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Evil Dead: O mal que nunca morre

Repugnante, maldito, traumatizante e… inesquecível

21/04/2023

Para entender o motivo de algumas produções do passado terem se tornado icônicas e lendárias precisamos ir fundo, e isso significa muitas vezes contextualizar, deixar nosso lado crítico e azedo de lado e mergulhar no lodo abissal das mentes criativas originais. Indo mais além: precisamos entender o momento preciso em que essas mentes explodiram.

LEIA TAMBÉM: EVIL DEAD: A FRANQUIA MAIS GROOVY DO HORROR

Em um passado não tão distante, alguns bons filmes de terror demoravam alguns anos para chegar às videolocadoras do Brasil, e muitos deles, levando em conta o volume absurdo de produções do gênero a partir de 1980, sequer chegavam às prateleiras. Além da espera, havia também outra espécie de fenômeno, esse bem mais interessante, que colocava alguns título na fila de interesse bem antes da possibilidade de uma locação. Foi o que aconteceu com Evil Dead, que fez sua premiere nos cinemas americanos em 1981 e só chegou na Firestar na década de 1990.

evil dead

E de repente todos estavam falando daquele filme terrível. Segundo muitos, um filme nojento, repugnante, maldito, traumatizante e… inesquecível. Sabemos que Evil Dead se tornou um blockbuster em muitos lugares, mas você já parou para se perguntar por qual motivo? Por quais motivos? Dentro do muito que já foi falado, vou deixar aqui minha pequena oferenda, focando no primeiro filme que foi o responsável por redefinir o gênero. Vamos começar com uma pequena palavra: aura.

Para começo de conversa, o primeiro Evil Dead leva o terror a sério como poucos filmes anteriores ou posteriores. Inclua nessa lista O Exorcista, A Profecia e A Noite dos Mortos-Vivos do paizão Romero. O espectador de Evil Dead recebe aqui e ali alguns acenos de comédia, mas é nítida a intenção de Sam Raimi em se manter fiel aos pilares traumáticos do horror. O começo do filme é um bom exemplo, e mesmo as cenas mais “felizes” nos deixam imediatamente inseguros. Existe certo exagero, inclusive na canção feliz-nada-feliz que os amigos entoam dentro do veloz Oldsmobile Delta88. A música, “Word Back Here”, foi composta por um amigo de Sam Raimi, Bruce Reynolds, e fala sobre abandono e amargura. Em um trecho a canção se diz: “Eu sei que você saiu sem se despedir, que você passeou pelo campo; você deveria ter ouvido aquela pobre garota chorar”.

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Então o quase acidente acontece, e o motorista, Scott (interpretado por Richard DeManincor), alega que o volante foi puxado.

Logo depois, o carro passa buzinando por duas pessoas, e não conseguimos ver perfeitamente do que se trata, mas existe algo estranho permeando a sequência. Em um primeiro olhar, uma das pessoas tem a roupa suja e está cabisbaixa, parece ser refém da segunda (na verdade os dois são Robert Tapert — Boné Vermelho — e Sam Raimi, de Camisa Branca, fazendo uma aparição Hitchcockiana no filme).

sam raimi evil dead

O temperamento perigoso na tela segue crescente, e devemos boa parte da nossa paranoia aos movimentos de câmera propostos pelo diretor. Em Evil Dead muitas tomadas são intrusivas, e nos sentimos espionando os atores, em vez de estamos observando sua atuação. A câmera caminha, treme, sobre e desce, vai e volta. A câmera em si é uma entidade consciente.

A aura sombria se instala de vez quando encontramos o casebre, o rancho que foi emprestado aos amigos para um fim de semana irresponsável (diz a lenda que a casinha em ruínas era assombrada de verdade, e que ficou desabitada por 40 anos depois de mortes inexplicáveis e outras aparições). Dessa parte do filme em diante a atmosfera de horror que está sendo impressa começa a desafiar nossa lógica. O efeito que cada cena nos causa (principalmente se assistirmos o filme à noite ou de madrugada) é difícil de ser explicado, e a verdade é que Evil Dead é perturbador muito antes da primeira possessão acontecer e da possuída ser atirada no porão.

evil dead

Com nove minutos de filme já estamos reféns do medo. A inteligência nos cortes de cena de Sam Raimi é impressionante, e quando mudamos de uma visita ao porão para um liquidificador com um suco que parece sangue somos subliminarmente avisados do que está por vir. Dentro da casa, os sons da floresta continuam presentes, e assim como o grupo, nós, espectadores, nos sentimos vulneráveis como se estivéssemos do lado de fora. Ouvimos os gafanhotos, o assovio do vento, as folhas das árvores se agitando e o coaxar dos sapos. Sentimos nosso medo ancestral da noite nos invadindo sem piedade.

