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Vida e arte de Gustave Doré

Artista ilustrou a melancolia de Poe em O Corvo

01/02/2024

Edgar Allan Poe. Alexandre Dumas. John Milton. Dante Alighieri. Miguel de Cervantes. Com certeza você já ouviu falar desses nomes. Autores de clássicos literários, essas personalidades foram eternizadas por histórias e narrativas únicas. Mas, além da criatividade e do talento, estes autores compartilham outra coisa: os trabalhos do ilustrador Gustave Doré.

LEIA TAMBÉM: O LEGADO DE EDGAR ALLAN POE NA LITERATURA (E ALÉM DELA)

Gustave Doré é um dos ilustradores mais famosos de todos os tempos. Conhecido por suas litografias, gravuras e pinturas dramáticas e grandiosas, o artista foi um dos mais prolíficos do século XIX, criando universos de fantasia, imaginação e horror. Com uma carreira que percorreu diversas formas de expressão artística, Doré ficou conhecido por seu talento como ilustrador de obras literárias clássicas, trabalhando em mais de cem títulos, como O Corvo, A Divina Comédia, Dom Quixote, os contos de fadas de Charles Perrault e até mesmo a Bíblia.

Situando-se entre o romantismo tardio e o início do simbolismo, o ilustrador criou um estilo difícil de ser categorizado. O impacto de suas obras foi tão grande que sua estética permanece viva até hoje. Basta dar uma olhada em filmes como Gato de Botas (2011) e nas filmografias de cineastas como Tim Burton e Terry Gilliam, responsável por Os Doze Macacos

gato de botas gustave doré

Gustave Doré também foi responsável pela criação de uma iconografia diabólica povoada por seres fantásticos, o que fez alguns críticos de arte o creditarem como inventor da visão moderna do inferno. Essa habilidade de transformar a fantasia criada por autores em imagens únicas, o tornou um favorito quando o assunto era horror e fantasia. 

Mas afinal de contas, quem foi Gustave Doré? Vem que a Caveira te leva em uma jornada pela vida e arte desse artista excepcional.

De criança prodígio a ilustrador famoso

Gustave Doré nasceu em 6 de janeiro de 1832 em Estrasburgo, comuna situada no leste da França. Logo aos quatro anos de idade, o pequeno Doré começou a chamar a atenção por seu talento artístico, com desenhos que impressionavam pela técnica e imaginação. À medida que foi crescendo, Doré se mostrou um prodígio e uma promessa na área da ilustração. Ele também se aventurou pelo mundo das esculturas e aos 13 anos passou a trabalhar em litogravuras. Aos 14, publicou seu primeiro compilado, intitulado de Os Trabalhos de Hércules.  

Doré se mudou repetidamente ao longo da vida, sempre em busca de diferentes oportunidades profissionais. Em 1847, foi para Paris, onde começou a trabalhar com caricaturas e conseguiu um emprego como artista em um jornal humorístico. Nesse meio-tempo, tornou-se autodidata e utilizava o tempo livre para estudar as pinturas e ilustrações presentes no Museu do Louvre e na Biblioteca Nacional.

gustave doré

O ilustrador trabalhava bastante com gravuras feitas em madeira e logo começou a receber encomendas específicas para desenhar cenas de livros e poemas. Em 1853, atendeu ao pedido para ilustrar a obra de um estimado poeta inglês: Lord Byron. Foi a partir disso que Doré estabeleceu laços profissionais com editoras famosas na França e no Reino Unido, sendo procurado para prestar serviços em ambos os países, rendendo parcerias frutíferas e rentáveis. 

LEIA TAMBÉM: 8 ADAPTAÇÕES DE EDGAR ALLAN POE POR ROGER CORMAN

Em 1854, contribuiu com centenas de gravuras para uma série de obras do escritor renascentista François Rabelais. Entre 1861 e 1868, trabalhou em gravuras de A Divina Comédia do italiano Dante Alighieri. As descrições de vida após a morte feitas por Dante encaixaram-se perfeitamente com o estilo artístico de Doré, de forma que este se tornou um de seus maiores projetos iniciais e uma parte fundamental de sua carreira. 

divina comédia gustave doré

Esse tipo de encomenda logo se tornou sua principal fonte de renda, proporcionando espaço para que experimentasse outras formas de expressão artística, como técnicas de escultura, pintura a óleo e aquarelas. A ascensão enfim veio com as ilustrações feitas para a edição francesa de Dom Quixote de Miguel de Cervantes, publicada na década de 1860. Acredita-se que o artista criou cerca de 500 ilustrações para este único exemplar e seu impacto foi tão grande que influenciou a forma como os leitores enxergavam os textos originais. Além disso, as representações de Doré inspiraram adaptações teatrais da obra de Cervantes. 

Em 1866, o artista alcançou fama com ilustrações bíblicas para a sua Le Grande Bible de Tours, uma edição luxuosa do texto publicado em 1843, para o qual produziu 241 gravuras em madeira. Com conteúdo dramático e níveis incríveis de detalhe, o trabalho se tornou uma de suas criações mais influentes, sendo reproduzido ao redor do mundo e lhe rendendo reconhecimento entre o público geral. Trabalhar com projetos tão grandiosos logo colocou Doré como um dos ilustradores mais procurados da época. Em 1867, conseguiu sua primeira grande exposição em Londres e logo em seguida abriu a própria galeria de arte, o que reforçou sua reputação como artista habilidoso.  

