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The Curse: Está na água! (e essa é uma péssima notícia)

Uma boa dose de loucura lovecraftiana

29/09/2023

Bem, não é exatamente um segredo que nós adoramos filmes com um bom começo. E entendamos por esse “bom começo” uma cena de ação enigmática, uma trilha sonora que poderia ter sido escrita por Jonh Carpenter e um bom gancho, tudo isso em contraste com a calma de um subúrbio americano populado por criancinhas, grama verdinha e pessoas sorridentes.

“Está na água!”, um homem algemado, levado sob a custódia da polícia, previne em desespero. Mas o que está na água?

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Talvez essa pergunta tenha pegado vocês de jeito. Pois é, me pegou também. Principalmente porque a água está espalhada por todo esse planetinha cheio de vida. Em nossos alimentos, nos corpos dos nossos animais de estimação, em nossos próprios corpos — seja no sangue ou além dele.

A fim de descobrirmos essa e outras respostas (o motivo do rosto todos inflamado do homem sob custódia é outro exemplo), recuamos seis meses no tempo, para Tellico Plains, no Tennessee. A trilha sonora continua de primeira, e já adianto que ela é um baita acerto até o final do filme.

the curse

Na chegada à fazenda dos Crane, locação principal da trama, somos recebidos por Zachary (astro mirim da época, Will Wheaton também deu vida a Gordie Lanchance em Stand by Me, 1986). Zach faz sua aparição sendo perseguido por seu primo adotivo Cyrus, sequencialmente tomando umas bolachas no rosto juvenil. O bom cristão que o estapeia é seu padrasto Nathan, que assumiu a custódia de Zach depois de se casar com sua mãe. E como um cristão azedo e defensor da família e dos bons costumes, Nathan segue pregando palavras bíblicas e orações entre os bofetões e injustiças que pratica com sua família.

the curse

Entendemos depressa que a fazenda está passando por dias difíceis, e que a família residente na propriedade não experimenta sorte maior. Nathan é o típico patriarca-grosseiro-chucro, e embora sua esposa pareça decente, ela está bastante ansiosa por um pouco de amor verdadeiro (algo que ela planeja encontrar com um dos funcionários da fazenda).

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Em uma noite carregada de aventuras luxuriosas, tempestades e receios, algo novo encontra seu caminho até a Terra, despencando bem no meio da propriedade dos Crane, um meteorito fulgurante. Nesse ponto nossas lembranças lovecraftianas nos colocam em alerta, e o fazem com toda razão. Fato é que ninguém chama as autoridades locais, então o enorme meteorito continua na propriedade, servindo à curiosidade da vizinhança local. E por que não convocar o médico local, Dr. Alan Forbes, para dar umas marteladas com um formão no artefato desconhecido? O que poderia acontecer? Escorrer uma gosma? Sair um ET? E o que aconteceria se, horas depois, a coisa simplesmente desaparecesse, assim… da noite para o dia?

the curse

Baseado no conto de H.P. Lovecraft “The Colour Out of Space”, esse filme icônico foi dirigido por David Keith e fez sua estreia em 1987. Por aqui, acabou batizado de A Maldição: Raízes do Terror (título que não está nem certo e nem errado, mas é feio pra caramba).

Mas é certo que algumas ideias semeadas em The Curse são de uma potência ímpar, principalmente quando as relacionamos a assuntos recorrentes e ainda atuais, como agrotóxicos, contaminação de solo e de animais, doenças desconhecidas e veiculadas facilmente pelo planeta, seja pelos ventos, seres vivos, alimentos ou manancial hídrico.

Como nem tudo são más notícias, uma espécie de milagre da agricultura sequencia o sumiço da coisa que veio do espaço, uma ótima novidade para uma fazenda que mal conseguia manter a subsistência de sua família proprietária. Agora, tudo está verde e exuberante nas terras dos Crane, os frutos são grandes e de aparência saudável, e seu gosto parece… podre, gosmento e cheio de larvas. Absolutamente repugnante. Como diria Stephen King na pele de Jordy Verill: “Merda de meteoro“.

the curse

Os incidentes consequentes não demoram a atingir os animais, que se tornam violentos e imprevisíveis. Aliás, se você leu VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue e ficou com medo de galinhas (dá-lhe Jezebel), espere até assistir esse filme! E os animais podem não ser o maior dos problemas. As pessoas também passam a desenvolver afecções de pele, semelhantes a furúnculos. E perdem o juízo.

Outro cidadão importante na trama a ser mencionado é o corretor de imóveis Charlie Davidson, que também preside a junta comercial e a câmara municipal, e de escrúpulos não tem um único fio de cabelo. Oportunista, Charlie é um dos responsáveis por colocar a política e os interesses econômicos onde eles sempre estão: nos bastidores da desgraceira. Charlie está especialmente interessando na falência da família Crane, para comprar as terras que possuem um grande manancial de água, propício para a construção de uma possível represa. 

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Gradativamente, uma boa dose de loucura toma a vida das pessoas da fazenda e dos mais próximos a elas, e uma das primeiras vítimas é a matriarca, Frances, que parece ser a mais afligida pelos eventos. Já a função heroica da trama é assumida tanto pelo menino Zach quanto por Alan Forbes, o médico-cientista-acadêmico da região (não fica exatamente clara a sua formação, que oscila vez ou outra no filme).

Em quase todas as sequências assustadoras, The Curse se escora em alguma repugnância, o que sempre é um bônus se você suportar a carga. As cenas que envolvem os animais são um exemplo desses efeitos, que também se estendem às pessoas. Mesmo com o elemento visual, a espiral crescente de loucura entre os personagens é o que mais chama atenção, algo bastante ajustado com o universo de fobias de H.P. Lovecraft. Os efeitos especiais além dos corpos são discretos, e talvez por esse motivo — pelo “menos é mais” —, eles sejam convincentes. 

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Sendo ou não um fã ardoroso de ficção científica ou de H.P. Lovecraft, The Curse é recomendado a todo cinéfilo, pela construção do filme, de seus personagens e pela proximidade da trama, ainda que indireta, a dilemas sociais que ainda hoje nos assustam.

Minha palavra final nesse caso é que você aperte o play o mais rápido possível, e se precisar de um golinho de água durante o filme, certifique-se que ela esteja muito bem filtrada.

E falando em hidratação, vamos deixar uma amostra para vocês sentirem o sabor desse filme: 

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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