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ArtigoCrime Scene

O que torna alguém um serial killer?

Em busca da origem dos comportamentos criminosos

15/03/2023

Sempre que algum caso envolvendo serial killers vem à tona, uma das primeiras associações feitas diz respeito à monstruosidade, como se tais criminosos fossem uma criatura alheia ao conceito de ser humano. Fora dessa projeção, sabemos que os assassinos em série são compostos pela mesma fisiologia de qualquer outra pessoa, o que acende perguntas sobre os motivos que levam alguém a tratar com tanta brutalidade um semelhante. Afinal, o que torna alguém um serial killer?

LEIA TAMBÉM: OS 6 PRINCIPAIS MITOS SOBRE SERIAL KILLERS

Foi em busca de respostas como essa que os criminólogos e pesquisadores Michael H. Stone e Gary Brucato criaram um método de classificação para tentar compreender, ou ao menos catalogar, o “mal” que toma conta da mente desses criminosos. 

No livro Cruel: Índice da Maldade eles apresentam o seu Índice, composto por 22 padrões que auxiliam na classificação de crimes violentos. Neles, os autores examinam os fatores biológicos e psiquiátricos por trás dos assassinatos em série, estupros em série, torturas, assassinatos em massa e outras formas de violência.

cruel indice da maldade

Em busca das origens dos serial killers

Nos casos específicos dos assassinos em série, não há uma resposta simples e muito menos definitiva. Em Serial Killers: Anatomia do Mal, Harold Schechter compila um rico dossiê sobre esse tipo de criminoso, com direito a estudos de casos reais, uma análise crítica sobre como as investigações de serial killers evoluíram ao longo das décadas, além de motivações e traços característicos compartilhados por eles.

Segundo o autor, “o padrão clássico do assassino em série é uma caricatura grotesca do funcionamento sexual normal”. Isso não significa que todos os crimes terão uma conotação sexual explícita, mas de uma excitação semelhante relacionada ao sofrimento e à morte das vítimas. Não é por acaso que a obra dedica um capítulo inteiro à relação entre sexo e assassinatos em série.

serial killers anatomia do mal

Mas isso ainda não responde completamente a questão das origens desses criminosos — até porque não há uma resposta simples, que possa ser aplicada a todos os casos. Sempre que nos deparamos com crimes como os de Jeffrey Dahmer ou Ted Bundy tentamos encontrar respostas racionais. Normalmente as especulações se direcionam a causas como abuso infantil, desequilíbrio bioquímico ou qualquer outra “justificativa” minimamente compreensível. Porém, os mistérios da mente humana nem sempre podem ser elucidados com base na razão.

LEIA TAMBÉM: A PSICOLOGIA POR TRÁS DE JEFFREY DAHMER

Para o historiador e jornalista Peter Vronsky, que já escreveu diversas obras sobre serial killers, ainda não foi possível isolar um desses fatores para consolidar uma “fórmula” de assassinos em série. Em entrevista ao The Guardian ele explicou: “Meu argumento principal é de que está intrínseco à sobrevivência humana o mecanismo de termos a capacidade de matar repetidamente. Assassinos são anacronismos em que esse instinto primitivo não está sendo moderado pelas partes mais intelectuais do nosso cérebro”.

O pesquisador alerta que não é simplesmente isso que define um serial killer — senão todos seríamos potencial assassino em série. A “permanência” desse instinto poderia estar associada a algumas questões intrínsecas ao desenvolvimento daquele indivíduo, como criação familiar ou traumas de infância. “Muitos serial killers são sobreviventes de algum trauma no início da infância — abuso físico ou sexual, disfunção familiar, pais ausentes ou emocionalmente distantes. Trauma é um tema recorrente nas biografias da maioria dos assassinos.”

Origens na infância

Quem também se dedicou a compreender a mente dos assassinos em série foi Robert K. Ressler, que escreveu com Tom Schachtman o livro Mindhunter Profile: Serial Killers. Ressler é um ex-agente do FBI que ajudou a criar os parâmetros utilizados pelo bureau para a investigação desses assassinos.

mindhunter profile

No livro em questão, ele afirma que os comportamentos precursores dos homicídios se desenvolvem por longos períodos, começando na infância. Mas engana-se quem pensa que todos eles tenham passado por lares desfeitos e miseráveis: a amostra do estudo de Ressler revela que muitos deles vieram de famílias aparentemente estáveis.

