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Por que assassinos continuam atraindo a atenção no true crime?

Anatomia de uma Execução questiona nossa obsessão por crimes reais

10/07/2024

Você pode amar ou odiar, mas uma coisa é certa: o true crime é um gênero que veio para ficar. São inúmeros documentários, podcasts, livros e programas de televisão que trazem casos que vão desde assassinatos até elaborados golpes financeiros. No entanto, parece que entre tantos temas e crimes notórios, há um tipo que recebe atenção especial no mundo do true crime: os assassinos em série.

LEIA TAMBÉM: POR QUE ESTAMOS OBCECADOS POR TRUE CRIME?

Obviamente que a grande maioria das pessoas que consome esse tipo de conteúdo vai responder que despreza serial killers e não deseja de forma alguma glorificá-los (ainda bem!). No entanto, apesar de comportamentos e atitudes condenáveis, e de suas histórias já serem amplamente conhecidas, esses indivíduos continuam constantemente recebendo atenção midiática, sendo os assuntos mais populares de documentários e podcasts do gênero. 

A polêmica vai além quando lembramos que muitos deles acabam de certa forma romantizados por meio de filmes e séries ao serem interpretados por atores convencionalmente atraentes e no auge de suas carreiras. É o caso de Ted Bundy, interpretado por Zac Efron em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (já começamos mal com esse título), e Jeffrey Dahmer, interpretado por Evan Peters em Dahmer: Um Canibal Americano.

ted bundy zac efron

Isso com certeza levanta muitas perguntas: por que assassinos em série continuam atraindo tanta atenção no mundo do true crime? Por que apesar de seus crimes horrendos continuamos lembrando seus nomes e muitas vezes esquecendo os nomes de suas vítimas? Por que esse fascínio mórbido com tais indivíduos? 

Uma relação entre presa e predador

Muitos especialistas afirmam que uma forma de entender o fascínio coletivo por assassinos em série é por meio da relação evolutiva entre predadores e presas. No mundo animal, por exemplo, as presas compartilham o mesmo ambiente que seus predadores e aprendem a identificá-los, assim como seus comportamentos, sabendo assim quando estão com fome ou caçando. Basicamente, é um instinto de sobrevivência adquirido com o tempo

Contudo, aprender sobre predadores não é algo importante apenas para os animais, mas também para os seres humanos. Esta relação que antes buscava sobrevivência diante de um ataque animal, como um leão, por exemplo, se estendeu para as relações humanas, ao enfrentarmos o risco de sermos predados por pessoas perigosas. Desta forma, nossa mente lida com estes indivíduos de forma parecida: tentamos aprender tudo sobre eles e evitá-los da maneira mais segura possível. 

livros crime scene

Aqui entramos em uma questão importante: os seres humanos possuem uma capacidade exclusiva de imaginar eventos e situações, vivenciando-as por meio de simulações mentais. Isso significa que, ao imaginar situações perigosas, como enfrentar um assassino em série, os seres humanos conseguem construir cenários que geram oportunidades de aprendizado sem colocar sua integridade física em risco. 

Nesse sentido, documentários e podcasts centrados em assassinos em séries funcionam como maneiras seguras de aprendermos sobre essas ameaças e indivíduos predatórios. Por que eles se comportam assim? Quais suas motivações? Quais são os sinais? Ao assistir um documentário ou escutar um podcast sobre Ted Bundy, por exemplo, não enfrentamos nenhum perigo real, mas nossa mente “aprende” algo sobre o que aconteceu. Ou seja, isso funciona de forma a nos acalmar mentalmente e ensinar a enfrentar, identificar e evitar tais situações no conforto e segurança de nosso lar.

Junto a isso, soma-se o fator da curiosidade mórbida. Desde os tempos remotos, o ser humano carrega uma fascinação por histórias de assassinatos e pela punição dos indivíduos responsáveis por eles. Entre tantos motivos, tais histórias nos fazem questionar nossa própria humanidade, já que somos confrontados com atos cruéis e grotescos cometidos por indivíduos como nós mesmos. 

Nisso, surge outro ponto importante que aumenta esse interesse. Assassinos em série são ameaças decididamente humanas e muitas vezes “invisíveis” que se camuflam no cotidiano coletivo. Não existe um indício visível da ameaça representada por eles, o que significa que o perigo pode literalmente morar ao lado ou até mesmo dentro da sua casa. Basta lembrar da quantidade de casos de serial killers que possuíam famílias que não imaginavam a verdade sobre seus entes queridos. Um dos exemplos mais notórios foi Dennis Rader, conhecido como BTK. Anos mais tarde, sua filha, Kerri Rawson, publicou BTK: Meu Pai, um corajoso livro de memórias sobre a dor de descobrir que seu pai era um homem brutal e sádico responsável por tantas mortes.

btk meu pai

Síndrome de Bonnie & Clyde

Agora que temos um vislumbre sobre o fascínio coletivo por assassinos em série, surge outra pergunta difícil: por que algumas pessoas chegam a se relacionar com eles mesmo após a descoberta de seus crimes? Você provavelmente já deve ter escutado histórias de serial killers que se casaram na prisão e de tantos outros que receberam cartas e presentes de uma quantidade assustadora de admiradores. 

