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Millennium: Acidentes aéreos, paradoxos e guardiões temporais

Uma viagem ao sci-fi de 1989

02/02/2024

Como bons cinéfilos (leia-se garimpeiros de videolocadora), sabemos que alguns filmes possuem uma estranha aura, um elemento raro e não tão facilmente traduzível, que muitos de nós experimentam quando o assunto são filmes mais antigos, notadamente os que foram produzidos entre 1980 e 1990.

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Um desses casos é o sci-fi não tão comentado Millennium, e não estamos falando daqueles millennials geracionais, mas de um filme bastante interessante se você tiver a mente aberta para as limitações técnicas da época. Esse filme chegou ao planeta Terra em 1989, baseado no conto Air Raid de John Varley e adaptado pelas mãos experientes de Michael Anderson (diretor já veterano na época, que também dirigiu a primeira adaptação de 1984, no ano de 1956). Por aqui, o longa recebeu o mesmo nome seguido por um complemento infame para caber nas sessões da TV aberta: Millennium: Guardiões do Futuro.

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Começamos o filme com um estado de tensão bastante alto, literalmente, afinal, estamos presenciando um acidente aéreo entre duas aeronaves. Bagagens despencando, desespero dos pilotos comunicando o que acontece a torre de controle… e uma arma futurista explodindo no meio de tudo isso.

De volta ao chão, acompanhamos Bill Smith (interpretado por Kris Kristofferson), um agente do Conselho Nacional de Segurança em Transportes destacado para elucidar o acidente aéreo. Bill estava com pressa, dando esporros e escapando de um enxame de jornalistas. Algo que percebemos logo nesse início é a qualidade da trilha sonora, bem como a condução bem executada do filme.

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Não sobrou muito das aeronaves, tudo o que existe é destruição e o pessoal que é pago para descobrir as causas do acidente. Vasculhando o local da queda, Bill conhece o ecologista e professor de física Arnold Mayer, um estudioso de “algo que ainda iremos descobrir”. Segundo outro agente, o ecologista está visitando vários pós-acidentes de aeronaves há alguns anos. E a estranheza não para por aí. Na sequência da mesma cena, Bill interroga o controlador de voo que está, além de exausto, sem entender o que aconteceu em seu turno. Segundo o controlador, ele desviou sua atenção dos monitores por um segundo, e quando voltou desse piscar de olhos, os radares mostravam os aviões em rota de colisão.

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Seguimos com Bill e sua equipe conversando com diferentes investigadores e peritos. O lugar está completamente isolado, os técnicos e peritos trabalham em um ginásio convertido a centro de análises. Um desses peritos informa a Bill outro detalhe bastante peculiar: os relógios digitais encontrados estão avançando em sentido anti-horário, como se retrocedessem no tempo. Se já estávamos interessados, esse detalhe em particular nos impele a continuarmos no filme.

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Bill também engata um romance a jato com uma aeromoça bastante suspeita, Louise Baltimore (interpretada por Cheryl Ladd), e ao que parece ela está bastante disposta a tirá-lo um pouco do trabalho. Entre outras qualidades, Louise também é muito boa em desaparecer de quartos de hotel sem deixar rastros.

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Outro ponto interessante que não escapará aos cinéfilos mais atentos, é o desaparecimento de um dos motores da aeronave — veríamos algo parecido anos depois, em Donnie Darko.

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Mas Millennium continua com o agente Smith (não, não aquele, o agente aqui é Bill Smith) encontrando uma arma futurística, uma pistola. Curioso, Bill começa a mexer no equipamento, o que resulta em uma descarga elétrica. Quem aparece em seguida? Viajantes do tempo, é claro. E somente nesse momento entendemos os rumos que esse filme irá tomar.

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Como em muitas outras produções que abordam distopias, o futuro apresentado é bem pouco promissor, e a humanidade se resumiu a macacões, líderes com rostos pálidos, poeira e ambientes industriais. Oh, e eu já ia me esquecendo: viagens no tempo. Nesse ponto revemos inclusive a aeromoça suspeita, que é uma dessas pessoas que voltam ao passado para evitar — e ajudarem a causar — paradoxos. Se alguém notou um tom de humor aqui, ele também está presente nesse filme, e é um contraponto interessante (e arriscado) à toda seriedade dos primeiros minutos de Millennium.

Mas voltando aos pontos mais interessantes, esse filme parece ter inspirado muitos criadores; de personagens de Mad Max Fury Road, ao carregador de habilidades e conhecimentos instalado na nave Nabucodonosor, de Morpheus, em Matrix — e ainda temos uns saltos por alguns Star Wars, La jeetée (curta-metragem que inspirou 12 Monkeys) e Alien, mas no sentido reverso.

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Como mais um ponto interessante, temos dois momentos de protagonismo no filme. No início, toda atenção está voltada para o agente Bill Smith e suas investigações em relação ao acidente aéreo. Já no segundo momento, futurístico, o protagonismo recai sobre Louise Baltimore, que se revela uma experiente viajante temporal, estando à frente de muitas operações arriscadas e cruciais. 

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Também são muito interessantes (embora não inéditas) as costuras entre uma mesma cena exibidas em diferentes pontos de vista, esse é sem dúvida mais um grande acerto do filme. Os mesmos personagens reagindo inesperadamente e depois de forma planejada, como se tudo fosse (e realmente o foi) habilmente planejado. 

Com tudo o que já foi escrito, esse filme passa longe da perfeição, A trama tem seus furos, o romance proposto para Bill e Louise peca pela artificialidade, os efeitos especiais são ultrapassados e datados. Ainda assim, as ideias e imagens semeadas são poderosas, tão valiosas que foram usadas por muitas produções bem mais atuais. Se você não acredita em mim, é só fazer essa viagem no tempo, de volta a 1989. 

O trailer você confere aqui:

Bora atravessar o portal?

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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