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Casa de Folhas + 11 obras de literatura experimental

Livros que desafiam as maneiras com que contamos histórias

05/03/2024

A literatura é sempre um mundo de possibilidades onde a criatividade reina solta e nenhuma convenção é sagrada. Exemplo disso é o que chamamos de literatura experimental, estilo marcado por inovações no formato e suporte das histórias. É difícil definir exatamente o que é a literatura experimental, basicamente podemos resumi-la como novas formas de produção literária.

LEIA TAMBÉM: COMO CASA DE FOLHAS REDEFINIU O TERROR MODERNO

Quando publicado no ano 2000 por Mark Z. Danielewski, Casa de Folhas logo ganhou o título de clássico moderno do horror e da literatura experimental. Recém-chegada na DarkSide® Books, a obra, que tem a fama de ser uma das mais assustadoras já escritas, gira em torno de uma casa misteriosa que desafia as leis da física e todos aqueles que entram em contato com ela

Casa de Folhas poderia ser mais uma história de residência insólita, mas não é. Grande parte disso se deve pela maneira pela qual Danielewski construiu seu romance. Ao longo da leitura, encontramos experimentações formais com o texto, estilos de fontes, de prosa e cores diversas, além de páginas que contêm apenas palavras quebradas e outras que precisam ser invertidas para serem lidas. Tudo isso e muito mais tornou Casa de Folhas um dos grandes representantes da literatura experimental.

casa de folhas

É justamente pela dificuldade em definir esse estilo literário que é possível inserirmos várias obras diferentes que utilizam os mais diferentes tipos de experimentações e histórias. A Caveira separou algumas delas para você conhecer. 

1. A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy

Considerada uma das precursoras da literatura experimental, A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy foi publicada entre 1759 e 1767 pelo clérigo irlandês Laurence Sterne. Contando com nove volumes, a obra foi inspirada em Dom Quixote e funciona como uma biografia do personagem-título.

tristram shandy

Alguns dos motivos que fazem A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy ser associada à literatura experimental é o uso da técnica narrativa de fluxo de consciência. O narrador frequentemente interrompe a história para comentar os eventos e orientar o leitor em sua interpretação. Essas digressões constroem um enredo não tradicional e fragmentado, marcado pela variação de estilos. Laurence Sterne também utiliza de estratégias visuais e elementos gráficos para convidar o leitor a participar da obra, como páginas em branco, outras marmorizadas e uma completamente em preto para lamentar o falecimento de um personagem

2.  Moby Dick 

Um dos maiores clássicos da literatura, Moby Dick foi publicado em 1851 por Herman Melville. Detentor da fama de ser um dos mais estranhos e maravilhosos livros já escritos, o romance é narrado pelo marinheiro Ismael que conta a história da vingança do capitão Ahab, um marujo obcecado em capturar Moby Dick, a lendária baleia que arrancou sua perna.

moby dick
Copyright 2016 Divulgação/VEJA

Em Moby Dick, Melville incorpora uma ampla gama de gêneros literários, misturando aventura, tragédia e comédia com elementos do teatro, da narrativa épica e bíblica. O romance também é conhecido por sua estrutura não convencional. A aventura da viagem baleeira é combinada com digressões filosóficas e descrições enciclopédicas. Tudo isso empurra a história para além dos limites da narrativa tradicional. 

3. Memórias Póstumas de Brás Cubas

Considerado um divisor de águas na literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicado em 1881 por Machado de Assis, marcando o início do realismo no país. Extremamente inovador e audacioso, o livro é narrado pelo personagem-título, um “defunto autor”, que deseja escrever sua autobiografia após a morte. Logo no início, ele dedica suas memórias ao “verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver”.

machado de assis

Memórias Póstumas de Brás Cubas rompe com a narrativa linear que era comum na época, sendo marcado por digressões do personagem e variação de estilos, o que em um primeiro momento causou estranheza nos leitores e na própria crítica especializada da época. Marcado pela ironia, intertextualidade e uso da metalinguagem, o romance convida o leitor a preencher alguns vazios da história. Um bom exemplo disso são os dois capítulos experimentais do livro onde o autor apresenta os diálogos como pontilhados, trocando as letras por pontos.

