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Frankenstein na cultura pop

A Criatura e sua história permanecem muito vivas na atualidade

27/04/2023

A cultura pop é povoada por monstros icônicos que há muito conquistaram nossos corações trevosos. Vampiros, lobisomens, bruxas… a lista é longa, variada e macabra. Apesar de todos nós termos nossa criatura favorita, é inegável que entre elas há uma que redefiniu nossa noção de monstruosidade: o monstro de Frankenstein.  

LEIA TAMBÉM: MARY SHELLEY, CRIADORA DE FRANKENSTEIN, ETERNIZOU O NOSSO MEDO DO DESCONHECIDO

Criada há mais de dois séculos por Mary Shelley, a Criatura e sua história ainda permanecem muito vivas na atualidade. O livro de Shelley tornou-se um marco na história do horror, adentrando na cultura pop e povoando nosso imaginário coletivo. A fama de Frankenstein é tanta que até mesmo aqueles que não gostam do gênero já ouviram falar dele. A trama de Mary Shelley mudou para sempre a história da literatura, do horror e da ficção científica. 

Victor Frankenstein e seu famoso Monstro entraram no teatro no século XIX e chegaram ao cinema pela primeira vez em 1910 em um curta produzido pela Edison Studios. Foi o suficiente para nunca mais saírem de vista, influenciando inúmeras outras obras e personagens, alcançando um lugar cativo na cultura dos séculos XX e XXI. A fama do Monstro cresceu (e continua crescendo!) e ele se transformou em um dos seres mais reconhecíveis da cultura pop. Não é à toa que o aniversário de Mary Shelley, 30 de agosto, foi declarado oficialmente como o Dia de Frankenstein. Tudo em homenagem ao monstrengo que mudou nossa definição de horror. 

Frankenstein e suas primeiras incursões na cultura pop

A obra de Shelley é tão famosa que é difícil não estar familiarizado com ela: Victor Frankenstein é um cientista que dedica todos os seus esforços para descobrir como reanimar tecidos mortos e gerar vida. Tudo por meio de experimentos pouco ortodoxos e moralmente questionáveis, é claro. Quando ele enfim obtém sucesso, o resultado está longe do esperado e sua criatura é tão abjeta que seu próprio criador a rejeita como uma aberração. As coisas não são tão simples e o Monstro ganha consciência e desejo de pertencer ao mundo, fazendo com que o ressentimento que sente por seu criador aumente progressivamente, chegando em um desfecho dramático

Mary Shelley lançou Frankenstein anonimamente em 1818, revelando seu nome apenas na segunda edição de 1821. Embora hoje estejamos acostumados com histórias de cientistas malucos, criaturas vingativas e monstros cuja existência vão contra as leis da natureza, naquela época isso não era tão comum e a obra foi um sucesso, levantando questões como humanidade, limites da ciência e responsabilidade

Não é de se espantar que a obra tenha sido adaptada para diferentes meios, sendo no cinema onde encontrou seu maior impacto cultural. Foi em 1931, em um filme da Universal Pictures dirigido por James Whale, que Frankenstein entrou de vez na cultura pop, em um filme homônimo protagonizado por Boris Karloff como o icônico Monstro. Depois disso as coisas nunca mais seriam as mesmas. 

frankenstein boris karloff

O visual de Karloff, a pele costurada (que ainda não era verde, afinal o filme foi originalmente exibido em preto e branco), os parafusos de metal atravessando o pescoço, a cabeça achatada e o corpo grande e pesado, moldou a percepção moderna do Monstro de Frankenstein e se cristalizou como seu exemplo mais lembrado. 

Diferentemente da descrição feita por sua criadora, Mary Shelley, o Monstro de Boris Karloff tem mais dificuldade em se expressar e é significativamente menos inteligente para tramar uma grande vingança. Ele possui menos raiva de seu criador e é mais incompreendido, de forma que o horror do filme, diferentemente do livro, advém muito mais de suas potenciais explosões de violência. Embora o pôster de 1931 tentasse indicar que Frankenstein era o cientista, não deu outra e a partir disso o monstro ficou popularmente conhecido como Frankenstein

Ao lado de Drácula, lançado naquele mesmo ano, Frankenstein se tornou um dos primeiros filmes de horror da era sonora do cinema. Inclusive, muito se fala que o próprio termo “filme de horror” foi criado após críticos terem assistido a essas duas obras. Mas não foi só isso! O Monstro e o Vampiro inauguraram uma Era de Ouro para a Universal e também para o horror, os chamados Os Monstros da Universal.

