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DarkBlog entrevista Kim Henkel, de O Massacre da Serra Elétrica

Roteirista fala sobre influências para o filme e evolução do terror

16/02/2023

Já se passaram quase cinquenta anos desde que Leatherface e seu clã macabro aterrorizaram um grupo de jovens no escaldante interior do Texas, mas o legado de O Massacre da Serra Elétrica para o cinema de terror permanece irretocável. 

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O clássico retorna aos cinemas brasileiros a partir deste 16 de fevereiro em cópias restauradas através da Synapse Distribution. Uma oportunidade única de reviver o terror enervante do longa como se o estivesse assistindo pela primeira vez e também de apresentá-lo às novas gerações.

Em comemoração ao retorno do Leatherface original aos cinemas, a Caveira conversou com o seu criador: Kim Henkel, que escreveu o roteiro do filme de 1974 em parceria com o diretor Tobe Hooper. Ele falou ao DarkBlog sobre as principais influências para o filme, a evolução do terror e a importância de sempre colocar as vítimas e sobreviventes no centro das histórias de terror. Confira essa conversa com exclusividade:

DarkBlog: Após quase cinquenta anos, O Massacre da Serra Elétrica está de volta às telonas. Não há dúvidas de que o filme sobreviveu ao teste do tempo, mas na sua opinião, de que maneira ele ainda fala com o público atual?

Kim Henkel: Isso vai ser interessante de ver, não é mesmo? Eu estive em algumas convenções de terror e o público parece ser eternamente jovem. Parece que o terror atrai geração após geração. Então, apesar da diferença de cinquenta anos, parece que ele ainda mexe com algumas emoções, e tomara que isso aconteça porque ele mexe com emoções fundamentais em nós, daquelas que mexem conosco através das gerações.

D: O Massacre da Serra Elétrica é uma grande influência no gênero de terror e em alguns de seus subgêneros, principalmente o slasher. Quando você estava escrevendo o roteiro, pretendia seguir alguma tradição específica do terror ou já pensava em inovar?

KH: Bom, para ser sincero, a nossa inexperiência e inocência foram um bônus para nós, além do fato de que não estávamos trabalhando na indústria mainstream. Então não estávamos cercados por influências ou por todo aquele processo homogêneo que ocorre na indústria. Estávamos por conta própria, com nossos próprios equipamentos no Texas selvagem, cozinhando uma história que sentíamos que gostaríamos de pagar para assistir. Era isso o que estávamos fazendo.

D: Norman Bates e Leatherface compartilham a mesma inspiração real: Ed Gein. É bem interessante essa mudança que ocorreu nos anos 1960, quando o terror se tornou mais cultural do que sobrenatural. No entanto, em vários aspectos, Psicose trata mais do medo da mente, enquanto O Massacre da Serra Elétrica parece se aprofundar no medo da morte. Leatherface é essa força incontrolável com a qual não se pode negociar, um tipo mais assustador de assassino que é mais corporal do que intelectual. Como você se deparou com a história de Ed Gein e como isso tornou Leatherface esse monstro impressionante?

KH: Nós tínhamos um dilema fundamental ao criar a história, que você mencionou como essa mudança do sobrenatural para o real. Isso realmente surgiu quando Tobe [Hooper] e eu estávamos conversando a respeito e focamos em nos distanciar da ideia de que exista algo tão assustador quanto nós mesmos. Que a coisa mais assustadora no planeta é outro homem ou mulher, e do que somos capazes de fazer ao próximo. Queríamos nos firmar basicamente nisso: um adversário bem real. Isso foi algo crucial no nosso processo de criação e seguimos nessa direção. Acabamos incorporando, é claro, alguns elementos que foram além disso, obviamente, como o material astrológico, a ideia de que o universo estava conspirando contra. Havia essa sensação de que, apesar de que todos os personagens que estavam fazendo algo mau eram humanos, havia forças além deles que estavam arquitetando isso.

Kim Henkel

D: O filme resume os Estados Unidos dos anos 1970 de uma maneira muito poderosa. A sua violência aleatória e repentina deve ter repercutido com as audiências, que estavam absorvendo os assassinatos políticos dos anos 1960, a ascensão e queda de Richard Nixon, incluindo o caso Watergate, a guerra no Vietnã, o embargo do petróleo… Esse subtexto cultural, político e até mesmo econômico foi de alguma maneira enfatizado no seu roteiro ou foi inevitável que o espírito daquela época se infiltrasse na história?

