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Ghost Town: Os mortos estão mortos? Nem sempre…

Um suspense fantasmagórico no velho oeste

19/04/2024

A vida de um filme de terror em uma videolocadora não era uma tarefa fácil. Na verdade, era quase uma guerra. Entre atores medalhões e diretores icônicos do gênero, os filmes com menor orçamento precisavam inovar e surpreender se quisessem ter uma chance na sacolinha de “leve três na sexta e só devolva na segunda-feira”. Para esse grande feito, um dos artifícios mais certeiros para fisgar um cinéfilo do horror era uma boa capa na VHS. Esse também é o caso do filme da coluna de hoje.

Ghost Town chegou ao mundo em 1988, dirigido por Richard McCarthy (assinando com o pseudônimo de Richard Governor) e classificado como um Western Horror. Por aqui, recebeu o título justo de A Cidade Fantasma.

Começamos em uma estrada desértica, com uma Mercedes Benz vermelha serpenteando o asfalto escaldante e perturbando a paz nada pacífica da vida selvagem da região. Quem dirige o carro é uma jovem mulher, Kate Barret, e ela logo se vê obrigada a tomar uma estrada secundária, porque a rodovia principal está bloqueada. Kate não se importa, ela está feliz, livre de um casamento que não queria, senhora de si. E de repente o carro decide parar no meio do nada — e Kate recebe uma passagem para o desconhecido na forma de uma tempestade de areia.

Na sequência conhecemos o protagonista dessa história, o xerife Langley, que cultiva a fama de um policial rápido no gatilho. Langley é o oficial convocado a investigar o sumiço de Kate. Assim que chega ao local, ele encontra o carro destruído, queimado e cheio de poeira.

Enquanto procura pistas na região desértica, Langley tem um vislumbre de um cowboy galopando um cavalo negro, o homem abre fogo contra a sua viatura. Langley tenta reagir, mas a figura parece uma miragem, um fantasma que se desvanece. Além disso, Langley tem problemas mais sérios para resolver e um deles é o incêndio espontâneo de própria sua viatura. Confuso, Langley abandona o carro e rastreia algumas marcas de ferradura que encontra pela paisagem árida. O chamado para a loucura vem na forma de um corpo em decomposição que levanta de sua cova e o encarrega da missão de salvar um povoado. O corpo em questão logo se desfaz, e Langley descobre na ossada que o moribundo também era um xerife.

Já é noite quando Langley consegue se abrigar nas ruínas de uma cidade de velho oeste esquecida, e o céu orquestra uma tempestade. O lugar é muito antigo, cheio de poeira e teias de aranha, certamente abandonado, mas Langley logo descobrirá que não está sozinho.

No dia seguinte, o policial descobre outros restos de cadáveres e carcaças humanas em várias construções da cidade. As ossadas estão no chão das casas, na pequena delegacia, enterradas no chão ou penduradas por enforcamento em árvores. Langley também passa a se comunicar com pessoas que se comportam como alucinações ou fantasmas, e desaparecem depois de conversarem com ele.

Enfim Langley conhece pessoas de verdade, que parecem ser de verdade, e acaba sendo baleado e resgatado por um ferreiro e sua filha adotiva. A cidade agora está novamente povoada, revivendo e expiando os erros de um passado amaldiçoado. Informado de parte desse passado, Langley precisa impedir que Devlin, o espírito errante de um pistoleiro assassino que fez um pacto com o Diabo, continue a atormentar o povoado. Esse espírito maldito também está mantendo Kate (a moça do carro vermelho) como sua refém.

Ghost Town não possui uma trama linear, em vez disso, o filme vai se apresentando aos poucos, permitindo que o espectador tire suas próprias conclusões junto com os personagens. Isso torna a experiência mais intimista, orgânica e verdadeira. Os elementos fantasmagóricos do filme são bons, o pano de fundo de velho oeste funciona, mesmo os efeitos especiais e a quantidade de balas (e baleados) são calculados para que o filme se pareça mesmo com um western (destaque para o maldito Devlin, um grande personagem). Quem já leu A Torre Negra, de Stephen King, encontrará elementos familiares aqui e ali, assim como os fãs do bom e velho bang-bang.

Aos poucos conseguimos fazer algumas conexões na trama, com um bom suspense, Ghost Town nos mantém ligados aos seus personagens enigmáticos e a novos detalhes explodindo a cada cena.

Os efeitos são bem razoáveis, assim como boa parte dos atores, mas o melhor de Ghost Town reside na autenticidade de sua versão do velho oeste americano e em conseguir contar uma boa história de fantasmas, algo que o cinema moderno vem falhando miseravelmente.

Não é justo julgar uma VHS pela capa, mas no caso desse aqui foi uma boa aposta.

Agora deixaremos a escolha com vocês, Ghost Town pode não ser o melhor filme de terror do século, mas é um filme interessante se você levar em conta todas as ideias que são exploradas no enredo, e quantas novas ideias podem germinar a novos criadores que se aventurarem nesse filme.

E então? Prontos para visitar Cruz Del Diablo? (o único risco é nunca mais sair…)