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Crime SceneEntrevista

Predador Americano: autora levou seis anos e gastou 30 mil dólares para investigar Israel Keyes

Leia entrevista com Maureen Callahan

28/05/2024

Como jornalista e fã do ofício, adoro ler livros escritos pelos meus colegas.  Pois Maureen Callahan chamou minha atenção pela primeira vez com Champagne Supernovas, de 2014. Não só pelo título aludir a uma das músicas mais bonitas da minha banda preferida, mas pelo livro contar de forma envolvente como os britânicos Kate Moss, Marc Jacobs e Alexander McQueen (1969-2010) revolucionaram a moda como “rebeldes dos anos 1990”.

LEIA TAMBÉM: ISRAEL KEYES: CURIOSIDADES MACABRAS DO PREDADOR AMERICANO

Por isso, ao saber que a jornalista, escritora e colunista com passagens por veículos renomados como New York Post, Spin, New York Magazine e Vanity Fair havia lançado um livro sobre um serial killer pouco conhecido, corri para ler. 

Predador Americano, aqui da DarkSide® Books, se debruça sobre a vida e a “obra” de Israel Keyes em uma investigação impressionante, que custou a Maureen seis anos e mais de 30 mil dólares. A apuração soa ainda mais grandiosa por vir de alguém que, como eu, se especializou em cultura pop, moda e estilo de vida, trabalhando bem longe das páginas policiais. 

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Pois Predador Americano é um true crime com T maiúsculo, no sentido mais puro e envolvente do polêmico gênero. Abaixo, você lê minha conversa com a autora.

Liv Brandão: Em seu perfil no site da Penguin Random House, sua editora original, você é descrita como uma jornalista que cobre de tudo, desde cultura pop até política. Israel Keyes foi seu assunto mais desafiador até agora?

Maureen Callahan: Sim! Levei seis anos neste relato. Assim que comecei a apuração, ficou claro que o FBI e o promotor federal encarregado do caso haviam encoberto muitas coisas. Acabei descobrindo que centenas de documentos do caso haviam desaparecido de alguma forma e nunca foram registrados em nenhum lugar do tribunal ou do Bureau. Levei mais alguns anos e gastei 30 mil dólares do meu próprio bolso para processar no tribunal federal. A audiência durou cerca de cinco minutos e o juiz basicamente disse: “Dê os documentos a ela”.

LB: O que atraiu você para a história de Israel Keyes?

MC: O true crime — o crime verdadeiro muito bem contado — sempre foi uma obsessão minha. Pelo menos nos Estados Unidos, o true crime foi, durante muito tempo, considerado um gênero inferior. E eu nunca entendi isso. Mas não há dúvida de que a narrativa, especialmente no espaço documental, tornou-se muito mais sofisticada com o passar dos anos.

LB: Você se lembra de como ouviu falar de Israel Keyes pela primeira vez?

MC: Claro! Eu estava entediada no trabalho (eu era redatora do The New York Post), procurando por algo de interesse, e me deparei com uma reportagem com a manchete: “Este é o serial killer mais meticuloso de todos os tempos?” 

O segundo parágrafo descrevia um modus operandi sem precedentes, Keyes voando de sua casa no Alasca para uma grande cidade dos EUA, depois alugando um carro e dirigindo centenas de quilômetros — com celular quebrado, usando apenas dinheiro — encontrando suas vítimas, sequestrando, torturando e matando as pessoas e, em seguida, movendo os corpos para outro estado onde nunca seriam encontrados. 

Ah, e que ele tinha “kits da morte” cheios de armas, cordas, pás e dinheiro enterrados por todos os Estados Unidos. O FBI disse que nunca tinha visto um serial killer como ele antes, eles ficaram apavorados. Eu sabia que seria um livro incrível e tinha medo que outra pessoa tivesse a mesma ideia que eu.

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LB: Como foi seu processo de escrita em Predador Americano?

MC: Era muito importante manter duas coisas em mente: nunca me maravilhar com a forma como Keyes conseguiu sobreviver durante tanto tempo, ou com o quão engenhosa era a sua metodologia. Há muito disso em muitas coberturas de casos como esses, uma espécie de adoração ao anti-herói, por assim dizer.

Acima de tudo estava a representação de suas vítimas no livro. Era meu trabalho garantir que a dignidade delas permanecesse intacta. Há muitos detalhes que as autoridades me contaram conhecer e que deixei de fora. Ficaram apenas informações específicas que seriam úteis para a resolução de outros casos ligados a Keyes, ou que poderiam ser utilizadas na elucidação desses casos específicos.

LB: Quais foram as entrevistas mais marcantes que você fez para Predador Americano?

MC: Adorei conversar com os agentes especiais do FBI sobre a maneira como eles traçam estratégias e extraem confissões quando não têm nenhuma evidência física de um caso, como fizeram com Keyes. Eles também se abriram comigo sobre o custo humano de fazer um trabalho como este, onde você vê o pior da humanidade — se é que é possível chamar Keyes de humano, o que eu não acho que seja — e o trauma que vem com isso.

Também foi fascinante conversar com a mãe de Keyes, Heidi, que nunca deu uma entrevista antes ou depois do livro. Ela realmente contou muito sobre a educação de seu filho e foi muito honesta ao dizer que acreditava que ele era culpado. Ela me disse que acreditava saber o momento em que ele matou alguém pela primeira vez, o que seria anterior ao que o FBI descobriu.

LB: A maioria dos serial killers quer ser reconhecida pela destruição que causa, mas Israel Keyes não queria tal exposição por causa de sua filha. O que você pensou quando soube disso?

MC: Que ele era um psicopata e narcisista que não deveria ter se tornado um serial killer se essa fosse realmente sua principal preocupação.

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LB: Você teve algum contato com a filha de Israel Keyes?

MC: Não, não a mencionei no livro porque ela era uma criança e uma verdadeira inocente. Entrei em contato com a mãe dela antes da publicação do livro para avisá-la, porque as redes sociais têm vida própria.

LB: Em Predador Americano, você chama Keyes de “um novo tipo de monstro”. O que você quis dizer com isso?

MC: Simplesmente que o FBI disse que nunca tinha visto um assassino com este modus operandi antes: sem perfil de vítima ou área geográfica de interesse. Keyes levou quem pôde: jovens ou velhos, ricos ou pobres, magros ou gordos, solteiros ou casais, caminhantes ou pessoas dormindo na ostensiva segurança de suas próprias casas suburbanas.

LB: Em Predador Americano, você mencionou que Keyes tinha uma pequena biblioteca em casa com vários livros de ficção e não ficção sobre outros serial killers. Você acha que ele aprendeu com esses livros?

MC: Keyes admitiu isso em seus interrogatórios. Ele realmente adorava insultar o FBI e disse-lhes que, se realmente quisessem descobrir como ele ficou assim, não precisariam ir além dos seus próprios analistas comportamentais que escreveram livros para as massas. Mindhunter, de John Douglas, foi algo que ele leu quando adolescente e foi a primeira vez, disse ele, que soube que não estava sozinho. O efeito CSI é bem conhecido pelas autoridades policiais — uma ferramenta da cultura popular que tem o infeliz subproduto de educar os criminosos.

LEIA TAMBÉM: PREDADOR AMERICANO: A PERTURBADORA LIGAÇÃO DO CASO COM TED BUNDY

Sobre Liv Brandão

Avatar photoJornalista, criadora de conteúdo e roteirista. Passou por veículos como O Globo e UOL sempre falando de cultura e entretenimento. É especialista em séries de TV, mas também fala de filmes, música, literatura e o que mais vier.

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