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O esplendor do horror social de John Carpenter em uma Nova York alucinante

Uma bofetada bem dada na cara da sociedade

09/06/2023

Todo frequentador da Firestar sabe que a predileção absoluta da casa é o horror. Mas afinal de contas, o que é o horror?

Uma definição popular diz que horror é uma: “forte impressão de repulsa, acompanhada ou não de arrepio, gerada pela percepção de algo ameaçador”. Bem esse é um ótimo começo para essa conversa.

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Verdade seja dita, na época de ouro das videolocadoras o horror era sempre uma ótima pedida, mas o fato é que não existia uma infinidade de títulos disponíveis aqui no Brasil, o que levava muitos cinéfilos do gênero a expandirem seus universos de devoção. O critério era simples. Se não houvesse o gênero em si, uma boa ficção científica servia. Na falta dessa, a ultraviolência nos abastecia, e se nada disso estivesse disponível, os nomes dos diretores mais pancadas do horror seriam uma ótima bússola. Foi dessa forma que muitos adoradores de The Fog e Halloween descobriram Escape From New York (por aqui batizado de Fuga de Nova York), dirigido pelo pai de todos nós, Jonh “The Boss” Carpenter.

fuga de nova york

Em mais uma parceria icônica de Jonh Carpenter e Debra Hill, esse filme de 1981 continua sendo uma bolacha de mão aberta no rosto da sociedade americana (mas muitos de nós também podem vir a sentir o golpe por aqui…). Apesar do nome, o filme foi rodado em sua maior parte em Los Angeles e Saint Louis, principalmente nesse último. Várias partes da cidade de Saint Louis haviam sofrido incêndios monstruosos, e o ambiente resultante era o que Carpenter precisava para sua Nova York afundada no crime.

fuga de nova york

Segundo a introdução do filme, na década de 1990 a criminalidade nos EUA havia subido 400%, então a solução prática foi fechar Nova York e transformar a ilha em um presídio. O problema é que a população carcerária não estava nada feliz com isso, então um grupo terrorista (algo como um Exército de Libertação Nacional) entra em cena, hackeando o avião do presidente (que estava a caminho de uma missão de paz ligeiramente fraudulenta com a China e a Rússia) e derrubando a cápsula de evasão presidencial bem no meio da ilha. Sim, e esse é só o começo da diversão.

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As premissas se estabelecem depressa: se entrarem policiais ou agentes em Nova York, o presidente morre. Se a ilha não for aberta e os presos liberados pela ponte com uma banda marcial, o presidente morre. E se demorarem muito para tomarem uma decisão sobre a libertação do povo preso, o presidente morre do mesmo jeito. Uma prova da boa vontade dos comandantes da ilha é a amputação do dedo médio (hehehe) do presidente, que ostenta um bonito anel Illuminati-maçônico. Já parece bastante paranoico para uma audiência mediana, mas se tratando de John Carpenter, a coisa ainda vai piorar bastante.

fuga de nova york

A fim de salvar o presidente, o chefe de polícia chega ao nome de Snake Plissken (Kurt Russell), um ex-tenente-americano-herói-de-guerra-condecorado que cansou de ser bom moço e mergulhou fundo na marginalidade. Na primeira versão do filme, em uma cena deletada, Snake estaria inclusive sendo preso por roubar um banco. A cena foi excluída, mas vocês entendem onde queremos chegar. Snake não dá a mínima para o presidente americano, e muito menos para seus colaboradores da força policial. Masssss… Snake também está em prisão perpétua, então decide reconsiderar. Conhecendo a vibe “dane-se a nação” de Snake, o comissário de polícia Bob Hauk decide inovar e injeta uma bomba-relógio nas artérias de Snake, que agora tem 22 horas para salvar o presidente, recuperar uma fita que pode causar uma guerra mundial e evitar que seu sistema vascular exploda.

fuga de nova york

O que acontece dentro e fora de Nova York é de uma violência memorável, principalmente psíquica, se você for um defensor da extrema direita ou de políticos cuja moralidade seria apreciada em uma comunidade de ratazanas. Com personagens inesquecíveis e à frente de seu tempo (as garotas têm um papel fundamental nesse filme!! Fiquem de olho), explosões, luta livre, tapa-olho (sugerido por Kurt Russell) e uma tatuagem de serpente no peito do nosso anti-herói Snake, Fuga de Nova York salvou os finais de semana de muita gente.

Poderíamos parar por aqui, mas ainda falta algo importante. O roteiro original do filme foi concebido em 1970, e os americanos ainda estavam surrados pelo escândalo de Watergate, o que impossibilitou a produção de ganhar vida tão depressa. O filme é sombrio de todas as maneiras possíveis, tão sombrio que foi inserida uma única cena diurna (um helicóptero pousando na ilha em frente a um batalhão de presos armados), apenas para “iluminar” as coisas. Também temos o “panteão Carpenter” de atores com o já citado Kurt Russell, o eterno cowboy Lee Van Cleef, Donald Pleasence (nosso amado doutor Loomis de Halloween faz o presidente) e a incrível Adrienne Barbeau. Ainda temos Harry Dean Stanton, Ernest Borgnine e Isaac Hayes (ele faz o bandidão Duke, que pisca o olho estressado cada vez que encontra Snake — o cacoete foi sugestão do próprio ator). Se isso ainda não o convenceu, Tom Atkins, o suprassumo dos anos 1980, também faz uma ponta no filme!

fuga de nova york

A trilha sonora é um deleite, e contribui para incontáveis bons momentos do filme, inclusive emprestando a credibilidade que falta em algumas partes. Existem coincidências Ex-machina no filme todo, mas isso não estraga o passeio, acredite em mim. Ver John e Debra esbofeteando a sociedade sem luva de pelica é uma das sensações mais agradáveis que um bom cinéfilo de horror pode desejar.

Por esses e uma série de outros motivos que você só vai redescobrir assistindo ou revisitando esse filme, ele sempre esteve entre os sucessos da Firestar, transitando entre a ficção científica, a aventura e o horror. Aliás, existe uma sequência icônica (Fuga de Los Angeles, de 1996) e se tivermos sorte esse universo em breve será novamente expandido, visto que os dados estão rolando para um novo filme desde 2022. Segundo foi declarado, o longa seria dirigido por Robert Rodriguez e teria “The Boss” Carpenter como produtor executivo. O que posso dizer? As expectativas estão paranoicas de tão altas!

Então foge pra sala e aperta o play! Hoje é dia de John Carpenter!

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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1 Comentário

  • Marcio valentim

    30 de julho de 2023 às 09:06

    magníca crítica sou fã alucinado desse filme assistir umas trocentas vezes e só em ler sua análise vou assistir novamente.

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