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O que é ficção especulativa, gênero de O Ano das Bruxas

Histórias envolvem fantasia, terror e ficção científica

19/11/2021

Ambientado em uma pequena cidade onde a palavra do Profeta é lei e qualquer fruto de relações inter-raciais é uma blasfêmia, O Ano das Bruxas conta a história de uma jovem amaldiçoada chamada Immanuelle. A autora Alexis Henderson traz para a história suas influências da fantasia e de ter crescido em uma cidade amaldiçoada.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: O ANO DAS BRUXAS, DE ALEXIS HENDERSON

Créditos: https://mobile.twitter.com/alexhwrites

Henderson passou boa parte da vida em Savannah, uma cidade repleta de histórias de fantasmas e locais amaldiçoados. Além disso, a autora sempre nutriu um gosto particular por literatura de ficção e terror, o que influenciou bastante no estilo de história escrito por ela: “Eu acho que sou naturalmente atraída pela forma que a ficção especulativa me permite escapar dos debates deste mundo e entrar em outro. Então foi natural que quando chegou a hora de escrever minhas próprias histórias eu tenha pendido para a fantasia”, declarou em entrevista ao site BookPage.

A ficção especulativa já chegou a ser chamada de “super gênero”, por englobar tantos outros, como ficção científica, fantasia e terror. Sua principal característica é se utilizar de elementos fictícios baseados em determinado contexto, mas que não existem no mundo real. 

Histórias e subgêneros da ficção especulativa

Escritores têm criado histórias sobre eventos hipotéticos há séculos, desde a Grécia Antiga. Mas o termo “ficção especulativa” somente foi utilizado pela primeira vez por Robert Heinlein em 1947. A expressão, num primeiro momento, foi fortemente associada à ficção científica. Porém, no século XXI o termo foi expandido para comportar outros gêneros que contêm elementos especulativos. Hoje, ele basicamente abrange histórias situadas em locais e contextos além do nosso mundo.

Uma das escritoras mais influentes da atualidade, Margaret Atwood, define a ficção especulativa como a literatura que lida com as possibilidades dentro da sociedade – que não ocorreram, mas que são latentes. Isso justifica o fato de o gênero muitas vezes ser chamado de literatura do “e se”. Aliás, o livro de Atwood O Conto da Aia é uma das principais inspirações de Alexis Henderson para O Ano das Bruxas.

Créditos: Hulu

LEIA TAMBÉM: QUEM É ALEXIS HENDERSON, AUTORA DE THE YEAR OF THE WITCHING

A maioria das histórias de ficção especulativa se enquadram em um ou mais dos gêneros a seguir:

Ficção científica: histórias com tecnologias imaginadas, que não existem no mundo real, como viagem no tempo, alienígenas e robôs.

Ficção científica de fantasia: são histórias de ficção científica inspiradas pela mitologia, folclore e contos de fada, combinando tecnologias com elementos de realismo mágico.

Ficção sobrenatural: histórias de ficção científica sobre algum tipo de conhecimento secreto ou habilidades secretas, como bruxaria, espiritismo e habilidades psíquicas.

Ficção de ópera espacial: um jogo de palavras com o termo soap opera (utilizado para o que chamamos de novelas), são histórias de ficção científica que são ambientadas no espaço sideral e tratam de algum conflito, romance e/ou aventura.

Fantasia urbana: são histórias de fantasia ambientadas no contexto urbano do mundo real, mas que seguem as leis da magia.

Utopia: histórias sobre civilizações que os autores descrevem como perfeitas, uma espécie de sociedade ideal.

Distopia: ao contrário da utopia, a distopia lida com sociedades consideradas problemáticas dentro do universo da história, frequentemente satirizando regras governamentais, pobreza e opressão.

Ficção apocalíptica: são histórias ambientadas antes e durante algum desastre que extermina parte significativa da população mundial. Frequentemente têm como protagonistas personagens que estão fazendo tudo o que podem para sobreviver.

