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Hailstone: Conheça as mentes por trás da HQ

DarkBlog entrevista Rafael Scavone e Rafael de Latorre

11/11/2022

Hailstone é uma história que é impossível colocar em uma caixinha de gênero. Ela passa pelo terror, suspense, faroeste e pela ficção científica. Nas palavras do roteirista Rafael Scavone, a definição mais próxima seria weird fiction, mas nem isso consegue resumir bem a abrangência de atmosferas criadas por ele e pelo ilustrador Rafael de Latorre.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: HAILSTONE, POR RAFAEL SCAVONE E RAFAEL DE LATORRE

A graphic novel ganhou vida através do Stout Club, uma casa de ideias criada por quadrinistas da qual Scavone faz parte. Publicada originalmente em inglês, Hailstone chega aos DarkSiders trazendo ainda mais originalidade ao universo dos quadrinhos. A HQ envolve os leitores em uma trama de mistério, impulsionada pelo clima de isolamento da cidadezinha de Hailstone e acontecimentos sobrenaturais.

Uma narrativa desenvolvida por uma dupla apaixonada pela nona arte. Scavone tem na bagagem trabalhos como Mulher-Maravilha, All-Star Batman e Hit-Girl, além de Hidden Society e Funny Creek. De Latorre estreou com Fade Out: Suicídio sem Dor e desde então já trabalhou em obras como Superzero e a série best-seller Animosity, que lhe rendeu indicações para o Ringo Awards e o prêmio Russ de artista mais promissor.

hailstone

Em uma entrevista exclusiva ao DarkBlog, Rafael Scavone e Rafael de Latorre dividem a sua jornada no universo dos quadrinhos e contam como foi o processo de criação de uma graphic novel do calibre de Hailstone:

DarkBlog: Todo mundo gosta de uma boa história de origem, então conta para os DarkSiders como foi o início das jornadas de vocês no universo dos quadrinhos. Vocês sempre souberam que essa seria a sua carreira?

Rafael Scavone: Meu caminho até chegar aos quadrinhos teve algumas idas e vindas. Eu sempre gostei muito de desenhar e escrever. Na minha adolescência, em Porto Alegre, fiz alguns quadrinhos em fanzines. Acho que assim como muitos lá nos anos 1990, eu sonhava em desenhar para a recém-criada Image Comics. Mas eu também sempre fui um aficionado por livros sobre o passado e acabei cursando História na universidade. Lá me apaixonei pela Arqueologia, mas no final acabei não seguindo a carreira acadêmica. Na época eu queria sair de Porto Alegre e usei o que sabia de arte para trabalhar com design, primeiro em São Paulo e depois em Londres. Foram tempos interessantes, mas depois de tantos anos resolvi voltar para Porto Alegre, onde reencontrei amigos da adolescência, um deles foi o Rafael Albuquerque. Comecei a dividir estúdio com ele e o Rogê Antônio, que acabaram me ensinando muito sobre quadrinhos e narrativa. Lá comecei a entender de verdade como se fazia quadrinhos profissionalmente. Foram anos incríveis de formação e acabou sendo natural para mim agregar a escrita a isso. Foi assim que nasceram os meus primeiros roteiros. Então, no final, levei alguns anos para me reaproximar dos quadrinhos, mas hoje não consigo me imaginar trabalhando com outra coisa. Eu amo quadrinhos e amo contar histórias através dessa mídia.

Rafael de Latorre: Apesar de já ter trabalhado com desenho em outras áreas como ilustração publicitária e editorial e ter estudado um pouco de animação, sempre tive um foco em quadrinhos. Comecei a fazer cursos de desenho na época que a Image Comics começou a publicar no Brasil, portanto a vontade de trabalhar com quadrinhos começou cedo. Em 2011 com a ajuda do ProAC publiquei de forma independente minha primeira HQ, Fade Out: Suicídio Sem Dor, com roteiro de Beto Skubs e cores de Marcelo Maiolo. Após isso, foquei cada vez mais em quadrinhos e tive a oportunidade de colaborar com artistas incríveis em diversos projetos.

