um violão supostamente usado por ele, arrecadando US$ 15 mil. O último projeto musical conhecido de Manson foi uma colaboração com A.P. Beats, que lançou Sick City em 2014 — uma faixa que mistura vocais de Manson com batidas eletrônicas. Você sabia da existência dessa música? Não? Nem eu.

A música de Manson nunca foi tecnicamente impressionante. Suas canções eram repetitivas, suas harmonias básicas e suas letras, embora perturbadoras, não passavam de exercícios de autoajuda distorcida. O que as tornou relevantes foi o contexto: a associação com seus crimes. Como disse o jornalista Jeff Guinn, autor de Manson: A Biografia, aqui da DarkSide® Books: “Se Manson não tivesse matado ninguém, suas músicas estariam esquecidas em algum porão de Los Angeles. Ele não era um gênio mal compreendido. Era um assassino que sabia tocar três acordes“.

No fim, sua herança musical é apenas um péssimo trocadilho: uma nota de rodapé na carreira de um homem que preferiu ser lembrado pelo horror.

LEIA TAMBÉM: Qual a diferença entre os livros Helter Skelter e Manson: A Biografia?

Sobre Liv Brandão

Avatar photoJornalista, criadora de conteúdo e roteirista. Passou por veículos como O Globo e UOL sempre falando de cultura e entretenimento. É especialista em séries de TV, mas também fala de filmes, música, literatura e o que mais vier.

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