monstros da universal

LEIA TAMBÉM: MONSTROS CLÁSSICOS DA UNIVERSAL: DOS LIVROS PARA O CINEMA

A adaptação de Frankenstein abriu as portas para oito sequências nas duas décadas seguintes, como o clássico A Noiva de Frankenstein, que apresentou outro monstro icônico ao hall do horror: A Noiva de Frankenstein, interpretada por Elsa Lanchester. Também ficaram cada vez mais comuns histórias envolvendo o Monstro que iam além do que foi escrito por Mary Shelley, como O Filho de Frankenstein, Frankenstein Encontra o Lobisomem (neste a Criatura é interpretada por Bela Lugosi) e comédias como Abbott & Costello Encontram Frankenstein

A história e os personagens criados lá em 1818 embrenharam-se assim cada vez mais no enorme mundo da cultura pop, não ficando mais circunspectas ao horror, entrando em diversos outros gêneros e habitando as mais variadas histórias.  

a noiva de frankenstein

Frankenstein para todos os gostos

Tanto a história escrita por Mary Shelley quanto o filme de Boris Karloff foram responsáveis pelas inúmeras adaptações, reimaginações e inserções de Frankenstein na cultura pop do século XX. 

Nos anos 1930, o cartunista chamado Charles Addams utilizou o conceito do Monstro para criar um de seus personagens mais icônicos: o mordomo Tropeço. Alto, desajeitado, com a cabeça achatada e monossilábico, ele é um personagem essencial de A Família Addams e seus maneirismos assemelham-se demais ao personagem de Boris Karloff.

tropeço

É claro que o cinema continuou sendo influenciado por Frankenstein e não foi apenas a Universal que entrou nessa onda. Entre 1957 e 1974, o tradicional estúdio britânico Hammer trouxe sete produções inspiradas em Frankenstein. Conhecida por seus filmes mais sangrentos, as produções da Hammer se distinguiam das da Universal pelo visual macabro, com algumas inclusive focando mais no cientista que dá nome ao livro do que em sua popular e amada criatura. O primeiro filme dessa leva, A Maldição de Frankenstein, trouxe Christopher Lee como a Criatura e Peter Cushing como seu Criador. 

frankenstein christopher lee

Quanto mais avançamos no tempo, mais percebemos como essas produções utilizam tangencialmente a obra de Mary Shelley para criar narrativas que exploram e expandem o universo do Monstro, levando-o para diferentes épocas, espaços e situações. É como se a história criada em 1818 se mantivesse viva em constante transformação, sendo continuamente reimaginada e inserida em novos contextos. 

Um bom exemplo disso é The Rocky Horror Picture Show. A famosa comédia musical protagonizada por Tim Curry traz o icônico Dr. Frank N. Furter, um cientista maluco do planeta Transsexual, que em seu laboratório cria um homem alto, louro e musculoso chamado Rocky. O musical até mesmo traz uma música intitulada “Over at the Frankenstein Place”. Em 1974, no mesmo ano de Rocky Horror, Mel Brooks dirigiu a comédia O Jovem Frankenstein, que parodia as diversas adaptações cinematográficas do livro de Mary Shelley e traz Gene Wilder como o Dr. Frederick Frankenstein, ninguém mais, ninguém menos do que o neto de Victor Frankenstein. Inclusive, fica a curiosidade: muitos dos equipamentos de laboratório utilizados no filme de Wilder foram criados originalmente para o filme de 1931! 

jovem frankenstein

Nos anos 1980, a comédia de horror Deu a Louca nos Monstros trouxe o Monstro sob um viés diferente, já que aqui ele ajuda um grupo de amigos a impedir os planos de Drácula de controlar o mundo. Em 1994, o Monstro ganhou vida na pele de Robert De Niro em Frankenstein de Mary Shelley, que voltou ao livro para encontrar sua narrativa, trazendo diversos momentos que nunca haviam sido adaptados anteriormente. 

Mas Frankenstein não inspirou apenas filmes live-action. Em 1967, Boris Karloff dublou o Baron Boris von Frankenstein no stop-motion A Festa do Monstro Maluco, um filme em que o cientista faz uma reunião em sua ilha com todos os monstros do mundo. Já a animação Hotel Transilvânia traz Frankenstein e sua agora esposa em um hotel exclusivo para monstros comandando por seu melhor amigo, o Conde Drácula. 