4. Alice no País das Maravilhas

Publicado em 1865 por Lewis Carroll, pseudônimo do autor britânico Charles Lutwidge Dodgson, Alice no País das Maravilhas narra as aventuras da personagem título, que atravessa uma toca de coelho e é transportada para um mundo de fantasia habitado por peculiares criaturas antropomórficas. 

alice no país das maravilhas

Assim como sua continuação, intitulada de Alice Através do Espelho, a obra de Carroll é repleta de brincadeiras linguísticas, neologismos, trocadilhos e paródias. A história utiliza muito a lógica do absurdo, característica das narrativas oníricas. Além disso, o clássico é povoado por enigmas linguísticos e matemáticos que incitam o uso da lógica por parte do leitor. 

LEIA TAMBÉM: COMO ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS INFLUENCIOU A CULTURA POP

5. Os contos de Jorge Luis Borges

Célebre autor argentino, Jorge Luis Borges ficou conhecido principalmente por suas coletâneas de histórias curtas, como Ficções e O Aleph. Grande representante da literatura fantástica, Borges costumava abordar temas como filosofia, metafísica, mitologia e teologia em enredos ambientados em sonhos, labirintos lógicos, espelhos e bibliotecas mágicas. 

jorge luis borges

Suas obras são marcadas pelas jogos de linguagem, assim como pela presença de inúmeras referências inventadas e multiplicidade de idiomas, como é o caso dos contos “A Biblioteca de Babel”, publicado em 1944, e “Tiön, Uqbar, Orbis Tertius”, publicado pela primeira vez em 1940. 

6. Caligramas

Com obras que promoviam uma ruptura estética e incitavam inovações formais, o artista e escritor francês Guillaume Apollinaire ficou conhecido como um dos precursores da chamada poesia visual. Em Caligramas, coleção de poemas publicada pela primeira vez em 1918, o autor utiliza a diagramação experimental para criar poemas cujas letras formam imagens, partindo dos princípios de caligrafia e ideograma. 

guillaume apollinaire

Em Caligramas, o tipo de fonte e o arranjo espacial das palavras e letras em cada página são tão importantes para o significado da obra quanto a própria poesia, convidando o leitor a dialogar com tudo que está no papel. Esse tipo de experimentação, a qual aparece também em Casa de Folhas, ganhou a nomenclatura caligrama justamente pelo legado de Apollinaire, pioneiro nesse estilo. 

7. Ulysses e Finnegans Wake

Publicadas, respectivamente, em 1922 e 1939, tanto Ulysses quanto Finnegans Wake do autor irlandês James Joyce são consideradas marcos da literatura experimental. Em Ulysses, Joyce estabelece uma série de paralelos e correspondências estruturais entre sua história e o poema épico de Homero, A Odisseia, narrando a rotina de um homem durante um dia na cidade de Dublin. A narrativa de Ulysses utiliza a técnica de fluxo de consciência, além de uma prosa experimental recheada de trocadilhos, paródias e alusões. 

finnegans wake

Já em Finnegans Wake, Joyce utiliza uma estrutura não linear, mas “esférica”, para contar histórias centradas na família Earwicker. Considerada uma das obras mais difíceis de todos os tempos, em Finnegans Wake encontramos as chamadas palavras-valise (formadas por aglutinação de termos e idiomas), inúmeros neologismos e trocadilhos, além da variação de estilos e gêneros literários. 

