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¿Quién puede matar a un niño?: Um filme para testar muitos limites

Transgressor e subversivo — retire as crianças da sala

19/01/2024

Em toda videolocadora existe um lugar a ser evitado por cinéfilos de uma sensibilidade maior, mesmo entre os fãs de horror. Nessa prateleira menos visível e não raramente empoeirada, existe o que há de mais transgressor e subversivo na alma humana. Assassinatos, desmembramentos, violências físicas e psicológicas, cenas e personagens que irão traumatizá-lo, devastá-lo, arruiná-lo mesmo com o aviso dos melhores atendentes de que se trata de um grande filme. Esse é o caso do escolhido de hoje, clássico espanhol banido em muitos países, mas que pode ter inspirado escritores do calibre de Stephen King.

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Quando falamos em crianças, pensamos em coisas doces. Sorrisos, abraços, cumplicidade, amor incondicional aos pais. Mas quando falamos em crianças que foram expostas a violências, crueldades, ou mesmo crianças que foram desvinculadas de alguma maneira dos códigos morais da sociedade, corremos o risco de mergulhamos em um novo abismo. Essa é a premissa básica de ¿Quién puede matar a un niño?, que por aqui foi batizado de Os Meninos.

os meninos

O filme já começa testando nossa capacidade de presenciar horrores, exibindo, de forma documental, as atrocidades impostas a crianças no campo de concentração nazista de Auschwitz. Depois, somos convidados a visualizar os horrores da guerra contra a Coreia, contra o Vietnã, e também as consequências das bombas atômicas que aniquilaram Hiroshima e Nagasaki. Confrontamos o sofrimento real das crianças, o que visa oferecer um contraponto ao que ainda veremos nesse filme. Esse longo e assustador começo, de certa forma, é o momento onde o diretor Narciso Ibáñez Serrador nos questiona sobre até onde estamos dispostos a avançar no cinema de horror.

Do mundo da guerra somos lançados no mundo dos civis da cidade costeira espanhola de Benahavís, em uma praia ensolarada com crianças bem nutridas e papais e mamães sorridentes, satisfeitos em serem súditos do consumismo e fecharem os olhos para todo o resto. Felicidade que não dura muito, afinal de contas, o primeiro corpo aparece em poucos minutos, boiando na água azulada e cristalina.

A cidade não se abala, Benahavís está em festa, um verdadeiro carnaval de rua com fogos, desfiles e fantasias. 

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A movimentação acaba sendo um problema para o casal Tom e Evelyn, que chegam de ônibus e não conseguem se hospedar nos hotéis lotados da cidade. Solícito, o gerente de um dos hotéis indica uma pousada em outra área da cidade, algo “típico” que, segundo o homem, eles irão adorar. De todo modo, será só por uma noite, uma vez que o destino do casal é a ilha de Almanzora, distante quatro horas de barco da cidade.

Mesmo nesse começo, a relação inteligente que o diretor faz entre guerra e diversão é bastante presente, seja pelos corpos que aparecem na praia ou pelos fogos de artifício que explodem em cores e volume exagerados, se assemelhando à artilharia pesada. Também é perspicaz a ideia de aumentar exponencialmente a tensão com a protagonista Evelyn, que está esperando um bebê.

os meninos

O casal chega a Almanzora em um barco alugado por Tom, e logo é recepcionado por algumas crianças. Elas se mostram amigáveis e sorridentes, e ajudam inclusive no desembarque de Tom e Evelyn. Apenas um menino, que está pescando no deck, se mostra muito sério, com cara de poucos amigos. Mas o problema maior não está nesse menino, mas no povoado que se encontra bastante deserto a não ser pelas crianças (ao que tudo indica, há um tempo razoável). Existe uma tensão enorme no filme, desde os primeiros instantes.

os meninos

Percebemos do que se trata quando a primeira dessas crianças ataca um idoso com uma bengala, e tudo o que ela faz ao ser flagrada por Tom enquanto mata o homem é sorrir, como se estivesse brincando. A coisa vai além, transformando o idoso falecido em um brinquedo (é bem pior do que isso, mas vou deixar vocês assistirem).

Tom, sem saber exatamente como agir, decide poupar a esposa da verdade enquanto a deixa sozinha e grávida, e vai descobrir o que está acontecendo (é, Tom, isso não foi muito esperto da sua parte). Mas Evelyn continua em segurança, pelo menos por um tempo, enquanto Tom consegue descobrir o que está acontecendo. Existe um homem adulto, ferido e em pânico, que consegue explicar que as crianças parecem ter enlouquecido na noite anterior, e que ninguém da ilha conseguiu reagir, afinal: quem é capaz de matar uma criança? Tom também recebe chamadas telefônicas, pedidos de ajuda de outros sobreviventes, mas os idiomas são diferentes, então ele pouco ou nada compreende.

os meninos

Os horrores seguem em uma crescente, e as crianças não parecem mais se incomodar se são flagradas cometendo assassinatos, ou brincando com falecidos, elas apenas brincam e correm, sorrindo, sem nem mesmo se incomodar com a presença de Tom.   

A trama segue com Tom e Evelyn tentando fugir pela ilha, a tensão sempre é mantida no máximo, mesmo nos momentos em que eles conseguem alguma ajuda. Outro ponto interessante é a maneira como as crianças “inocentes” são convencidas pelas outras, e nesse ponto cabem algumas interpretações livres — outro mérito desse baita filme. Sendo uma produção de 1976, chega a impressionar o envolvimento de crianças e de um gore bastante impiedoso, autêntico, em um mesmo filme, o que enfatiza a coragem e ousadia do diretor, seja nessas cenas, ou nas mensagens morais transmitidas ao longo do filme. Isso sem mencionar os minutos finais: perturbadores, inesperados e traumáticos.

os meninos

As semelhanças de ¿Quién puede matar a un niño? com a adaptação de Colheita Maldita de Stephen King, de 1984, são mais que óbvias em alguns momentos, mas não deixemos essa parte ofuscar nenhum dos dois filmes que, mantidas as devidas proporções (e investimento) valem muito a pena. Muitos cinéfilos — e eu me incluo aqui — teriam dificuldade em eleger qual dos filmes é melhor, e eu roubaria um pouco mais pra esse aqui.

Mais do que nunca, é importante retirar as crianças da sala, e se você tiver a coragem de um fã adulto de horror, chegou a hora de apertar esse play.

os meninos

Vamos ou vamos? 

(Sentimos muito, mas não há escapatória…)

O trailer vocês conferem aqui:

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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