D: Hailstone é uma obra que conversa com diferentes gêneros da ficção, como faroeste, mistério, terror, ficção científica… Como essa pluralidade de atmosferas conseguiu se unir e se organizar para produzir uma história única?

Scavone: Acredito que gêneros são importantes na formulação e apresentação de uma história, mas assim como muitas estruturas na arte elas estão aí para serem misturadas, adaptadas e até subvertidas. O que tentei fazer com Hailstone foi mesclar os que mais aprecio e acredito serem complementares para contar aquela história, ao ponto de virar uma espécie de homenagem a cada um dos gêneros presentes em Hailstone. Inicialmente me senti bastante inseguro em misturar tudo isso em uma única história, mas acabei superando esse medo quando percebi como a junção deles me permitia criar diversas camadas e significados na narrativa, e isso é magia pura quando você conta uma história, porque permite que ela seja degustada de maneira distinta por cada leitor, já que as pessoas são diferentes e também têm as suas preferências de gêneros. Atualmente vejo que gêneros são usados tanto de forma restrita ou até diluídos no meio de muitos outros, quando não dão luz a novos gêneros. Particularmente, eu acho essas misturas incríveis.

D: Como foi o processo da criação da HQ entre roteiro e arte? Uma foi concebida antes da outra ou a construção foi conjunta?

Scavone: Hailstone tem uma história de origem curiosa. Em 2018, eu, Rafael Albuquerque e Mateus Santolouco estávamos no Stout Club preparando uma nova leva de projetos para os próximos anos. Eu queria escrever um quadrinho autoral de terror e no meio da conversa o Rafa e o Mateus me falaram de um projeto antigo dos dois, com mais de dez anos, que no final nunca saiu do papel. Ele se chamava Cold Valley e tinha uma premissa bem interessante. Como eles não tinham planos de prosseguir com ela, acabaram me dando carta branca e foi com base nela que comecei a escrever Hailstone. Ficou diferente, claro, mas muitos dos elementos que trazemos para Hailstone estavam presentes lá na premissa dos dois. O Rafael de Latorre entrou logo em seguida no projeto. Fazia um tempo que vínhamos tentando fazer um quadrinho juntos, e Hailstone caiu como uma luva para o estilo dele. Quanto ao que veio antes, eu geralmente gosto de ter o roteiro pronto e aprovado pelo editor antes de o artista iniciar, pois acaba sendo mais seguro. Mas alguns aspectos da história e ajustes visuais sempre acontecem com o quadrinho já sendo desenhado. Então sim, na minha ótica sempre acaba sendo uma construção conjunta.

hailstone

D: De que maneira o roteiro e a arte se comunicam para criar a atmosfera desejada por vocês e ao mesmo tempo instigar e envolver o leitor?

Scavone: Eu vejo que a construção de uma atmosfera de terror se dá de várias formas, uma delas é pela expectativa, tanto no desenrolar da história como na própria percepção que os personagens têm sobre o que está ocorrendo. Em Hailstone, por exemplo, o terror começa na cabeça dos personagens, amedrontados, isolados e famintos. A arte do Rafael de Latorre deu a roupagem perfeita para as sequências. Outro elemento que considero muito importante para a construção do clima em Hailstone é a cor. O Wesllei Manoel trouxe paletas incríveis que servem como uma espécie de trilha sonora arrepiante para as sequências.

De Latorre: Acho que pela experiência que o Scavone tem com desenho, seu roteiro parece ser muito pensado em como as cenas irão funcionar na página e isso facilitou muito meu trabalho. Concordo totalmente quanto ao trabalho do Wesllei, suas escolhas de paleta e a atmosfera que as cores deram casaram perfeitamente com meu desenho e com a história.

D: Vocês possuem uma vasta atuação no universo dos quadrinhos, inclusive com personagens já bem conhecidos do público. Qual a diferença de trabalhar com universos já pré-estabelecidos e criar um do zero, totalmente autoral, como em Hailstone?

