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Perguntas, respostas e teorias sobre Donnie Darko

Filme é cercado de mistérios até hoje

08/09/2021

Responda com honestidade: você realmente entendeu Donnie Darko desde a primeira vez que assistiu ao filme? Sem nenhum tipo de ajuda? Desvendar o pesadelo surrealista de Richard Kelly é uma tarefa que exige algumas assistidas, e até mesmo pesquisa, livro, fóruns de discussão on-line, entrevistas do cineasta… e ainda assim ficar com algumas pulgas atrás da orelha.

O que acontece a partir do momento da queda da turbina? Quem é Frank? O que explica aquele final? Estas são apenas algumas das muitas dúvidas que pipocam na cabeça de qualquer pessoa que se depara com o filme pela primeira vez (ou pela segunda, terceira…).

Richard Kelly fez um excelente trabalho em criar mistérios em torno de sua trama. Mas o nonsense completo também pode afastar o público, por isso, providenciou bastante material extra para guiar o público mais dedicado a entender os principais aspectos do filme, por meio de entrevistas, trechos do livro fictício A Filosofia da Viagem no Tempo, uma nova versão do filme e extras no DVD.

Embora alguns aspectos da história Kelly prefira deixar misteriosos, estes materiais deram suporte suficiente para gerar burburinho nos fóruns de internet e responder aos principais questionamentos dos fãs, seja de maneira certeira ou pela elaboração de teorias. Confira algumas delas a seguir:

Aviso: As respostas a seguir têm spoilers de Donnie Darko

Como a viagem no tempo se encaixa no filme?

Muitos dos eventos de Donnie Darko estão explicados em A Filosofia da Viagem no Tempo, que tem alguns trechos abordados por Donnie (Jake Gyllenhaal) na sessão de terapia, mas não o suficiente para entender tudo. O filme lida com dois universos: Primário e Tangente, assim como algumas teorias de viagem no tempo que exploram a mudança de eventos no passado.

Segundo o livro de Roberta Sparrow (Patience Cleveland), o Universo Tangente é criado quando surge um artefato que não deveria estar ali – no caso, a turbina de avião que cai no quarto de Donnie no início do filme, cuja origem é absolutamente desconhecida. A partir deste momento, abre-se esta espécie de mundo paralelo em que Donnie escapou da morte por ter ouvido o chamado de Frank em seu sonambulismo, tornando-se o Receptor Vivo, de acordo com o livro.

Em uma espécie de gratidão por acreditar que Frank salvou sua vida, Donnie passa a obedecer a todas as ordens do misterioso coelhão, como inundar a escola e incendiar a casa de Jim Cunningham (Patrick Swayze), de quem Donnie já não gostava muito. Tudo isso é corroborado pela descrição do Receptor Vivo no livro da Vovó Morte.

Só que nessa contagem regressiva para o fim do mundo, a verdadeira missão de Donnie é devolver o artefato ao Universo Primário, acabando com este mundo paralelo.

Quem é Frank?

No fim do segundo ato, muita gente pode ter se decepcionado com o fato de Frank ser apenas um adolescente vestido de coelho, mas a resposta não é tão simples assim. Neste Universo Tangente, Frank pode ser uma espécie de alterego do próprio Donnie, o inconsciente que orienta suas atitudes para que ele cumpra seu papel como Receptor Vivo.

Em uma conversa aparentemente despretensiosa dos pais de Donnie logo após o primeiro acidente com a turbina, eles comentam sobre um Frankie da época de colégio, que morreu a caminho do baile de formatura. O pai de Donnie chega a dizer que “era a hora dele”.

Considerando o desfecho de Donnie no filme, podemos levantar a hipótese de que o Universo Tangente já se formou em outro momento e que aquele Frankie teria sido o Receptor Vivo daquela época. Desta vez, ele teria aparecido para orientar Donnie em sua missão.

Onde entra Vovó Morte na história?

Além de escrever o livro, é possível que ela tenha sido uma Receptora Viva também, talvez a primeira de todos. O fato de ela estar o tempo inteiro no meio da rua provavelmente ocorre porque ela sabia que em algum momento um carro precisaria desviar dela para atropelar Gretchen (Jena Malone) e colocar Donnie em sua missão de devolver o artefato.

A fixação da personagem em olhar a caixa de correio também faz sentido. Pelo voiceover do final do filme, entende-se que Donnie deixou uma carta para ela explicando suas conclusões e ações. Ela estava o tempo inteiro esperando por esta correspondência e a confirmação de que os eventos voltaram ao Universo Primário.

Qual o papel de outros personagens na missão de Donnie?

Em determinado momento, Donnie questiona a veracidade do livre-arbítrio se entendemos que tudo o que ocorre no mundo está pré-determinado. Ao longo do filme, percebemos que as ações de Donnie, assim como toda a cadeia de eventos, ocorre por influência de alguns personagens, como Frank, Gretchen, Kitty Farmer (Beth Grant) e a professora Karen Pomeroy (Drew Barrymore), por exemplo.

Dentro do contexto de A Filosofia da Viagem no Tempo, eles representam os Mortos Manipulados e os Vivos Manipulados. Suas ações fazem com que Donnie assuma seu papel e cometa o sacrifício final. Por exemplo: se Frank não tivesse mandado que Donnie tivesse incendiado a casa de Jim, Kitty teria viajado para a Califórnia no lugar da mãe de Donnie, que sofre o acidente de avião quando o fim do mundo ocorre.

