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EntrevistaGraphic Novel

Thiago Souto conta ao DarkBlog os caminhos de seu Labirinto

Confira a conversa exclusiva que a Caveira teve com o autor da HQ

27/01/2023

Da nostalgia da infância aos desafios do amadurecimento, Labirinto é um verdadeiro turbilhão de memórias e aventuras que se perdem e se encontram nas vibrantes páginas da HQ de Thiago Souto publicada pela DarkSide® Books.

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Embora seja fruto de uma experiência absolutamente pessoal, a história ultrapassa fronteiras geográficas e encontra eco em pessoas de diferentes cantos do mundo que se identificam com a jornada de Nico e Góreck.

A Caveira desvenda todos os caminhos do Labirinto de Thiago Souto em uma conversa repleta de nostalgia, que, assim como a graphic novel, também irá gerar muita identificação com os DarkSiders. Você acabou de ser convocado para essa aventura:

DarkSide: Labirinto é uma HQ dedicada a resgatar memórias e sensações da infância. Quais as principais lembranças que você carrega dessa fase da vida?

Thiago Souto: Com certeza estão relacionadas com o bairro onde cresci, que, apesar de estar localizado na capital (São Paulo), era muito distante e isolado da região central. Acho que, em muitos aspectos, foi a típica infância do moleque dos anos 1980, que passava as tardes brincando na rua jogando bola, taco, correndo atrás de pipa e arranjando confusão com as vizinhanças mais próximas. Lembro também de ficar muito tempo na casa dos amigos, jogando videogame, assistindo a desenhos animados, seriados japoneses, lendo gibi e, claro, desenhando.

Pelo fato de ter pais divorciados e por minha mãe sempre ter trabalhado fora de casa, precisava cuidar de meu irmão mais novo e passamos muito tempo sozinhos, o que, apesar de libertador, também era bastante assustador. Esse agrupamento de crianças e pré-adolescentes soltos, perambulando pelas ruas era algo bem divertido, mas muito cruel. De alguma forma, muitos desses elementos estão presentes em Labirinto.

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D: Como foi a sua trajetória de leitor a autor de HQs? Quais os principais títulos e autores que te influenciaram?

TS: O grande polo cultural próximo de casa durante minha infância era a banca de jornal. Por muitos anos, frequentei diariamente a pequena banca do bairro e todo dinheiro que conseguia juntar era gasto com gibis. As primeiras coisas que li, ainda muito pequeno, foram as revistas da Turma da Mônica. Era algo absolutamente onipresente: na sala, cozinha, banheiros, na escola, na casa dos amigos, dos parentes. É realmente muito difícil mensurar o tamanho do impacto cultural das histórias do estúdio do Maurício de Sousa para uma criança nos anos 1980 (imagino que ainda hoje). Mas eu também era absolutamente fascinado por tirinhas como Garfield, Recruta Zero, Charlie Brown. 

Um pouco mais velho, vieram os super-heróis. Coisas como Super-Homem, Batman, Homem Aranha, Wolverine, X-Men, que colecionei por muitos anos e ainda guardo uma parte dessas revistas. Na época eu gostava muito de caras como Jim Lee, Alex Ross, Frank Miller, Todd McFarlane.

thiago souto
Imagem: Alice Souto/Arquivo pessoal

Ainda adolescente, frequentei uma espécie de oficina de arte na escola onde estudava e o professor, que por acaso desenhava quadrinhos (o nome dele é Marcelo Scaff), costumava apresentar coisas diferentes. Nessa época comecei a descobrir revistas como Chiclete com Banana, MAD, Animal, Heavy Metal e a ter mais contato com nomes que por vezes tangenciavam o universo dos heróis, mas que tinham um estilo bem mais autoral, como Moebius, Mazzucheli, Hergé, Will Eisner, Manara, Angeli, Laerte, Katsuhito Otomo, Gilbert Shelton, Liberatore, Robert Crumb, Mutarelli, Breccia etc. Também passei a frequentar espaços como o Centro Cultural Vergueiro, que tinha uma biblioteca legal e oficinas de modelo vivo. 

