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Bruxaria: Uma arte de desaprender

Esvaziar o copo para conseguir enchê-lo novamente

03/10/2022

Muito se fala sobre a bruxaria enquanto um caminho de grandes aprendizados. Eu concordo. A bruxa se constrói nos estudos e nas práticas diárias — por isso a importância de não restringir a validação somente a grandes rituais. A bruxaria pede de nós disposição para aprender mas, mais ainda, disposição para desaprender.

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Quando fazemos parte de um caminho por muito tempo, facilmente caímos naquelas armadilhas que sopram ao nosso ouvido: “você já sabe disso tudo”. E é exatamente aí que somos pegas com as calças na mão, como diria minha avó. Porque mais do que qualquer coisa, a bruxaria é uma arte da desaprendizagem.

O Manoel de Barros conjurou o feitiço: “desaprender oito horas por dia ensina os princípios”. A grande sacada, aquela que passa despercebida por nossos olhares complexados a uma ideia de superioridade intelectual, é que um copo cheio não te permite colocar mais nada nele. Por exemplo o tarô, algo que estudo há quase uma década. Se eu tivesse largado mão por saber interpretar as 78 cartas de acordo com UMA fonte, eu não seria a taróloga que sou. Seria, inclusive, bastante limitada.

bruxaria desaprender

Houve um tempo na minha vida que eu tinha pânico de não saber das coisas. Um misto de baixa autoestima e desinteresse que me levavam a um lugar de saber quase compulsório. Estudei muita coisa nessa minha vida, mas internalizei pouquíssimas. Não sabia a razão disso até me permitir — inconscientemente, lembrem da baixa autoestima — desaprender. E aí simplesmente aconteceu. Não decorei nada, tenho horror a decorar coisas, talvez por isso nunca aprendi as fórmulas da física. Eu internalizei tudo aquilo que vi, que li, que ouvi nos espaços de aprendizado. Menos a física, essa realmente ficou de lado – conscientemente, lembrem do desinteresse.

Aí eu comecei a perceber que o conhecimento pode ser, muitas vezes, parcial. Vejo pessoas dizendo que sou inteligente e percebo que, pode até ser, mas acho que sou mais alguém que estuda muito aquilo que gosta. Inteligente era meu pai. Falava de tudo e nunca ficava exatamente claro do que realmente gostava. Fazia aqueles caça-palavras de jornal, bebendo, em uma rapidez constrangedora para quem não misturava estudo e álcool acreditando que assim internalizaria melhor. Talvez decorasse, internalizar pede que o conhecimento desça redondo. Meu pai foi uma das pessoas mais sistemáticas que conheci, puxei esse troço dele, mas não consegui herdar o interesse estudantil diverso.

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Meu negócio sempre foi pro campo das artes e daquilo que diziam ser espiritual, inexplicável ou pecaminoso. Claro que daí para estudar tomando uma, foi um pulo. E escrever também. Mas eu dizia que havia puxado esse lado sistemático, né? Quando comecei a estudar bruxaria foi como se eu tivesse me desconectado do mundo. Meu repertório de conhecimentos gerais de 2013 pra cá é ínfimo. Mas se você falar dos livros, dos sites, dos blogs de bruxaria, eu provavelmente terei alguma experiência aprendida neles para compartilhar.

Devo ter estudado sobre história da bruxaria, roda do ano, magia natural, mitologias e demais tópicos bruxescos trocentas vezes. Sempre parecia ser a primeira vez. Algum princípio me deve ter sido ensinado nesse desaprender, não é? E naturalmente, a cada novo aprendizado — ainda que do mesmo tema — havia uma nova experiência. Porque a teoria e a prática sempre caminham juntas pra nós.

bruxaria desaprender

Bruxa, entenda: a sacerdotisa também é uma estudante. O culto também é uma escola. Os caminhos da bruxaria se fazem e refazem no momento em que transgredimos uma ideia engessada e colonial de saber. Porque a imagem que se vende da bruxa é uma figura muito sábia, mas isolada do mundo, numa cabana, com suas vestes surradas, em comunhão com a natureza e só.

Mas a bruxa, essa mulher muito sábia, nova e velha, de pijama e de terno, não se isola mais pois o seu poder é o conhecimento que a possibilita ocupar todos os lugares que quiser. Que a faz estar em comunhão com a natureza e com o sistema corporativo. Que escreve em grimórios e em planilhas financeiras. Que dirige rituais e empresas. A bruxa se atualiza, e essa atualização é e sempre será pelo viés do estudo. De aprender, desaprender, reaprender, ensinar. E de, a partir desses atravessamentos, criar a nossa própria prática.

bruxa ceo

A coleção Magicae, da DarkSide® Books, nos apresenta o Guia Mágico da Bruxa, de Mystic Dylan. O autor passa por diversos pontos importantes da prática da bruxaria e o livro cumpre a função, junto de outros títulos, como Diário Mágico e Ano Mágico, de um grande campo de ensinamentos sobre bruxaria e práticas mágicas. Este é, definitivamente, um livro presente na minha lista de desaprender — e espero que esteja presente na sua lista também.

O autor nos presenteia com uma possibilidade muito potente e importante para as bruxas: o auxílio na criação de suas próprias práticas. Mystic Dylan traça para nós um caminho que passa desde onde começar até a entrega do “bastão” que diz: você pode (e deve) criar os seus próprios rituais. Com correspondências mágicas de ervas, cores de velas, dias da semana, lunações e até podcasts e indicação de lojas de artigos de bruxaria, o livro me aproxima, inclusive, de Fernanda Young, escritora brasileira que, na ocasião da extinção do Ministério da Cultura, disse: “não está extinta a liberdade de criar”. E o Guia Mágico da Bruxa nos lembra disso.

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Sobre Bárbara Macedo

Avatar photoBárbara Macedo é uma travesti bruxa e makumbeira. Trabalha como oraculista, magista e mentora espiritual. Tem como enorme desejo auxiliar as pessoas a romper com os olhares binários acerca de sua própria espiritualidade e, consequentemente, visão de mundo. Pesquisa as relações entre a população da qual faz parte (travesti) e espiritualidade, com enfoque na bruxaria e na umbanda. Conheçam seu trabalho no instagram @barbara_macedo37.

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