Porém, apesar das aparências, a maioria desses lares apresentavam seus próprios problemas, conforme o autor revela no livro de acordo com a sua pesquisa:

– Metade dos entrevistados apresentava casos de doença mental no círculo familiar mais próximo;

– Metade deles também tinha pais envolvidos em atividades criminosas;

– Quase 70% exibiam histórico familiar com algum caso de abuso de álcool ou drogas;

– Todos os assassinos foram submetidos a violência emocional na infância;

– Todos se tornaram aquilo que psicólogos chamam de adultos sexualmente disfuncionais, ou seja, incapazes de manter um relacionamento consensual saudável com outra pessoa.

É óbvio que nem toda criança vítima de abusos irá se tornar um assassino, mas a maioria dos assassinos entrevistados sofreu com algum trauma familiar. Ou seja, a condição familiar não é suficiente para a criação de um serial killer, mas um fator necessário.

Vronsky, no entanto, avalia que esse fator também deve ser observado com cautela: “A maioria das biografias dos serial killers é autodeclarada, então você acaba dependendo do que eles te contam”. O historiador cita o caso de Ted Bundy, de quem nenhum especialista conseguiu extrair algum grande trauma de infância, no sentido mais dramático. Bundy, no entanto, cresceu acreditando que sua mãe era sua irmã.

Características comuns entre serial killers

Em sua catalogação de assassinos em série, Robert K. Ressler e seu colega John Douglas identificaram algumas características em comum entre os 36 criminosos encarcerados entrevistados por eles. Na época, eles identificaram esses dez traços:

1. Homens brancos solteiros;

2. Tendência a QIs altos;

3. Apesar dos altos QIs, têm fraco desempenho escolar, histórico de empregos irregulares e acabaram se tornando trabalhadores não qualificados;

4. Ambiente familiar extremamente conturbado: normalmente abandonados na infância por seus pais, cresceram em lares disfuncionais;

5. Longo histórico familiar de problemas psiquiátricos, comportamento criminoso e alcoolismo;

6. Histórico de abusos físicos, sexuais ou psicológicos na infância;

7. Devido ao ressentimento em relação aos pais, têm dificuldade de lidar com figuras de autoridade masculinas e nutrem hostilidade pelas mães;

8. Manifestam problemas mentais precocemente, muitas vezes internados em instituições psiquiátricas ainda na infância;

9. Extremo isolamento social e ódio generalizado pelo mundo;

10. Demonstram interesse precoce e duradouro pela sexualidade degenerada e são obcecados por fetichismo, voyeurismo e pornografia violenta.

É importante destacar que esse foi um dos primeiros estudos realizados sobre assassinos em série, com uma amostragem limitada e conduzida há décadas. Trata-se de um recorte muito específico sobre os achados naquela época. Nos últimos anos as pesquisas sobre o tema conseguiram se tornar mais amplas, observando outras características que podem ser percebidas como sinais de alerta, como torturar animais ainda na infância.

Quanto mais sabemos, menos compreendemos

Porém, como o próprio Peter Vronsky afirma, “estamos nos debatendo em volumes de informação, mas com pouco conhecimento saindo de fato dessas informações”. Para ele, quanto mais pesquisamos sobre o tema “serial killers”, menos parecemos saber sobre ele

“Somente agora estamos nos dando conta do quão pouco sabemos. Parte disso acontece porque quanto mais casos de serial killers estudamos, menos evidentes os padrões parecem ser. Estamos começando a perceber várias anomalias”, avalia Vronsky.

Conforme a sociedade se torna mais científica e menos filosófica, mais difícil se torna a tarefa de tentar explicar o que motiva alguém a se tornar um assassino em série. Longe da definição distante de que eles seriam meros “monstros”, caminhamos cada vez mais para uma explicação bem humana, porém abstrata: o “mal”. Tudo indica que Stone e Brucato estão na pista certa: um Índice da Maldade parece ser mais do que necessário para começar a entender essas mentes criminosas.

LEIA TAMBÉM: 5 SERIAL KILLERS ESTUDADOS POR ROBERT K. RESSLER

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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