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DarkloveEntrevista

Wayétu Moore: “A leitura é o que nos abre para o nosso mundo incrível”

Autora de Ela Seria o Rei fala ao Darkblog sobre suas inspirações para o livro

12/07/2022

Inspirada pelas mulheres fortes que conheceu ao longo da vida e pela riqueza de vozes na fundação da Libéria, Wayétu Moore faz de Ela Seria o Rei uma verdadeira celebração aos diferentes povos que compõem seu país natal. A escritora fugiu de lá aos 5 anos de idade por causa da Primeira Guerra Civil do país e com muita pesquisa em uma jornada pela busca de suas origens escreveu seu primeiro romance, lançado pelo selo DarkLove.

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Além de ser escritora, Wayétu fundou uma organização chamada One More Book, voltada a incentivar a leitura entre crianças de países com baixas taxas de alfabetização e que não costumam se ver representadas nos livros. O Darkblog conversou com a autora sobre Ela Seria o Rei, suas inspirações e motivações dentro da literatura.

Darkblog: Você começa o livro afirmando que o romance foi inspirado pela história de uma mulher que espancou o próprio gato até a morte. Quando você decidiu expandir essa história para escrever um livro inteiro sobre isso?

Wayétu Moore: Depois de escrever a história do gato, o que envolveu dar a ele uma personalidade além do curto adágio e também dar à mulher um nome e objetivo, eu comecei a imaginar o vilarejo onde eles viviam naquela época e como essa tragédia afetaria as vidas de quem não morava naquela casa. Feito isso, eu comecei a imaginar o que acontecia fora do vilarejo naquela época e a partir daí continuei expandindo e construindo a partir das curiosidades que a história despertava. Tudo acabou surgindo naturalmente e de maneira rápida.

D: Como foi o processo de definir as tramas dos personagens principais?

WM: Eu sabia que queria contar a história da fundação da Libéria. E essa história é brilhante justamente pelas identidades que abrangem a república — africanos indígenas, negros libertados e repatriados dos Estados Unidos e negros libertados e repatriados do Caribe, principalmente de Barbados. Eu queria que cada um dos personagens principais representassem esses grupos.

D: O que te levou a escrever a história da Libéria dentro do gênero de realismo mágico?

WM: Não posso afirmar que foi uma escolha consciente. Quando era criança, eu ouvia histórias tradicionais liberianas, especificamente da tradição Vai, e sempre houve uma interação com o mundo sobrenatural. Então, quando comecei a escrever essas tradições me acompanharam e se manifestaram no meu trabalho. 

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D. Você nasceu na Libéria e a sua família é da tribo Vai, então imagino que você tenha entrelaçado algumas experiências pessoais na narrativa de alguma forma. Você poderia falar um pouco mais sobre esse processo?

WM: É uma ficção histórica, então não há muitas experiências pessoais inclusas e, infelizmente, eu morei nos Estados Unidos desde os 5 anos de idade. Muito do conhecimento que eu obtive sobre os povos Vai é resultado de eu ter voltado para lá e conversado com anciões Vai, ter conversado com familiares mais velhos e, é claro, das referências dos vários panoramas narrativos que eu ouvia quando criança. 

Créditos: Yoni Levi

D: Falando em experiência, a figura materna tem um papel central no livro. O nascimento da sua filha mudou algumas ideias que você tinha da maternidade?

WM: Eu acho que não tinha qualquer ideia de maternidade, a não ser a de que um dia eu queria assumir aquele papel. Eu nunca pensei muito a respeito de tudo o que isso implicava. Eu simplesmente tentei escrever pessoas realistas e mulheres fortes como as que conheci ao longo da vida. Além disso, não há nada que alguém pudesse ter me falado que me prepararia para ser mãe. Eu me tornei uma artista mais atenciosa e observadora por causa da minha filha. Não tenho mais tanto tempo como costumava ter, mas quando consigo e paro para escrever, tenho um profundo senso de clareza.

D: Um dos temas principais de Ela Seria o Rei envolve encontrar um lar. Você nasceu na Libéria e morou em diversos lugares ao longo da vida. Diante disso, o que significa “lar” para você?

WM: Estar na presença daqueles que eu amo.

D: Apesar de você ter alguns personagens masculinos incríveis na história, tenho a impressão de que esse é um livro conduzido por mulheres. Para você, é importante escrever sobre vozes femininas?

WM: Sim. E também sobre a realidade e a natureza humana de como até as histórias mais fortes sobre mulheres são centradas em homens. O que isso tem a dizer sobre o nosso mundo? Nossas histórias? Nossas trajetórias? São esses diálogos internos que moldam os rumos da minha arte.

D: Como você se sente ao saber que no Brasil será publicada por um selo centrado no poder feminino e que cobre um amplo leque de temas, como relações íntimas e sociais, debates sobre o feminismo, gênero e raça, saúde mental e empoderamento feminino?

WM: Sinto-me honrada.

D: Essa história tem tantos personagens complexos e discussões repletas de camadas sobre a feminilidade negra, maternidade, lar, senso de comunidade e colonialismo. Nós temos tanto a aprender com esse livro, mas o que você aprendeu com a experiência de ter escrito Ela Seria o Rei?

WM: Aprendi que há muita coisa que eu não sei. Nós não conhecemos nada sobre as nossas histórias, sobre nós mesmos. É tão belo e ao mesmo tempo pode ser trágico, às vezes. Eu não me importo de me sentir pequena. É isso o que me motiva a aprender mais, a querer mais, a interagir com a vida de um jeito muito mais significativo.

D: Você é a fundadora da One More Book, uma organização sem fins lucrativos que, há quase dez anos, incentiva a leitura entre as crianças em países com baixas taxas de alfabetização. Mesmo que o braço editorial da organização tenha sido descontinuado, como essa experiência impactou você e as crianças que você ajudou?

WM: O apoio mais importante que você pode dar a uma criança é a alfabetização. A leitura é o que nos abre para o nosso mundo incrível e trabalhar nesse meio reforçou a esperança que eu tenho em mentes mais jovens e no papel que elas irão desempenhar na nossa renovação, na nossa cura, através da habilidade de ler.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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