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Como o telefone se tornou um objeto apavorante em filmes de terror

11/02/2022

“A ligação está vindo de dentro da casa.” Esta mera constatação foi suficiente para apavorar muita gente logo na cena inicial de Pânico. Com uma das aberturas mais impactantes do terror, o longa de Wes Craven já diz a que veio e que há um assassino a ser temido. Bom, talvez não apenas o assassino, mas o seu telefone.

LEIA TAMBÉM: PÂNICO: FRANQUIA GANHA NOVO FÔLEGO + LISTA DE ASSASSINOS MASCARADOS

Claro que em 1996 a nossa relação com estes aparelhos era bem diferente: a maioria das pessoas contava apenas com uma linha fixa em casa e esta era a principal forma de se comunicar com pessoas fora daquele ambiente. Bem diferente dos smartphones que carregamos conosco para cima e para baixo, repletos de funcionalidades – o que inclui até ligações telefônicas.

Para muitas pessoas, o simples fato de ouvir o toque do celular já é motivo de pânico – e isso nem tem relação com a personagem de Drew Barrymore em Pânico. A fobia do telefone é um fenômeno real, frequentemente observado em pessoas com ansiedade e fobia social (mas não obrigatoriamente), que diz respeito ao nosso desconforto ao lidar com ligações telefônicas.

Créditos: Woods Entertainment

Com diversas maneiras de se comunicar de forma assíncrona, ou seja, que não ocorre em conjunto com outra coisa, como mensagens de texto e e-mails, as pessoas estão cada vez menos tolerantes a interrupções. Atender uma ligação telefônica implica em interromper imediatamente o que você estiver fazendo, mudar o seu foco para outro assunto, e depois precisar se reconectar àquilo que estava fazendo.

Nos dias de hoje, há ainda a aversão ao telefone por causa das ligações indesejadas – e até mesmo perigosas. Telefonemas de números privados ou desconhecidos frequentemente significam duas coisas: telemarketing ou golpes. Não é por acaso que uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos apontou que 80% dos entrevistados não atendem chamadas de números desconhecidos.

Mas e quando é um número conhecido que está ligando? Até isso pode gerar desconforto, pois hoje em dia esse tipo de chamada inesperada costuma significar algum tipo de emergência ou alguma notícia que não seria aconselhável dar por mensagem de texto. Aquela leve palpitação que você sente quando o telefone toca é mais um mecanismo de defesa para protegê-lo de algo ruim. E no atual contexto, entendemos que ligações telefônicas são portadoras de más notícias.

Telefone: A salvação e a maldição no terror

Mas muito antes de termos desenvolvido nossas fobias com o toque do celular, o terror já explorava os aspectos assombrosos que envolvem uma simples ligação telefônica – ou a ausência dela.

Verdade seja dita: a ficção – e isso não é exclusividade do terror – gosta de criar complicações em situações que o espectador, de maneira racional, conseguiria solucionar de maneira mais simples. Você provavelmente já terminou algum filme ou episódio de série com a sensação de que a coisa toda poderia ter sido resolvida com uma simples ligação telefônica.

E é justamente esse o obstáculo que o terror tem imposto nos últimos anos. Para criar uma situação realmente desesperadora, é preciso fechar esta ponta. É por isso que muitos longas se passam em algum lugar isolado, ou as linhas telefônicas são a primeira coisa a ser cortadas em uma invasão doméstica, ou ainda o seu assassino está falando com você ao telefone.

O fator “telefone” precisa ser resolvido logo, senão o público sempre terá aquela sensação de “por que simplesmente não ligaram para a polícia?”. O telefone é entendido como uma potencial salvação, por isso, para ter um terror genuíno, precisamos garantir que ele não seja tão acessível assim, senão não teríamos como conduzir uma história por quase duas horas.

Nos dias de hoje a dificuldade precisou ser adaptada aos celulares, tão disponíveis no nosso dia a dia. Para que as vítimas não possam simplesmente ligar para a emergência, há sempre um complicador, como o assassino recolhendo os aparelhos, falta de sinal ou uma bateria acabando – o que no contexto da nomofobia já é motivo suficiente de pavor.