O que acontece no final de Donnie Darko?

Entendendo seu papel como Receptor Vivo, e compreendendo que a única forma de voltar ao Universo Primário, preservando as vidas de Gretchen, sua mãe e irmã, Donnie assume seus poderes telecinéticos para devolver o artefato (turbina) ao Universo Primário.

Resumidamente, todo esse caos se instaurou porque Donnie não estava no local certo e na hora certa no início do filme: ele deveria ter sido atingido por aquela turbina e morrido, evitando que todos os outros eventos ocorressem. Ao enviar a turbina, ele consegue voltar ao começo do mês, apagando todos os eventos do Universo Tangente e restaurando o Universo Primário (ao custo da própria vida).

Porém, aquele misterioso aceno de Gretchen para a mãe de Donnie no final pode indicar que nem tudo se perdeu ali. Talvez alguns dos envolvidos tivessem alguma lembrança do que ocorreu no Universo Tangente.

Entre o que faz sentido no mundo de Donnie Darko e o que é só especulação há uma linha muito tênue. Ao mesmo tempo em que desafia o público, Richard Kelly prefere manter algumas partes misteriosas (possivelmente até para ele próprio), preservando a magia e as reflexões abertas para estas e as próximas gerações.

O universo de Donnie Darko ultrapassa as telas

DONNIE DARKO, o livro lançado pela DarkSide Books®, apresenta na íntegra o roteiro original. A primeira materialização da história, sua chance de conhecer a visão original dessa intrigante obra-prima. Kelly escreveu Donnie Darko muito antes de conseguir ordenar luzes, câmera, ação. E mesmo sem atores, figurinos e efeitos especiais, Donnie já estava lá, angustiado com o fim do mundo anunciado por um arauto vestido de coelho.

O livro também surpreende pelo conteúdo extra: prefácio exclusivo assinado por Jake Gyllenhaal, entrevista com Richard Kelly sobre todo seu processo de criação. Uma verdadeira aula sobre o amor ao cinema e as armadilhas da indústria do entretenimento e traz uma surpresinha a mais: A Filosofia da Viagem no Tempo. Isso mesmo, uma reprodução de trechos do livro escrito por Roberta Sparrow, a Vovó Morte do filme.

4 Comentários

Marcos Xavier

13 de outubro de 2023 às 00:09

Marcos Xavier

13 de outubro de 2023 às 00:09

interessante mas ficou de fora a discussão sobre realidade . como os professores constroem o real na cabeça dos alunos e aqueles que fogem da programação são punidos “não posso discutir isso com você” “porque?” ” se fizer isso serei demitido”

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Leona Scartaris

26 de maio de 2024 às 11:24

Leona Scartaris

26 de maio de 2024 às 11:24

Marcos Xavier, não sei se entendi corretamente o que você quis dizer com “programação” (nesse caso, seria um sinônimo para doutrinação talvez?), mas o professor não deu prosseguimento à discussão porque a resposta dele à colocação do Donnie sobre um futuro predeterminado ou um “canal de deus” provavelmente iria contrariar religião com ciência, e isso seria algo que o aluno poderia reportar aos pais dele, que reclamariam com a diretoria e isso acarretaria a demissão do professor. Assim como já havia acontecido com a professora de literatura ao usar em aula um livro que desagradou os pais mais conservadores dos alunos e acabou sendo demitida pouco tempo depois.
O professor de ciências não quis arriscar perder o emprego por uma possível reação negativa do Donnie (que sequer acreditava em deus, segundo a psicóloga dele) a uma abordagem científica e não religiosa, e decidiu acabar a discussão ali para evitar problemas muito maiores.
Esse tipo de situação é muito real, e a meu ver não é o aluno que está sendo punido.

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Tiago Soares

31 de agosto de 2024 às 23:56

Tiago Soares

31 de agosto de 2024 às 23:56

ok. mas a turbina voltou a aparecer do nada matando ele. se ela não deveria estar lá, como ela pôde estar lá?

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Diego

3 de setembro de 2024 às 01:41

Diego

3 de setembro de 2024 às 01:41

No final das contas o professor deixa de responder a questão pois caso decida ter uma abordagem mais desafiadora ele poderia ser punido, da mesdma forma que aconteceu com a professora, que usou uma obra instigantepara ensinar seus alunos, mas que alguns adultos viam como nociva a valores mais tradicionais. Ou seja, a leitura é o exato oposto do primeiro comentário, quem poderá ser punido é o professor, caso transgrida a “programação” tradicionap da sociedade. Agora pra entender como isso se relaciona com o restante do filme é preciso usar a imaginação, eu, por exemplo, acredito ter conexão com a temática cíclica, tão cara a obra. O próprio personagem está vivendo em um looping e podemos discutir que a sociedade está sempre em voltas sobre seus valores, punindo aqueles que pensem diferente. Aqui a visão do espaço escolar é o mesmo que em The Wall do Pinky Floyd, uma instituição conservadora que obriga professores e alunos a reproduzirem os valores tradicionais, isso fica bem claro no embate entre as professoras e a vitória da mais conservadora. A ideia de doutrinação do professor que o primeiro comentário parece querer fazer está mais em sintonia com teorias da conspiração da atualidade e, convenhamos, não tem qualquer suporte na realidade.

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