Os efeitos práticos são econômicos, podemos ver de longe, mas mesmo essa impossibilidade de ser crível é insuficiente para nos devolver à segurança da realidade. Evil Dead não pede permissão para exibir a magia do cinema, ele nos enfeitiça. Elementos Lovecraftianos, sobreposição e distorção de vozes, sangue e fluidos e coisas nojentas e repugnantes que só depois descobriríamos serem inofensivas como massinha de modelar e leite. 

evil dead

Ainda no início, o filme ousa uma possessão carnal no melhor estilo A Entidade, mas quem possui sexualmente a vítima é a própria floresta. Nas palavras da personagem Cheryl Williams “não foi alguma coisa na floresta, foi a floresta!”. Desse ponto em diante seguimos para o esplendor do trash horror e para a beleza vermelha do gore. Existe tanta violência em Evil Dead que terminamos anestesiados, mas também caberia dizer dopados ou nocauteados. O nível de violência nas mortes até hoje é considerado assombroso.

Bruce Campbell, que deu vida, e quase-morte, e vida eterna ao herói por acidente Ash Williams, começa o filme como um rapaz inocente, quase simplório e abobado demais, principalmente para os padrões atuais. Ash termina como um sobrevivente de guerra, e existe tanto sangue e fluidos nele que mal conseguimos enxergar seu rosto.

ash evil dead

Aqui no Brasil, Evil Dead acabou sendo batizado de Uma Noite Alucinante: A morte do Demônio, e por anos muitos o título foi considerado um erro grotesco. Hoje em dia, com uma capacidade de análise razoável e a experimentação de dezenas de títulos de horror, arrisco dizer que não foi um equívoco tão grande assim. Evil Dead segue sendo um filme alucinante, hipnótico e profano, algo que vem se repetindo nas reintroduções da franquia: Evil Dead 2 (1987), Army Of Darkness (1992), o homônimo Evil Dead (2013) e a série Ash Vs Evil Dead (2015).

Falando em sequências, mesmo o primeiro Evil Dead acabou sendo uma expansão de uma ideia original de Sam Raimi, o curta Within the Woods, que funcionou muito bem como isca ao fisgar 90 mil dólares (uma pechincha) para rodar o filme. Mais bastidores e curiosidades vocês encontram aqui nessa matéria da Macabra, e no livro completaço da Caveira (recomendo DEMAIS), e já adianto que os atores e a equipe passaram um verdadeiro inferno para concluir o filme. As sequências diretas, o longa de 2013 e a série centrada no fenômeno cult Ahs Williams são mais que indicadas, embora o humor em algumas passagens continue irritando alguns fãs do gênero (e pra que serviria o próprio horror senão pudesse incomodar ninguém, né minha filha?).

evil dead 2013

E adivinhem só, saindo do forno, temos mais uma investida do mal que nunca morre, dessa vez sob o título Evil Dead Rise (A Morte do Demônio: A Ascensão), e com direção de Lee Cronin. As primeiras críticas estão classificando o filme como “perturbador, intenso, agonizante e com níveis absurdos de vísceras”, e Bruce Campbell disse umas boas para um espectador azedinho em uma das exibições. Bem, mesmo não esperando encontrar algo tão mentalmente devastador quanto o primeiro filme, o título já vale meu ingresso. A verdade nua e crua é que nas raras vezes que um filme mapeia um gênero, é muito difícil repetir a dose, mas me parece mais sábio deixar que as novas audiências tirem suas próprias conclusões.

evil dead

Se eu vou assistir? Claro que sim.

“Junte-se a nós! Junte-se a nós! Junte-se a nós!”

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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