Ficção pós-apocalíptica: tramas que se passam após algum evento apocalíptico e focam nos sobreviventes precisando aprender a lidar com as novas circunstâncias.

História alternativa: histórias ambientadas em acontecimentos históricos, mas que são escritas de maneira que o desfecho ocorre diferentemente da realidade, como em Bastardos Inglórios, por exemplo.

Histórias de super-heróis: como o nome diz, são histórias com super-heróis e como eles utilizam suas habilidades (sobre-humanas ou não) para enfrentar supervilões.

Ficção especulativa e minorias raciais

Nos Estados Unidos, o termo “pessoa de cor” é utilizado para se referir a basicamente qualquer população que não seja branca e de origem anglo-saxã, o que inclui indivíduos de origem africana, asiática e latina, principalmente. Estas minorias têm conquistado cada vez mais espaço dentro das narrativas de ficção especulativa, trazendo diferentes olhares por meio de suas histórias.

Histórias negras que se enquadram no gênero frequentemente abordam temas sobre raça e a história das relações inter-raciais na sociedade ocidental. São tramas que podem abordar a escravidão, a diáspora africana e o Movimento dos Direitos Civis, por exemplo. 

Conforme a ficção científica e outros gêneros especulativos se popularizam na população negra, alguns escritores negros também têm escrevido obre temas considerados “mais universais” com protagonistas afro-americanos. Embora não abordem tão diretamente assuntos relacionados a raça, tais narrativas são emblemáticas, principalmente porque historicamente a ficção científica ignorou personagens que não fossem brancos.

A ficção especulativa por escritores negros está sendo cada vez mais reconhecida nos grandes circuitos, conforme um crescente número de fãs se mostra interessado nestas histórias. As narrativas não atraem somente leitores negros, pessoas de diferentes cores, ascendências e bagagens culturais se identificam com os protagonistas e se interessam por suas histórias.

Alguns dos principais autores negros mais populares dentro da ficção especulativa são Octavia E. Butler, Walter Mosley, Nalo Hopkinson e Tananarive Due.

Mulheres na ficção especulativa

Embora o número de mulheres fãs de ficção especulativa seja expressivo, elas ainda são minoria dentre autores do gênero – mesmo diante do fato de que o primeiro livro considerado de ficção científica tenha sido escrito por uma mulher: Frankenstein, de Mary Shelley.

Em 1948, apenas entre 10% e 15% dos autores do gênero eram mulheres, o que justifica o fato de que a ficção especulativa era chamada de “um gênero de homens, escrito por homens”. Isso refletiu bastante na representação de personagens mulheres dentro destas histórias, que mudou ao longo das décadas.

Assim como ocorre em outros tipos de histórias, tradicionalmente o papel de mulheres na ficção especulativa se resumia ao de vilã ou da donzela em apuros. Geralmente elas são atraentes e vestidas de maneira provocativa e precisam da validação do homem que é o herói da história.

Conforme narrativas mais contemporâneas surgem, os papéis de gênero têm mostrado evolução – principalmente pelo crescimento do número de autoras mulheres de ficção especulativa. Mulheres têm sido retratadas como protagonistas, algumas vezes guerreiras, e que conseguem pensar por conta própria.

Em histórias como O Ano das Bruxas e O Conto da Aia, a própria questão de como a mulher é tratada na sociedade se tornou o tema central da trama. Através da ficção, as autoras questionam a maneira como as pessoas têm tratado as mulheres em um passado não muito distante e em um presente ainda preocupante.

Por mais que o espaço de autoras de ficção especulativa esteja crescendo, elas ainda representam apenas 37% dos escritores do gênero. Alexis Henderson é um exemplo recente de uma autora jovem e que já mostrou que tem muito a contribuir com a literatura. Que ela sirva de inspiração para outras mulheres que têm muitas histórias para contar.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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2 Comentários

  • ersiro

    23 de setembro de 2022 às 10:47

    texto muito bom e parece um ótimo introdutório para O Ano das Bruxas. Lerei ele agora em outubro, no mês do Halloween. Obrigado por trazer a obra e este artigo, Caveirinha!

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