Existem diferentes explicações para esse comportamento. Segundo a autora Sheila Isenberg, muitas das mulheres que acabam se relacionando com assassinos em série encarcerados buscam um “relacionamento idealizado” que foge dos afazeres e dificuldades do cotidiano. Isso permite uma relação de poder, sendo a primeira vez em suas vidas que tais mulheres assumem o controle de seus relacionamentos, já que estes homens nunca serão libertados e as relações raramente se tornam físicas.

Simultaneamente a isso, elas ainda podem viver um “romance” onde recebem atenção constante por meio de cartas, poemas e quadros. Vale lembrar que muitos assassinos em série são extremamente narcisistas e manipuladores, possuindo a capacidade de serem carismáticos e charmosos, encantando pessoas vulneráveis ao fazer com que estas se sintam privilegiadas por pertenceram a algum tipo de vínculo especial. Tais relacionamentos são construídos assim de forma completamente dissociada do cotidiano e não se sustentam sem o controle e os limites impostos pelas paredes da prisão.

ted bundy e carole ann boone

Outra razão instrumental é o ganho de atenção. Muitas vezes, as pessoas acabam se aproximando de assassinos em série para receber parte de sua notoriedade e fama. Por mais absurdo que seja, é um caminho encontrado para ganhar status, entrevistas e ter sua foto publicada na internet e nos jornais. De acordo com o psiquiatra forense Sohom Das, isso pode ser ligado mais recentemente a uma adoração a celebridades e ao fenômeno dos reality shows, que reforçam a busca por fama a qualquer custo. 

Há ainda um termo dentro da psicologia para esse fenômeno: hibristofilia, uma parafilia que envolve desde se sentir sexualmente atraído a assassinos em série e outros criminosos que tenham cometido atos ultrajantes até um apego “idealizado” ou “romântico”, como acontece no caso das cartas de “fãs” enviadas para as prisões. 

Ou seja, a hibristofilia consiste no interesse e na atração por indivíduos que cometerem crimes violentos e que podem estar ou não presos. Em casos extremos e agressivos de hibristofilia, a pessoa pode até querer praticar atos violentos ao lado do assassino. Isso fez com que o termo fosse popularmente conhecido como Síndrome de Bonnie e Clyde, em homenagem ao famoso casal de assaltantes da década de 1930.  

bonnie e clyde

Dentro da hibristofilia, Sohom Das ainda elenca outros fatores que fazem com que pessoas, especialmente mulheres, se engajem em relacionamentos com assassinos em séries, como complexo salvador e histórico de traumas

Anatomia de uma Execução: disseque a mente de um serial killer

Há anos que a Caveira possui uma marca inteira dedicada ao true crime, a Crime Scene. Com títulos voltados a histórias e crimes reais, escritos por especialistas e autoridades no assunto, aqui o leitor encontra importantes obras investigativas de casos notórios e assassinos em série, como Ted Bundy: um Estranho ao meu Lado, Killer Clown Profile: Retrato de um AssassinoBTK Profile: Máscara da Maldade.

Já dentro da marca Crime Scene Fiction, a Caveira traz Anatomia de uma Execução, aclamado romance de Danya Kukafka, que mergulha na mente de um serial killer a partir das perspectivas das vítimas e mulheres ligadas a ele. Parte do projeto especial E.L.A.S. – Especialistas Literárias na Anatomia do Suspense, Anatomia de uma Execução reconta a vida de Ansel Packer, um psicopata fictício, por meio das experiências e traumas das diversas mulheres que passaram por sua vida. 

anatomia de uma execução

Desconstruindo o enredo comum dos serial killers, a obra de Danya Kukafka oferece um suspense que não apenas mergulha na mente e história deste assassino, como nos desafia a confrontar justamente o que significa ser humano diante de atos e indivíduos tão sombrios. Lançamento da DarkSide® Books, Anatomia de uma Execução questiona nosso entendimento de justiça e punição, ao mesmo tempo em que enfrenta nossa estranha obsessão cultural por crimes reais, especialmente a atenção que voltamos para determinados assassinos em série.  

LEIA TAMBÉM: POR QUE MULHERES GOSTAM DE LER SOBRE CRIME E SUSPENSE?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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