Scavone: A principal diferença que vejo é com a liberdade de criação. Quando você trabalha com personagens conhecidos, quase sempre você precisa seguir um cânone, ou continuar uma história a partir do que já foi feito. O que não deixa de ser um desafio interessante, e às vezes até facilita a criação em muitos pontos. Mas também acaba limitando algumas experimentações, já que você não pode descaracterizar totalmente um universo ficcional que muitas vezes é mais velho do que você. Trabalhar com personagens já conhecidos do público também traz algumas vantagens, principalmente de público, pois muitos leitores vão conhecer o seu trabalho quando você escreve um personagem popular. Por outro lado, o quadrinho autoral traz uma liberdade de criação muito maior. O único ponto negativo é que você precisa convencer os leitores de que vale a pena mergulhar naquele novo universo.

De Latorre: É fantástico poder trabalhar com personagens que você cresceu lendo, fazer a sua interpretação deles. Mas também gosto muito de trabalhar com quadrinhos autorais. Sempre tive interesse em trabalhar com concept art, portanto valorizo muito a liberdade de criação e experimentação que o autoral proporciona.

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D: A HQ foi publicada originalmente em inglês. Como foi o processo de trazer a história para o público brasileiro?

Scavone: Nós quase sempre publicamos primeiro nos EUA e depois trazemos os quadrinhos para o Brasil. É muito importante para nós no Stout Club termos uma versão nacional das obras que criamos. De preferência com uma edição especial e com todo o carinho que o leitor brasileiro merece. Hailstone não foi diferente e ainda tivemos a sorte de contar com a excelente tradução do Fabiano Denardin e da Kali de Los Santos. E na minha opinião, a edição da DarkSide ficou ainda mais bonita que a edição norte-americana.

D: O isolamento é um componente importante na história de Hailstone e em diversas obras que vocês citam como inspiração da HQ. Por que esse é um tema tão recorrente, mas tão eficaz, na construção de um clima de suspense/terror?

Scavone: Acho que tem a ver com o terror surgir dos próprios personagens, dos seus temores e desejos. Seguindo esta lógica, se você consegue isolar estes personagens sob determinadas condições, a fuga não é mais possível e o terror se materializa no ar quase que espontaneamente. Em Hailstone a dinâmica é basicamente essa. Então, além dos anseios de cada personagem, adicionamos a fome e os misteriosos desaparecimentos. Tudo isso junto, em meio a uma guerra civil, já é uma situação aterrorizante. As criaturas são só a cereja do bolo.

D: Algumas pessoas ainda veem histórias em quadrinhos como trabalhos mais voltados ao público infantil ou adolescente. De que maneira Hailstone pode convencê-las a mudar de ideia?

Scavone: Este pré-conceito com quadrinhos que às vezes delega a mídia a uma “arte menor” ou “coisa de criança”, já foi muito mais presente décadas atrás. Hoje as histórias em quadrinhos estão por todo o lugar, ganhando as telas, jogos, camisetas em uma infinidade de adaptações. Mas claro, sempre vai existir a comparação com outras mídias. Acredito que desde os anos 1980 isso vem sendo desconstruído com obras consideradas mais adultas, como Maus e Watchmen, entre outras, que acabaram formando uma geração de adultos que hoje consomem quadrinhos diariamente. Acho sempre importante lembrar que quadrinhos são uma mídia única que dialoga com a literatura, teatro, cinema e até a música, já que você consegue inclusive ditar o ritmo da leitura entre os quadros de uma página. Em suma, quadrinhos são muito mais complexos do que parecem para ser destinados a apenas uma faixa etária. Em Hailstone, por exemplo, nós abordamos temáticas complexas que vão desde a dor da perda de pessoas queridas, até o papel da indústria militar na geração da violência descabida que vivemos até os dias de hoje. Hailstone não é um quadrinho para crianças, mas com certeza vai agradar — e aterrorizar — muitos adultos.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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