8. Orlando 

Obra-prima da escritora britânica Virginia Woolf, Orlando é um dos romances mais fascinantes do século XX. Na narrativa, acompanhamos o desenvolvimento do jovem Orlando, um aristocrata que vive uma vida abastada na Inglaterra do século XVI. Tudo muda quando, durante uma viagem a Constantinopla, ele acorda no corpo de uma mulher.

orlando

Emulando uma biografia, Woolf nos leva por quase quatro séculos de história, atravessando as fronteiras de gênero, tempo e identidade. Assim como seus outros romances, Orlando é altamente experimental, marcado pelo fluxo de consciência dos personagens e pelo emprego do tempo enquanto uma variante literária e estilística. 

9. Grande Sertão: Veredas 

Clássico da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas é um romance escrito pelo autor Guimarães Rosa e publicado em 1956. Ambientada no sertão brasileiro, a obra gira em torno do jagunço Riobaldo, cuja história é marcada pelo relacionamento com Diadorim e um suposto pacto com o demônio. 

grande sertão veredas

Grande Sertão: Veredas é uma das grandes obras experimentais brasileiras. Construída de forma não linear, a narrativa é marcada pelo fluxo de consciência do narrador-protagonista. Justamente por isso, não possui capítulos formais, sendo organizado como um monólogo do personagem e marcado por neologismos e desconstruções da língua português. 

10. Zettel’s Traum

Publicado em 1970 pelo alemão Arno Schmidt, Zettel’s Traum foi inspirado em Finnegans Wake de James Joyce e surgiu enquanto o próprio autor trabalhava na tradução de obras de Edgar Allan Poe para o alemão. 

zettels traum

A história, centrada em personagens discutindo o trabalho de tradução de livros de Edgar Allan, é uma jornada por mundos literários, sendo marcada pela exploração de sonhos e desejos dos personagens. Em Zettel’s Traum, Schmidt faz uso do fluxo de consciência, assim como aplica uma diagramação experimental, de forma que diversas características tipográficas alteram o fluxo usual do texto.

11. O Massacre de Kruguer 

O Massacre de Kruguer é uma obra publicada em 2019 pelo escritor argentino Luciano Lamberti, considerado um dos expoentes da literatura de horror no país. O livro conta a história de uma pequena aldeia na montanha de Kruguer, onde anualmente é realizada a Festa da Neve, um festival que visa arrecadar dinheiro para a chegada do verão e atrai turistas com danças típicas, comidas e bebidas. No entanto, algo estranho acontece na celebração de 1987 quando quase toda a população local é assassinada. 

massacre de krueger

Finalista de prêmios literários, O Massacre de Kruguer é um exemplo da experimentação do autor com o formato da obra. Lamberti varia entre estilos e gêneros, construindo uma narrativa que mistura entrevistas documentais e ficção, entregando ao fim uma história de pesadelo e loucura.  

Casa de Folhas: Um clássico da literatura experimental

É praticamente impossível falar de literatura experimental sem mencionar Casa de Folhas. Considerado uma das maiores obras desse estilo, o livro de Mark Z. Danielewski combina a narrativa de horror com a escrita acadêmica e experimentações tipográficas. A história envolvente e o formato único transformaram Casa de Folhas em uma sensação literária que inspira até hoje pesquisas, lendas urbanas e músicas. 

Assim como as obras da nossa lista, em Casa de Folhas as experimentações servem para construir a narrativa, dialogando e aprofundando a história e os personagens. Tudo isso contribui para uma leitura intensa e perturbadora que deixa sua marca no leitor que decide se aventurar por essa jornada. 

casa de folhas e filmes found footage

A boa notícia é que agora você também pode embarcar nessa experiência única. Após anos de pedidos de leitores curiosos, a Caveira aceitou o desafio e transportou as experimentação estilistas e artísticas do livro para a língua portuguesa. Casa de Folhas chega aos DarkSiders em uma edição limitada e colorida que mostra toda a riqueza da literatura experimental. 

LEIA TAMBÉM: POR QUE CASA DE FOLHAS É TÃO DIFÍCIL DE ADAPTAR?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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