Após terminar o colégio, comecei a trabalhar com design e publicidade, o que me afastou da produção de quadrinhos, embora, como leitor, tenha sido o período em que expandi minhas referências para outros gêneros e li muitos dos autores que me causaram maior impacto: Alison Bechdel, Dan Clowes, Charles Burns, Marjane Satrapi, Chris Ware, Art Spiegelman etc.

Somente depois de minha filha nascer, quando já tinha 30 anos, voltei a desenhar e a pensar em publicar minhas histórias. Acho que fui tocado pela urgência de fazer algo que eu realmente poderia ter controle e, de alguma forma, me orgulhar. Claro que foi, e ainda é, um processo muito difícil e cheio de frustrações, mas é uma espécie de paixão difícil de medir e algo que se faz necessário em minha vida.

Labirinto já nasceu um projeto ambicioso, que você até duvidou que pudesse ser concluído. Quais foram os principais desafios desde a concepção até a primeira publicação da HQ e como você os superou?

TS: O primeiro desafio com certeza foi o de entender o que é uma rotina de trabalho que contemple a produção de um projeto como Labirinto. Organizar todo o processo para saber o que fazer e quando fazer foi uma dificuldade que deve ter permeado quase todo o processo de produção do livro. Depois disso, encontrar uma forma de viabilizar a publicação foi uma das experiências mais frustrantes que já tive na vida. Por diversas vezes me peguei olhando aqueles dois, três anos de trabalho e pensando se aquilo tudo não era apenas uma péssima ideia de como gastar meu tempo, rs. 

Não sei se existe uma fórmula para superar isso. Tenho sorte em ter uma esposa e uma filha que sempre me encorajaram e talvez por isso continuei trabalhando e procurei não me autossabotar.

labirinto

D: Como foi revisitar Labirinto cinco anos depois de ter trabalhado nela para a edição da DarkSide? Além do material extra, mudaria algo na HQ?

TS: Foi bem legal rever as artes e lembrar de todo o processo de produção da obra. Muito dessa experiência eu carrego para meus trabalhos novos. Também é curioso perceber quais eram as dificuldades que tinha na época e quais persistem até hoje.

Não mudaria nada na história. Não porque aos meus olhos ela é irretocável, mas porque ela é o retrato de um período. Tenho um pouco de aversão a trabalhos que foram muito retocados ou tiveram o sentido alterado por seus criadores, por qualquer razão que seja. Deixar transparecer as qualidades e defeitos, sejam da obra ou do autor, é algo importante, na minha humilde opinião.

As páginas extras foram muito mais um material de divertimento e, na verdade, apenas estendem algumas cenas de ação e trazem um pouco mais de dinâmica. Todo conteúdo do livro continuou intocado.

D: A HQ já foi publicada em outros países, recebeu prêmios importantes e até elogios de Neil Gaiman. Qual é a sensação de ver uma história tão pessoal ser reconhecida por audiências tão amplas?

TS: É muito legal ver que algo saído de um lugar e de uma situação tão particular possa encontrar ressonância na vida de tanta gente, em momento algum eu imaginei que a história teria esse alcance. O fato dela ter uma base pessoal é algo muito encorajador, que te tira um pouco do isolamento e mostra como outras pessoas também partilham emoções semelhantes.

labirinto

D: No posfácio de Labirinto você diz que “todo tipo de personagem que se preze deve buscar algo que alivie um tipo de angústia”. Quais angústias Nico e Góreck ajudam a aliviar?

TS: Acho que mudar pode ser um processo muito doloroso e solitário para algumas pessoas. Talvez Labirinto ajude a entender que crescer, mudar, implica em deixar coisas pelo caminho e muitas vezes essas coisas são aquelas que julgamos as mais importantes, as mais fundamentais. Pode soar confuso, mas não são coisas que serão apagadas, mas que ocuparão um lugar diferente em nossas vidas. É algo que cada pessoa vai sentir de uma maneira diferente, mas para isso só lendo o livro mesmo.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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