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Brain Damage: Uma overdose de terror

Diferentes camadas de horror em cenas grotescas

12/01/2024

Vocês devem ter notado que a Firestar Videolocadora tirou um pequeno recesso de final de ano. Todos conhecem o riscado: organizar o estoque, comprar novos títulos, rebobinar todas as fitas. Sem contar que também reorganizamos o nosso catálogo, afinal de contas, as locadoras em Três Rios voltaram a ficar em alta, consolidando o status de pequenas máquinas do tempo movidas à energia Technicolor. Mas isso é pauta para outra conversa, porque hoje é dia de dano cerebral!

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Bem, ou quase isso, uma vez que alguma alma cheia de sapiência rebatizou o filme de hoje como O Soro do Mal. E tudo bem, como eu disse mais acima: vocês conhecem o riscado.

brain damage

Brain Damage, de 1988, começa com algumas estatuetas ancestrais, peças de colecionadores ao que podemos imaginar. As imagens das estatuetas se alternam com alguns mapas anatômicos humanos rabiscados com anotações, e finalmente evoluímos aos moradores do lugar, dois idosos que estão ansiosos e felizes por terem conseguido alguns cérebros no comércio. Isso mesmo: cérebros (e não temos certeza se eles são humanos, mas é inevitável suspeitar). Os cérebros são preparados em um prato bonito, ornamentados com algumas ervas e levados para alguém, ou alguma coisa, que não chegamos a identificar. A coisa — que deveria estar dentro da banheira do casal de idosos — sumiu, e pelo desespero (e bote desespero nisso) dos anfitriões, o desaparecimento parece preceder uma tragédia. A partir desse momento, nós precisamos, perdidamente, saber o que aconteceu.

brain damage

Enquanto o casal em desespero procura pelo “algo desaparecido” nas banheiras dos vizinhos do prédio onde moram, somos apresentados a Brian, que parece estar sendo arrebentado por algum tipo de doença. Exausto e pálido, Brian dispensa sua namorada para sair com seu irmão, a fim de se recuperar. E um segundo depois os anfitriões que compram cérebros por aí estão tendo sérios problemas de saúde também, convulsionando, espumando pela boca.

brain damage

Brian desperta novamente na cena seguinte, e nota um sangramento na parte de trás da cabeça. Ele sai da cama um pouco atordoado, se olha no espelho, e sofre alucinações por um período que pode ser de algumas horas. Quando volta a si, Brian tem um encontro com a “coisa que gosta de cérebros”, e ela pretende se tornar, vamos dizer dessa forma, um grande parceiro. A coisa que lembra um verme (mas tem olhinhos e uma boca cheia de dentinhos afiados) pode falar e ser bastante influente, e ela propõe a Brian uma vida de delícias, longe de preocupações, apenas um grande e contínuo mergulho em sua luz. Em troca, tudo o que Brian precisa oferecer são passeios pela cidade. Ainda não conhecemos Brian tão bem para fazer um julgamento justo, não sabemos se ele está em um estado alucinatório ou não, mas ele acaba topando o convite e permitindo que a coisa-verme lhe injete uma solução azul através de um ferrão, inserido na base do pescoço de Brian. Com o cérebro enxarcado de fluido de criatura-verme, Brian vê o mundo com os olhos dos deuses. Um mundo colorido, iluminado, e recheado de prazeres sensoriais. É bastante clara a analogia com as drogas alucinatórias, principalmente as injetáveis como a heroína, mas o filme passe longe de ser uma pregação, sendo fiel ao mundo estranho que foi construído para Brian. Inclusive é bastante inteligente o anagrama “Brian” e “Brain”, sendo que o cérebro acaba sendo uma peça fundamental dessa trama.

brain damage

Enquanto Brian se dedica exclusivamente ao seu amigo especial e a horas de imersão na banheira, seu relacionamento com sua namorada e seu irmão começa a descarrilhar, afinal de contas, com eles, a vida é apenas normal. Nada de luzes, nada de grandes insights, nada das maravilhas da terra alucinógena. A suspeita deles, claro, é que Brian esteja usando alguma (s) droga (s), ou se encontrando com outra pessoa, suposições que ele nega com veemência.

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Depois de desistir de recuperar seu relacionamento com a namorada, Brian abraça a vida louca e acaba em um inferninho chamado “Hell” (é isso mesmo, rs), e lá ele conhece uma garota que acaba se interessando por seu jeito divertido e completamente chapado. Não precisamos falar que o gore nesse filme é bastante usado e abusado, mas nessa cena, prepare os humores e o estômago, porque logo terá início uma das sequências mais ousadas do cinema de terror da época, o que rendeu a Brain Damage uma legião de adoradores e outra de odiadores (vocês irão entender quando apreciarem o espetáculo).

brain damage

Para evitar repetir a palavra “estranho”, esse é um filme bastante peculiar e, dadas as devidas proporções, poderia fazer coro com Basket Case (estejam atentos ao crossover), Night of the Creeps e até mesmo flertar com alguns clássicos do horror corporal do gigante David Cronenberg, ou Altered States de Ken Russel, ou filmes realistas como Trainspotting. Mesmo com a parte mais cômica, Brain Damage não deixa de ser um exercício criativo muito interessante, sobretudo pela mitologia acerca de “Coisinha Elmer” (que acaba sendo explicada em um momento oportuno do filme) e seus diálogos persuasivos. Também não podemos subestimar esse filme quanto à sua fração horror. Brain Damage contém cenas que farão você se arrepiar de dentro pra fora, farão você se contorcer, e se estivesse comendo alguma coisa, nem pense nisso! A correspondência vício-abstinência-recaídas também é fiel, o sofrimento, as alucinações, a ruína do corpo e dos sentidos. Com a devida indulgência e algum desapego, percebemos que essa produção é muito mais do que parece, e esconde códigos sociais e diferentes camadas de terror em suas cenas grotescas.

brain damage

Dirigido e escrito pelo espírito anárquico de Frank Henenlotter (que entre outras pérolas deu vida ao já citado Basket Case e suas sequências, olho no crossover!), Brain Damage não possui grandes atores ou atuações perfeitas, os efeitos são apenas razoáveis e a criatura é (propositalmente) bem pouco crível. Em contrapartida, para quem procura um filme inovador e perturbador em muitos sentidos, esse é daqueles pra ser colocado no topo da estante, bem longe das crianças. Se não acreditam em mim, é só experimentar. É só uma vez. Você pode dar play, curtir e apertar o stop assim que conseguir.

(se você conseguir)

brain damage

Vamos?

O trailer você confere aqui!

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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