Melhor ainda quando os filmes se propõem a inverter a lógica: em vez de uma salvação, o telefonema é a própria fonte do mal. Desde Disque M para Matar telefones têm sido utilizados como prenúncios para coisas terríveis. Nestes casos, a morte até liga antes de fazer sua visita.

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6 Filmes que farão você ter medo do telefone

Caso você ainda não tenha um leve calafrio cada vez que o telefone toca, talvez estes filmes lhe façam mudar de ideia:

1. Pânico (2022)

A nova versão da franquia iniciada por Wes Craven em 1996 tem uma versão bem moderna da clássica cena da chamada telefônica com Drew Barrymore. Adaptando os nossos costumes de não atender números desconhecidos e se comunicar pelo smartphone, o filme trouxe outro upgrade tecnológico: automação residencial. Desta vez o assassino não está apenas ao telefone e ao celular, ele está controlando digitalmente as fechaduras da casa.

2. Quando um Estranho Chama (1979)

O que deveria ser uma noite tranquila trabalhando como babá é interrompida por uma ligação com uma frase simples e ao mesmo tempo perturbadora: “Você verificou as crianças?”. Assustada com tais ligações, Jill (Carol Kane) liga para a polícia para receber uma informação ainda mais perturbadora: a chamada está vindo de dentro da casa.

3. O Chamado (2002)

“Sete dias”, uma das sentenças de morte mais conhecidas do cinema. Em O Chamado, adaptação do japonês Ring: O Chamado, uma lenda urbana diz que quem assistir a determinada fita de vídeo (alguém se lembra delas?) irá morrer em exatamente uma semana. Logo após assistir às perturbadoras e desconexas imagens, a pessoa ainda recebe uma ligação com o aviso. E não adianta ignorar a chamada, a Samara irá dar um jeito de vir atrás.

Créditos: © 2002 – DreamWorks LLC

4. Halloween: A Noite do Terror (1978)

Aqui não tem nenhum psicopata ou menina-fantasma ao telefone, mas o aparelho ainda tem uma função macabra. Quando Michael Myers se passa por Bob ao se vestir como um fantasma, Lynda (P. J. Soles) entende aquilo como uma brincadeira e liga para sua amiga Laurie (Jamie Lee Curtis). Quando Laurie atende, Michael estrangula Lynda com o fio do telefone, e tudo o que a jovem pode fazer é ouvir sua amiga morrendo do outro lado da linha.

5. Uma Chamada Perdida (2003)

O filme é centrado em Yumi Nakamura (Ko Shibasaki), uma estudante de psicologia cuja amiga Yoko (Anna Nagata) recebe uma chamada de voz datada de dois dias no futuro. Na ligação, Yoko ouve a si própria gritando. Após saber que sua amiga morreu misteriosamente, a morte de Yoko desperta uma série de eventos que levam Yumi a descobrir que este fenômeno já está acontecendo há algum tempo no Japão, em que pessoas recebem gravações de si próprias morrendo.

Créditos: Kadokawa Daiei Pictures

6. A Hora do Pesadelo (1984)

Na versão original de A Hora do Pesadelo, Wes Craven já fez seus jogos macabros envolvendo telefones, uma década antes de Pânico. Na cena, Nancy (Heather Langenkamp) atende a uma ligação sinistra, mesmo com seu telefone tendo a linha cortada. Do outro lado, apenas a voz horripilante de Freddy Krueger (Robert Englund) dizendo “eu sou seu namorado agora, Nancy”. Como se isso não fosse suficientemente assustador, a parte de baixo do telefone se torna a boca do monstro e ameaça lamber a heroína. Destruir o telefone depois disso tudo é no mínimo justo.

Bônus: Por um Fio (2002)

Ok, este filme não é de terror, mas o suspense criado em torno de um telefonema merece uma menção neste post. Stu (Colin Farrell) é um relações públicas que consegue escapar de qualquer situação com muita malandragem. Porém, ele não consegue escapar de uma cabine telefônica quando atende a uma ligação de um misterioso atirador que o tem sob sua mira. Ao longo de todo o filme ele é manipulado pelo atirador com uma regra muito clara: se sair da cabine, ele morre. Sim, o filme de 1h21 se passa inteiramente nesta ligação. Ainda bem que este tipo de cabine se tornou uma raridade.

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Créditos: © 2001 Twentieth Century Fox

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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