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Crinolina: o acessório feminino que matou milhares de mulheres na Era Vitoriana

Livros e reportagem da BBC detalham como as volumosas saias provocaram tragédias

07/09/2023

Imagine que é 31 de outubro de 1871 e você, uma jovem mulher da Era Vitoriana, está em um pomposo baile de Halloween, daqueles que costumavam animar a corte britânica. Entre um rodopio e outro com seu par pelo salão, a volumosa saia do seu vestido esbarra numa lareira e pega fogo. Sua irmã, então, corre para tentar extinguir as chamas e acaba entrando em chamas também. 

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Essa história verídica aconteceu com Emily e Mary Wilde — sim, elas eram meias-irmãs do escritor Oscar Wilde — e morreram dias depois, em decorrência dos ferimentos. William, o patriarca dos Wilde, ficou tão desgostoso que seus “choros podiam ser ouvidos do lado de fora da casa”. Uma tragédia, enfim.

Segundo reportagem da BBC, as irmãs Wilde foram apenas duas das milhares de vítimas da crinolina, aquelas armações de metal usadas sob as saias da Era Vitoriana para dar-lhes volume. Como as que eram usadas em E o Vento Levou, sabe?

crinolina
© Victoria and Albert Museum, London

No livro O Espírito das Roupas, Gilda Mello e Souza relembra o rumor de que a criadora da crinolina teria sido a espanhola Eugênia de Montijo, imperatriz francesa casada com Napoleão III. Em julho de 1884, Eugênia teria visitado uma fábrica de espetos, a Peugeot (sim, essa Peugeot), e apresentou o desenho de uma espécie de gaiola, feita com aros de arame, para tornar as roupas femininas mais leves e arejadas ao dispensar camadas e mais camadas de anáguas. 

Graças ao sucesso da peça, que de fato teve Eugênia como principal garota propaganda, a Peugeot teria escapado da falência e as crinolinas se tornaram o primeiro marco da indústria da moda. O livro Crinoline, Fashion’s Most Magnificent Disaster, de Brian May e Denis Pellerin, conta que só numa fábrica em Sheffield, 800 mulheres chegavam a produzir 8 mil crinolinas num único dia. A popularidade devia-se a diversos fatores: substituíam as saias do modelo império, que de tão justas mais pareciam calças de uma perna só; davam liberdade para os movimentos e literalmente afastavam os assediadores, entre muitos outros.

crinolina era vitoriana
© Victoria and Albert Museum, London

A partir da invenção da máquina de costura, em 1850, a peça passou a ser produzida em massa, sem a mínima noção do estrago que uma simples vestimenta viria a causar. Em 1857, o Reino Unido importou 40 mil toneladas de aço da Suécia para poder atender a demanda de produção, já que a peça era usada por mulheres de todas as classes sociais. 

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Voz ativa contra a crinolina, a qual chamava de “traje absurdo e hediondo”, a enfermeira Florence Nightingale exigia que as autoridades britânicas revelassem o número de mortes causadas pelo acessório. Mas, até hoje, é impossível precisar quantas mulheres morreram por usar a crinolina — estima-se que milhares.

Além de pegarem fogo facilmente, há registro de mulheres arrastadas por carruagens depois de suas volumosas saias enroscarem nas rodas. Também reza a lenda que mulheres passeando com crinolina por praias da costa Inglesa foram içadas pelo vento tal qual pipas, também por culpa da saia. Arremessadas no mar, teriam morrido afogadas. 

Na imprensa, as notícias sobre as mortes causadas por crinolina eram frequentes e, não raro, acompanhadas por manchetes sensacionalistas — afinal, a imprensa britânica já era a imprensa britânica. Médico legista, Edwin Lankester era outro profissional de saúde contra o uso da crinolina: “Ao longo de três anos, tantas mulheres perderam suas vidas em Londres para o fogo, principalmente por usar crinolinas, quanto as que foram sacrificadas em Santiago”. Ele se referia ao incêndio da Iglesia de la Compañía, no Chile, em 1863, no qual morreram cerca de 2 mil mulheres, cujos vestidos volumosos bloquearam as portas, dificultando a fuga de muitas delas.

crinolina
© Victoria and Albert Museum, London

Ao registrar pela primeira vez a trágica série de mortes causadas pela crinolina, em 1858, o New York Times reportou ter havido “nada menos que 19 mortes por essa causa na Inglaterra entre 1º de janeiro e meados de fevereiro“.

Após todo estrago causado, as crinolinas finalmente caíram em desuso por volta de 1880, quando foram substituídas pelas anquinhas — que armavam apenas a parte de trás das saias e vestidos. 

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Sobre Liv Brandão

Avatar photoJornalista, criadora de conteúdo e roteirista. Passou por veículos como O Globo e UOL sempre falando de cultura e entretenimento. É especialista em séries de TV, mas também fala de filmes, música, literatura e o que mais vier.

1 Comentário

  • Julio Miceli

    8 de setembro de 2023 às 21:03

    Informações muito interessantes, das quais eu não tinha a mínima idéia!
    Obrigado por compartilhar.

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