O mistério em torno de Psicose se estende para além da trama sombria de Norman Bates, principalmente no que se refere à produção de sua adaptação para o cinema pelo diretor Alfred Hitchcock. O livro de Robert Bloch, publicado no Brasil pela DarkSide® Books, teve um caminho pouco convencional das páginas para as telonas.
O filme de Psicose foi uma ousadia que apenas um diretor com a fama de Hitchcock poderia se dar ao luxo de produzir naquela época. Com uma carreira consagrada no gênero do suspense, o cineasta se ofendeu quando lhe perguntaram se ele não gostaria de se aposentar – isso logo após o lançamento de Intriga Internacional (1959), um thriller de espionagem.
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Com nenhuma vontade de se aposentar dos sets, Alfred Hitchcock decidiu que precisava de algo novo, ultrajante, que realmente surpreendesse uma audiência que já o considerava um tanto previsível. O livro de Robert Bloch parecia oferecer a história ideal para isso.
O processo entre a leitura do livro, sua transposição para o audiovisual e lançamento nas salas de cinema é cercado de rumores e curiosidades que só tornam o longa ainda mais fascinante. Confira a seguir algumas destas particularidades:
Quando Alfred Hitchcock leu Psicose, ele decidiu que a história era ideal para voltar a empolgar as audiências em torno de um projeto seu. Ele secretamente comprou de Robert Bloch os direitos para a adaptação do livro por US$ 9 mil.
Feito isso, Hitchcock se empenhou em comprar o maior número possível de cópias do livro. O diretor se deu a este trabalho para que as pessoas não conhecessem o final da história e pudessem ser surpreendidas pelo filme.
A preocupação de Hitchcock com spoilers era tão grande que no primeiro dia de filmagem ele fez todo o elenco e equipe de produção jurarem que não divulgariam absolutamente nada sobre o filme. Além disso, ele escondeu o final do filme do elenco durante toda a produção, até que chegasse o momento de filmar tais cenas.
Quando concebeu o filme, Alfred Hitchcock idealizou aquela famosa cena do chuveiro para ser completamente muda. Isso seguiu desta forma até o momento da edição, quando o próprio diretor não gostou do resultado e ficou em dúvida quanto ao sucesso do filme. O cineasta chegou a considerar deixar de lado o lançamento nas salas de cinema e exibir o longa apenas no seu programa de TV Alfred Hitchcock Presents. Como o filme já tinha um baixo orçamento, o rombo não seria tão grande, afinal.
No entanto, apesar da orientação do diretor, o compositor Bernard Hermann, que trabalhou na trilha sonora de Psicose, compôs algo especial para aquela cena. Ao ver a sequência com a trilha de Hermann, Hitchcock se convenceu de que o filme funcionaria daquela forma. Ele ficou tão feliz com o resultado que dobrou o salário do compositor para mais de US$ 34 mil e passou a afirmar que 33% do sucesso do filme se deve à trilha sonora. Até hoje a trilha é reconhecida inclusive por quem nunca assistiu ao longa.
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Em 1960 já havia tecnologia para que Psicose fosse um filme colorido. No entanto, a escolha da fotografia em preto e branco foi intencional. Um dos motivos seria que o vermelho do sangue da cena do chuveiro poderia ser chocante demais para as audiências naquela época. O preto e branco suavizaria um pouco isso.
Outro motivo era o orçamento: com pouco mais de US$ 800 mil para fazer o filme, o uso da tecnologia de cores se tornaria muito caro e inviável para a produção. O próprio Hitchcock tinha aberto mão de seu salário de US$ 250 mil para que o projeto saísse do papel.
Para garantir que o público assistisse ao filme do início ao fim, Hitchcock orientou que os cinemas não deixassem pessoas entrarem atrasadas nas sessões. Cada sala de exibição de Psicose tinha um display de papelão do diretor apontando para o relógio e dizendo: “O gerente deste cinema foi instruído, sob risco de morte, a não permitir a entrada de qualquer pessoa após o início do filme. Qualquer tentativa ilegítima de entrar por portas laterais, saídas de incêndio ou dutos de ventilação serão coibidas à força. O objetivo desta medida extraordinária é, claro, lhe ajudar a aproveitar mais Psicose. Alfred Hitchcock”.
Além disso, para garantir que as pessoas que já estavam na sala não dessem uma saída antes do filme começar, o estúdio providenciou uma gravação que tocava no foyer dos cinemas. A trilha contava com música ambiente que era ocasionalmente interrompida por uma voz dizendo “faltam dez minutos para começar Psicose”, “cinco minutos para começar Psicose”, e assim por diante.
Depois de anos trabalhando com o estúdio, Psicose se tornaria a última produção de Hitchcock com a Paramount Pictures. Para reduzir os custos do projeto e evitar a interferência dos executivos, ele filmou o longa nos estúdios da Universal Pictures, local em que era feito o Alfred Hitchcock Presents e onde ele já tinha instalado o seu escritório.
Mais tarde, a Universal conseguiria os direitos de distribuição de Psicose, mesmo com a logo da Paramount ainda aparecendo.
A repercussão de Psicose não foi apenas de sucesso e reconhecimento, pelo menos não instantaneamente. É importante lembrar que ainda se tratava de um filme extremamente violento para os padrões da época, principalmente nos grandes circuitos de cinema.
Hitchcock recebeu inúmeras cartas de pessoas ultrajadas com o filme, inclusive uma de um pai que disse que, após assistir a Psicose, sua filha se recusava a entrar no banho – ao que o diretor simplesmente respondeu “mande-a para a lavagem a seco, então”.
Mas uma das mais curiosas retaliações veio de ninguém menos que Walt Disney: ele proibiu Alfred Hitchcock de entrar no parque da Disney porque “ele havia feito aquele filme detestável, Psicose”.
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5 Comentários
Pabro The Freakshow
5 de fevereiro de 2021 às 19:10
Pabro The Freakshow
5 de fevereiro de 2021 às 19:10
A maioria dessas curiosidades são retratadas no filme sobre Hitchcock, estrelado por Anthony Hopkins, aliás é um filme muito bom para que admira Hitchcock e também Hopkins.
Denis
4 de dezembro de 2022 às 11:57
Denis
4 de dezembro de 2022 às 11:57
excelente filme!