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O Retrato de Dorian Gray e outros exemplos de Barganha Faustiana

Cuidado com o que você deseja pois isso pode vir com um alto custo

24/01/2022

O que você faria para ficar jovem para sempre? Algumas pessoas investem em cirurgias plásticas, cosméticos antirrugas e alimentos com propriedades antioxidantes. Para o personagem-título de O Retrato de Dorian Gray, dizer que daria tudo para manter a aparência jovem e bela de seu retrato, enquanto o quadro envelhecia em seu lugar, foi suficiente.

Na clássica história de Oscar Wilde, Dorian Gray é um homem hedonista, que acredita que a vida só vale realmente a pena quando se pode desfrutar de suas paixões. A beleza da arte seria mais importante do que a própria realidade, e manter-se jovem é a melhor forma de aproveitar os prazeres da vida.

Fascinado pelo retrato feito por Basil Hallward, ele instantaneamente se dá conta de sua mortalidade e de que irá envelhecer enquanto sua representação no quadro permanecerá a mesma. Dorian expressa que “não há nada no mundo que não ofereceria em troca” da juventude do quadro. A princípio inadvertido sobre a força de seu desejo, Dorian Gray havia selado uma Barganha Faustiana, mantendo sua juventude enquanto o retrato seria deformado pela idade e pelos pecados cometidos pelo personagem.

O que é a Barganha Faustiana e de onde ela vem

Seria mais simples chamar o que Dorian Gray fez de pacto com o diabo, mas a Barganha Faustiana vai além. Nem sempre este tipo de acordo é feito necessariamente com o diabo, mas sim com alguma entidade maligna que vai além do personagem bíblico da Besta. No caso do livro de Oscar Wilde, nem o leitor e nem o próprio Dorian sabem exatamente que força seria essa, até porque o diabo ou seres malignos não aparecem com duas vias de contrato com firma reconhecida em cartório para selar este tipo de acordo.

A Barganha Faustiana é um pacto em que uma pessoa troca algo de extrema importância moral ou espiritual, como valores pessoais ou a própria alma, por algum benefício material ou mundano, como sabedoria, poder, riqueza ou, no caso de Dorian Gray, juventude eterna. Nem sempre a pessoa que entra no acordo está consciente dele, funciona mais como um “cuidado com o que você deseja”, como no caso do clássico de Wilde.

O termo é uma referência à lenda de Fausto, um personagem do folclore alemão que concorda em submeter sua alma a um espírito maligno chamado Mefisto, que é uma representação de Satanás. O motivo da troca é desfrutar de conhecimento inatingível e poderes mágicos que lhes deem acesso a todos os prazeres possíveis de serem desfrutados na Terra – tudo isso por um período antes que ele, eventualmente, entregue sua alma.

A Barganha Faustiana é sempre estabelecida com algum poder maligno ou imoral, nem sempre o próprio diabo. Essas histórias são caracterizadas pelo desfecho trágico de quem se submeteu ao pacto, afinal, o objeto da troca sempre acaba se mostrando mais valioso do que aquilo que o negociador pretendia obter.

4 Exemplos de Barganha Faustiana na cultura pop

Além de O Retrato de Dorian Gray e da peça Fausto, de Johann Wolfgang Goethe, a Barganha Faustiana permanece bem popular na indústria do entretenimento. Confira a seguir algumas obras cujas histórias são centradas nesta negociação macabra:

1. Death Note

Neste mangá que também foi adaptado para anime, um jovem descobre um caderno com propriedades malignas: basta escrever o nome de uma pessoa em uma de suas páginas que ela em breve morrerá. O objeto letal havia sido derrubado de propósito na terra por um shinigami porque ele estava entediado.

Há diversas regras para quem utiliza o caderno mortal, e uma delas envolve negociar os olhos do shinigami para que o proprietário do caderno possa matar alguém sem precisar do nome, bastando apenas saber a aparência do rosto. Mas isso tem um custo: metade da expectativa de vida do dono do caderno.

2. Hellblazer

Na série “Hábitos Perigosos” da HQ Hellblazer, John Constantine é diagnosticado com um câncer de pulmão terminal e descobre que tem pouco tempo de vida. O anti-herói que é um mago e detetive ocultista decide se curar, uma vez que sua alma já está condenada ao inferno por um acordo prévio com Satanás.

Ao pedir a ajuda de um amigo na Irlanda chamado Brendan Finn, ele tem seus planos frustrados ao descobrir que o colega também está morrendo. Quando Satanás vem buscar a alma do amigo, Constantine descobre que Brendan havia vendido sua alma pela maior coleção de vinhos do mundo – um acordo que a entidade maligna concordou em fazer por pura diversão.

Quando Constantine está prestes a morrer, ele vende sua alma a dois outros Senhores do Inferno: Azael e Belzebu. No momento em que Satanás vem buscá-lo durante sua morte, fica surpreso ao descobrir que já são três entidades demoníacas com quem Constantine havia negociado a própria alma.

3. O Bebê de Rosemary

O filme adaptado do livro de Ira Levin conta a história de um jovem casal morando em Nova York com alguns vizinhos meio esquisitos. Guy Woodhouse é um aspirante a ator que de repente começa a dar muita sorte para conseguir trabalho, fama e sucesso. Quando sua esposa Rosemary fica grávida, ela começa a desconfiar das boas intenções dos vizinhos que constantemente se intrometem na vida do casal.

No fim das contas, a paranoia se confirma: seu marido havia feito um pacto por meio dos vizinhos, que se revelaram ser parte de um culto satânico. A barganha daria fama e sucesso a Guy em troca do bebê, fazendo com que Rosemary desse à luz o filho do Anticristo.

4. Star Wars

Anakin Skywalker era um padawan com muito medo, e como o próprio Yoda disse, “medo leva ao lado negro da Força”. Perturbado por visões de sua amada Padmé morrendo e influenciado por Palpatine, que sempre soubemos ser um Sith, Skywalker se rende ao lado negro, acreditando que esta é a única forma de salvar a amada.

Porém, assim como na maioria das Barganhas Faustianas, isso vem com um alto preço: ao entregar seus poderes e habilidades de Jedi à causa Sith, ele acaba colaborando com uma profecia autorrealizável. A profunda decepção de Padmé com a pessoa que Anakin se tornou é justamente o que causa sua morte. Se ele nunca tivesse se virado contra os Jedi, os Skywalker poderiam ser uma família feliz – só que daí não teríamos Star Wars.