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Kevin Carter: O fotógrafo que inspirou Will Navidson de Casa de Folhas

Conheça a trajetória, o trabalho e as tragédias do profissional

05/06/2024

Todo fã de terror está acostumado com histórias inspiradas em acontecimentos reais. Eventos sobrenaturais, crimes que chocaram o mundo e indivíduos memoráveis são algumas das inspirações encontradas na hora de criar suas narrativas assustadoras. A relação do terror com acontecimentos reais é tão forte que automaticamente pensamos em exemplos famosos, como Psicose, O Massacre da Serra Elétrica e O Silêncio dos Inocentes, todos inspirados na vida do assassino em série Ed Gein.

LEIA TAMBÉM: CASA DE FOLHAS + 11 OBRAS DE LITERATURA EXPERIMENTAL 

Mas você sabia que um dos personagens de Casa de Folhas é inspirado em uma pessoa que realmente existiu? A obra de Mark Z. Danielewski, construída como uma história dentro da história, é centrada em uma residência onde imperam dimensões que desafiam a lógica e a física. Quando uma porta que deveria levar ao lado de fora revela um corredor escuro e labiríntico, os proprietários, o casal formado por Will Navidson e Karen Green, decidem enfrentar a situação e registrar tudo em um documentário. 

Com uma narrativa que varia de acordo com quem está escrevendo ou falando, Casa de Folhas é uma obra complexa e repleta de personagens memoráveis. Um deles é justamente Will Navidson, que procura entender o que está acontecendo em sua residência. Will é descrito como um bem-sucedido fotógrafo de guerra atormentado pelos eventos que presenciou e documentou.

casa de folhas

Isso por si só já cria uma personagem carregado de traumas e complexidades, mas e se a Caveira te contar que Danielewski se inspirou em um fotógrafo real? 

Conheça a trajetória de Kevin Carter

Will Navidson é inspirado na vida do fotojornalista sul-africano Kevin Carter. Ele nasceu em Joanesburgo em 1960 e começou a trabalhar com fotografia em 1983, cobrindo eventos esportivos nos finais de semana. 

Posteriormente, Carter ganhou destaque capturando as violências e brutalidade do apartheid na África do Sul. O fotógrafo foi um dos primeiros a capturar em imagens o método de execução conhecido como “necklacing”, em que um pneu era colocado ao redor do pescoço de uma pessoa e depois incendiado. O comprometimento de Carter em expor o que acontecia no país foi tanto que entre 1990 e 1994 foi membro do chamado Bang-Bang Club, liderado por quatro fotógrafos ativos durante a transição do sistema do apartheid. 

kevin carter

Por suas reportagens e fotos, Carter foi preso inúmeras vezes na África do Sul. Uma de suas fotos mais famosas, por exemplo, foi tirada em 1994 quando retratou três membros do AWB (Movimento de Resistência Africâner) sendo baleados durante uma invasão pouco antes das eleições. A fotografia foi estampada em quase todas as primeiras páginas do mundo todo. 

LEIA TAMBÉM: COMO CASA DE FOLHAS REDEFINIU O TERROR MODERNO

No entanto, mesmo com os perigos, o fotojornalista sempre era atraído de volta para o coração do conflito. Em 1993, ele teve a oportunidade de viajar ao Sudão para relatar e aumentar a conscientização sobre a crise humanitária que acontecia no país. Durante sua curta permanência, Carter teve a oportunidade de fotografar crianças e adultos. Entre tantas fotos, uma ganhou destaque ao ser publicada no The New York Times em 26 de março de 1993. A imagem trazia uma criança desnutrida caída no chão e ao fundo um abutre à espreita. Mais tarde, foi divulgado que a criança estava tentando chegar a um centro de alimentação das Nações Unidas.

A fotografia ficou conhecida como O Abutre e a Menina e foi reproduzida no mundo todo, causando comoção e controvérsia. Muitas pessoas questionaram o destino da criança, sendo divulgado posteriormente que ela havia sobrevivido e chegado ao centro da ONU. No entanto, foi apenas em 2011 que foi revelado que se tratava de um menino, Kong Nyong, que faleceu por complicações de saúde em 2007.

a menina e o abutre

A fotografia também gerou análises sociológicas, com apontamentos sobre as implicações morais associadas à imagem e a responsabilidade ética de fotógrafos e editores perante tais cenas. Alguns estudiosos chegaram a apontar que a imagem era uma apropriação do sofrimento e reforçava discursos coloniais. 

Para além da controvérsia, O Abutre e a Menina rendeu a Carter o Prêmio Pulitzer de Fotografia Especial em abril de 1994. No entanto, seu maior trabalho também lhe rendeu grandes sofrimentos. O fotojornalista nunca foi capaz de responder às perguntas sobre o que teria acontecido com a menina e acabou sendo alvo de críticas que apontavam a existência de dois abutres: um na fotografia e outro atrás das lentes. Carter passou a ser constantemente questionado se havia feito algo para evitar a morte da criança ou estava apenas interessado em fotografar seu sofrimento. 

No mesmo mês em que ganhou o Pulitzer, o fotojornalista recebeu a trágica notícia de que seu melhor amigo e membro do Bang-Bang Club, Ken Oosterbroek, foi morto cobrindo um tiroteio nos arredores de Joanesburgo. Três meses depois, perseguido pelos horrores que testemunhou ao longo dos anos, Kevin Carter tragicamente tirou a própria vida. Em uma entrevista, seu pai disse que o filho sempre carregou o horror de seu trabalho e que no final não conseguiu mais aguentar. 

kevin carter

Mark Z. Danielewski se inspirou na trágica história de Kevin Carter para construir o personagem principal de Casa de Folhas. Na obra, o dono da residência na Ash Tree Lane, é um renomado fotógrafo e vencedor do prêmio Pulitzer. A fotografia que lhe rendeu reconhecimento é justamente a de uma menina sudanesa faminta, ou seja, uma referência bastante explícita a O Abutre e a Menina. No livro, Will Navidson é assombrado pela culpa de não ter feito nada para ajudar a criança. A referência fica ainda mais explícita quando encontramos a nota de rodapé 336 escrita por Johnny Truant, que afirma que tudo “é obviamente baseado na fotografia de Kevin Carter”, sugerindo que os relatos envolvendo Navidson não passam de ficção e invenção.  

Para o DarkSider corajoso que deseja saber mais dessa história e está pronto para se aventurar pelos cômodos escuros da Ash Tree Lane, Casa de Folhas está a um clique de distância. Fruto de anos de trabalho de uma equipe dedicada, o livro está à venda na Loja Oficial DarkSide em uma edição limitada que vai proporcionar aos leitores uma das experiências mais intensas de todos os tempos.   

LEIA TAMBÉM: CONHEÇA OS BASTIDORES DA EDIÇÃO BRASILEIRA DE CASA DE FOLHAS

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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