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Freaks: Uma pérola esquecida do terror

Quem são as verdadeiras aberrações?

14/04/2023

Para um cinéfilo de VHS, não há contra-argumentos quando se diz que um dos prazeres obscuros em frequentar antros como a Firestar Videolocadora é a possibilidade de encontrar aquele filme de horror esquecido, empoeirado, que acabou perdido entre as dezenas de títulos mais novos e igualmente encantadores da seção Terror — ou tropeçar em uma das pérolas da bizarrice que inexplicavelmente acabou entre os romances clássicos obsoletos e os filmes bíblicos de baixo orçamento.

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Um desses títulos é Freaks, que desde sua estreia vem sendo considerado “desprezível, de mau gosto e discriminatório” por um exército de cinéfilos sem alma, coração ou boa vontade. O longa que chegou a ser banido em vários países (e por aqui recebeu o nome nada gentil de Monstros), foi lançado em 1932 pela conservadora MGM, e continua sendo um completo mistério como a companhia de cinema engessada (como era a MGM da época) concordou em entrar nessa cilada. Corre, Binoooo! 

freaks

Mas vamos aos fatos. 

O filme começa com uma mulher misteriosa sendo apresentada ao público enquanto está dentro de uma caixa (a mulher em questão é a trapezista Cleopatra, que não chega a ser exibida pelas câmeras, mas entendemos que aconteceu algo muito, muito ruim com a moça). Na sequência, somos inseridos nesse circo de horrores plásticos e na história que nos levará àquele terrível e encaixotado desfecho. A partir desse ponto acompanhamos o dia a dia de artistas portadores de deformidades reais (ou características que na época recebiam esse rótulo), seus dilemas humanos, suas alegrias, muitas vezes acompanhamos sua incrível empatia e capacidade de adaptação.

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O que mais salta aos olhos nessa produção de Tod Browning (além da aparência dos personagens, obviamente) é uma espécie de inversão de valores, na qual os considerados monstros pela sociedade transtornada de 1932 — vamos fingir que melhoramos aqui, ok? — apresentam uma humanidade muito maior que os poucos personagens nascidos livres das atribulações físicas apresentadas no filme. Ao lado dessas pessoas, ora nos identificamos com as vítimas, ora com os agressores, e esses papéis se invertem com tanta frequência que fica quase impossível para muitos de nós, mesmo no final, escolhermos um lado definitivo.

O fato é que Freaks influenciou (e influencia até os dias de hoje) a cultura popular e se tornou um clássico atemporal indispensável para qualquer amante do cinema de horror. A série de sucesso American Horror Story, por exemplo, dedicou toda uma temporada ao filme.

american horror story

Já para a banda Ramones, principalmente para o já falecido e eterno em nossos corações, o vocalista Joey Ramone, a influência passou a ser quase uma crença, um culto. Joey nasceu com uma área gêmeo-parasitária em sua coluna e precisou de uma cirurgia de remoção ainda bebê, e também tinha sérios transtornos mentais. Ele se sentia tão acolhido pela trupe de Freaks que colocou o “Gabba Gabba Hey”, em 1977, em uma das canções da banda, “Pinhead”. E todos os Ramones e seus fãs em muitas esferas representavam exatamente isso: os estranhos e antissociais, uma grande família de pessoas incompreendidas e desajustadas.

ramones pinhead

Até aqui pode parecer tudo muito bonito e inspirador, mas estejam preparados, porque assim que o leão rugir e o filme começar a rodar, você estará de volta a 1932, com todos os erros e acertos cometidos pela sociedade da época. O que na realidade não é tão ruim, afinal de contas, o que um filme ou livro podem trazer de mais verdadeiro além de refletirem à época em que foram concebidos?

No final de Freaks, você pode precisar de uma água e de uns minutinhos pra respirar, mas finalmente vai conseguir responder à pergunta: você agora é um de nós?

Esperamos que sim.

freaks

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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