O diretor Tim Burton fez homenagens à história tanto em A Noiva Cadáver quanto em Frankenweenie, que conta a história de um menino que decide usar eletricidade para ressuscitar seu amado cãozinho. Assim como Burton, diversos outros cineastas e artistas se inspiraram na obra de Mary Shelley e suas adaptações, como Clive Barker, Wes Craven, Alice Cooper, Guillermo Del Toro e Roger Corman, que em 1990 dirigiu Frankenstein, o Monstro das Trevas, filme que traz Frankenstein em um enredo de viagem no tempo. Já o filme Re-Animator, embora inspirado no conto de H.P. Lovecraft, foi um desejo do diretor Stuart Gordon em ver mais filmes de Frankenstein (e não, não é coincidência que a sequência se chame A Noiva de Re-Animator). 

Na televisão, o personagem Herman Munster, o patriarca do clássico seriado de televisão Os Monstros, é uma óbvia e carinhosa referência ao Monstro. Mas as coisas não param por aí. O Monstro em si já fez aparições em Os Simpsons e inspirou clássicos antagonistas de Scooby-Doo

Diversas séries tiveram suas versões reimaginadas da Criatura. Na terceira temporada de American Horror Story, Evan Peters vive Kyle, um jovem que após um acidente fatal é trazido de volta à vida e reconstruído a partir de diferentes partes de corpos masculinos. Até mesmo a popular série de televisão, Buffy – A Caça-Vampiros entrou nessa. Na segunda temporada, a caçadora de vampiros precisa enfrentar um cadáver reanimado (todo costurado e com cicatrizes no rosto, é óbvio), que tenta criar uma companheira a partir de diferentes partes de corpos. Precisa dizer mais? 

buffy

A influência da obra de Mary Shelley ainda pode ser vista em diferentes formatos de narrativas para além do cinema e da televisão. Na década de 1940, o quadrinista Bob Kane e o escritor Edmond Hamilton se inspiraram no livro e fizeram sua própria HQ na DC Comics. O famoso mangaká Junji Ito também já adaptou a saga de Victor Frankenstein e nos quadrinhos nacionais, Mauricio de Souza criou Frank, um integrante da Turma do Penadinho. 

Em alguns casos, a inspiração pode ser mais temática do que qualquer outra coisa, estabelecendo paralelos com os temas levantados por Shelley acerca dos perigos de criar vida, o que caracteriza a humanidade e os limites da ciência, temas seminais da ficção científica. Um bom exemplo é o anime Fullmetal Alchemist e o próprio clássico de Isaac Asimov, Eu, Robô

Mais vivo do que nunca!

Filmes, livros, séries de televisão… decorações de Halloween, fantasias, bonecos colecionáveis… tatuagens, podcasts, desenhos… Não importa para onde você olhe, Frankenstein e a obra de Mary Shelley estão em todos os lugares e mais vivos do que nunca. Eles inclusive estão aqui pertinho na DarkSide® em Frankenstein, Frankenstein: Monster Edition e Frankenstein: Anatomia de Monstro.

frankenstein monster edition

Olhando para trás, desde 1818 quando Mary Shelley deu vida à sua história, Frankenstein apareceu e inspirou os mais diferentes formatos narrativos. Nesse longo trajeto de mais de dois séculos, a história e seu icônico Monstro mudaram de forma e linguagem algumas vezes para se encaixar nas épocas e sociedades em que estavam inseridos. No entanto, a essência da história continua praticamente a mesma, despertando nossa compaixão por uma criatura abandonada e explorando os temas da fronteira entre a vida e a morte, da ciência irresponsável, da intolerância e principalmente da nossa própria humanidade.

frankenstein anatomia de monstro

Não importa se o seu primeiro contato com Frankenstein foi pelo livro ou pelo cinema. Ou até mesmo por alguma reimaginação ou referência. O que importa é que a obra de Mary Shelley e seu personagem estão entre nós e estão tão embrenhados na cultura pop que nós os encontramos em todos os lugares. E a notícia boa é que eles vieram para ficar 

LEIA TAMBÉM: POR QUE FRANKENSTEIN É CHAMADO DE PROMETEU MODERNO?

Sobre Gabriela Müller Larocca

Avatar photoHistoriadora e pesquisadora de cinema de horror há mais de dez anos, enfatizando a representação feminina no audiovisual e o uso do horror como fonte histórica. Produtora de conteúdo e aspirante a garota final. Nunca nega um livro da Caveirinha nem um bom filme de horror. Fala bastante e reclama muito no RdMCast.

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1 Comentário

  • Roberto Júnior

    4 de maio de 2023 às 18:08

    ótimo texto. Mas deveria ter focado nas HQs em que a criatura aparece, como Monster of Frankenstein da Marvel , os comics de Dick Brief e na última obra prima de Bernie Wrightson entre outros.

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