Ao longo de sua carreira, Doré também ilustrou Paraíso Perdido, poema épico de John Milton publicado em 1667, sendo outro exemplo de como o ilustrador frequentemente trabalhava com a sobreposição entre literatura e religião. Além da iconografia religiosa, o artista ganhou fama por sua habilidade em representar cenários etéreos e criaturas fantásticas, capturando a magia e o mistério da natureza em publicações das fábulas de La Fontaine e dos contos de Charles Perrault. 

paraíso perdido gustave doré

O estilo de Doré se mostrou extremamente versátil, atendendo diferentes necessidades e histórias. Sua carreira próspera destacou-se graças ao seu domínio de vários meios artísticos e ao conhecimento sobre técnicas de gravura. Contudo, apesar de ser considerado um dos maiores talentos da França, conhecemos pouco de sua vida privada. Doré permaneceu ao lado da mãe grande parte da vida, nunca se casando ou tendo filhos. Conforme sua fama crescia, estabeleceu uma grande rede de assistentes que o ajudavam a suprir as demandas de seu requisitado trabalho. 

Doré continuou ilustrando livros até sua morte em 23 de janeiro de 1883. Vítima de um ataque cardíaco, o artista faleceu aos 51 anos em Paris, deixando incompletas as ilustrações para uma obra de William Shakespeare. No entanto, semanas antes de sua morte, também entregou seu legado final e uma de suas contribuições mais significativas para o mundo do horror: as ilustrações do poema “O Corvo” de Edgar Allan Poe.

O encontro macabro com Edgar Allan Poe 

Pouco antes de sua morte, Gustave Doré completou uma série de 26 gravuras para uma nova edição especial do clássico poema “O Corvo” do escritor americano Edgar Allan Poe. Publicado originalmente em 1845, “O Corvo” é uma das obras mais famosas de Poe, um poema que aborda a temática da morte e do amor, em que o protagonista, um homem que lamenta a perda da amada, é misteriosamente visitado por um corvo falante.

o corvo

Como todas as suas ilustrações anteriores, a representação que Doré faz de “O Corvo” é excepcionalmente detalhada e povoada por imagens ricas que evocam o espírito do poema. Diferentemente das linhas finas utilizadas em Dom Quixote, aqui as gravuras são ainda mais suaves, marcadas por uma técnica renascentista chamada chiaroscuro, a qual utiliza o contraste entre luz e sombra para representar o objeto. Essa estratégia opta por um número menor de tonalidades e por não utilizar linhas de contorno na definição da imagem, preferindo obter o efeito por meio do contraste de tons entre objeto e plano de fundo.

A edição de O Corvo contendo as ilustrações de Gustave Doré foi publicada em 1883, quando Poe, falecido em 1849, já era reconhecido como um grande escritor americano e havia tido sua obra ilustrada por outros renomados artistas. Contudo, algo especial aconteceu no encontro entre Poe e Doré, dois artistas separados por décadas de existência. Algo estranho e belo — e também raro — que acontece quando dois espíritos, que nunca se conheceram, capturam tão bem a essência um do outro

Foi exatamente isso que aconteceu aqui. Uma espécie de polinização cruzada feita após a morte. Enquanto Gustave Doré deu vida às palavras de Poe, representando de forma arrepiante e evocativa a atmosfera de “O Corvo”, Poe criou uma obra que praticamente implorava pela arte de Doré. 

o corvo gustave doré

O gravurista capturou com precisão a essência e penetrou no coração do poema, fornecendo uma visão poderosa das palavras do escritor americano. Ao privilegiar a imaginação, as gravuras de Doré capturaram com precisão a melancolia e o mistério de “O Corvo”, entregando uma interação única entre a luz da saudade e a escuridão da dor. 

Tanto Doré quanto Poe tinham afinidade com o reino das trevas e sabiam evocar o horror dos jeitos mais intensos possíveis, destacando-se em suas áreas de atuação. Apesar disso, é interessante refletirmos como esses artistas, separados por décadas e unidos por tantas coisas em comum, encontraram finais bastante distintos. Gustave Doré desfrutou de sucesso e reconhecimento enquanto vivo, recebendo uma grande quantia de dinheiro por sua ilustração de “O Corvo”. Já Poe enfrentou o destino oposto, nunca alcançando a estabilidade financeira e morrendo completamente falido, tendo vendido um dos poemas mais famosos de todos os tempos por menos de 10 dólares.

Agora você pode conferir a potente parceria artística entre esses dois espíritos na edição comemorativa de 140 anos de O Corvo, lançamento da DarkSide® Books. Uma edição feita de fã para fã e que traz o célebre poema de Edgar Allan Poe acompanhado das ilustrações de Gustave Doré. Com introdução, notas e tradução inédita de Marcia Heloisa, essa edição comemorativa traz o texto original e as célebres traduções de Machado de Assis e Fernando Pessoa, além de uma nova seleção epistolar. Finalmente chegou a hora de conferir um dos maiores clássicos da literatura em uma viagem visual e lírica que homenageia dois grandes artistas modernos.

o corvo

LEIA TAMBÉM: O CORVO: POEMA DE EDGAR ALLAN POE NA CULTURA POP

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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