KH: Os dois, é claro. Se você ouvir ao rádio no fundo, as notícias são fictícias, mas nós as criamos graças à ajuda de um amigo meu que estava trabalhando em um canal local de televisão e conseguiu para mim os informativos da Associated Press e outras agências de notícias. Nós imitamos o formato deles, mas o conteúdo foi retirado da nossa imaginação. Mas, é claro, aquilo também foi inspirado pelo que estava acontecendo na época, como você mencionou. Outra transição importante: aquela foi a primeira vez que vimos incentivo para algo além de carros norte-americanos nas estradas. Até então, todos os carros que você via na rua — com algumas exceções — eram em sua maioria norte-americanos. Foi uma época de enorme agitação e transformação, então o espírito daqueles tempos certamente contribuiu.

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D: Certa vez um estudioso de cinema disse que O Massacre da Serra Elétrica era “um filme sobre carne”. Ao longo do roteiro não há apenas referências a abatedouros, mas um dos aspectos mais brilhantes do filme é ver pessoas sendo manuseadas como animais e tratadas como comida. Você retornou a essa premissa onze anos atrás em Butcher Boys. Poderia nos contar um pouco mais sobre as inspirações para esse tema específico nos dois filmes?

KH: Aquela foi uma época diferente, você não podia lidar com canibalismo em um filme ou você teria uma classificação indicativa somente para maiores de idade. Por isso, se você observar, em O Massacre da Serra Elétrica a palavra “canibalismo” nunca é mencionada, você não vê ninguém comendo algo que lembre carne humana, qualquer menção a canibalismo é meramente sugestiva. Com Butcher Boys, aquilo surgiu de uma época da minha vida que eu nem sei o que falar a respeito. O que eu quis fazer foi tentar forçar aquilo a um ponto que fosse simplesmente horrivelmente transgressor. Em Butcher Boys aquilo foi tratado quase como um vício.

D: Desde o lançamento original de O Massacre da Serra Elétrica, várias tendências de terror se criaram a partir do seu legado, desde o folk horror aos splatters, passando pelos slashers, perseguidores, found footage e até mesmo narrativas de true crime, que estão bem populares atualmente. Como você observa essa evolução do terror? Tem algum filme atual entre os seus preferidos?

KH: Tem sido uma evolução interessante. Gosto de alguns aspectos, de outros nem tanto, mas é apenas uma questão de gosto. De modo geral, diria que para mim, enquanto indivíduo, o terror não é a minha principal escolha na hora de assistir algo. Realmente gosto de algumas obras bem específicas, sem contar que o que se considera terror ou não hoje em dia é bem subjetivo. Mas vou mencionar dois filmes recentes. Um deles é X: A Marca da Morte, de Ti West. Acho que foi uma abordagem bem interessante, tem seus problemas em alguns aspectos da história, mas algo que me chamou a atenção foi o investimento do público nos personagens principais conforme a história avançava. Porque a história era sobre eles, eles eram as vítimas do que aconteceu. Eu vi muita mudança nesse sentido, e acho que O Massacre da Serra Elétrica é um pouco responsável, pois as pessoas começaram a ficar tão fascinadas pelos vilões que há a tendência de querer fazer as histórias serem sobre eles. Mas a história não é sobre eles. Quando estamos diante de uma história que é sobre eles, daí sim temos um problema, pelo menos do meu ponto de vista. O outro filme que eu quero mencionar é Red Rocket, mas não sei se é possível chamá-lo de filme de terror. Para mim, esse tipo de filme independente — bem pessoal, único e que mexe com certas coisas da nossa psique — é o tipo de produção que o sistema de estúdios, um processo industrial, tem muita dificuldade em reproduzir. Há poucos diretores com esse tipo de influência, que conseguem fazer os filmes que realmente querem, mas é um negócio bem complicado. Fazer esses filmes pode ser muito, muito difícil.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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2 Comentários

  • Joyce Gabrielly @joy.barb

    18 de fevereiro de 2023 às 14:28

    Cara que de maaaaaais, O massacre com certeza foi um dos primeiros filmes que me fizeram a se apaixonar por terror. Adorei a entrevista

  • Milton Marcos

    26 de fevereiro de 2023 às 02:24

    Claro que ele ia gostar de X! Sempre que mostrava a entrada da casa dos velhinhos, parecia que o Leatherface ia aparecer a qualquer momento!

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