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A ciência e as implicações sociais por trás de Invasores de Corpos

Astrônomo comenta explicações científicas e sociológicas do livro de Jack Finney.

15/12/2020

Uma invasão alienígena em que os seres tomam conta dos corpos das pessoas parece algo muito irreal, saída da mente fértil de Jack Finney ao escrever Invasores de Corpos, livro lançado pela DarkSide® em parceria com a Macabra Filmes. Porém, para o professor de Ciência Cognitiva do Hampshire College, Dr. Salman Hameed, há explicações científicas e até sociológicas por trás disso.

Em entrevista ao site Sloan Science & Film, o doutor explicou a teoria de panspermia, defendida pelo astrônomo Fred Hoyle nos anos 1950. Este conceito define que microrganismos ou precursores químicos da vida se encontram presentes no espaço, sendo capazes de gerar tal vida quando encontram um planeta ou as condições adequadas para isso. A hipótese dá conta de que possam existir formas de vida em nuvens de gás pela galáxia.

Segundo a teoria de Hoyle, a vida pode ser “semeada” pelos planetas, incluindo a Terra. Vale lembrar que Invasores de Corpos foi escrito na mesma década em que o cientista defendeu as suas teorias, mas não se sabe se Finney estava ciente do conceito de panspermia quando escreveu a obra.

O que explica relatos de ovnis e abduções alienígenas?

Os primeiros relatos em massa de presença alienígena na Terra ocorreram em 1896 e 1897. Pessoas afirmaram ter visto aeronaves em formato de charutos – coincidindo com o design de protótipos de aviões da época. Em 1947, o formato destes objetos voadores teria adotado o formato de pires, criando o conceito de disco voador, embora a primeira testemunha nunca tenha utilizado este termo, que foi cunhado em uma manchete de jornal.

Em suas aulas, o Dr. Hameed discute bastante com seus alunos histórias de abdução alienígena. Ele menciona o fenômeno conhecido como paralisia do sono, que acomete cerca de 10% da população. Trata-se de um evento psicológico em que a pessoa está em um estado de transição de consciência (dormindo/acordado), mas em que ela não consegue falar ou se mover.

Por ser um estado transitório entre consciência e inconsciência, algumas pessoas misturam os sonhos com a noção de realidade. A paralisia do sono é relatada há séculos. Antigamente, pessoas que passaram por estes episódios relataram estar na presença de demônios. Hoje em dia, com o contexto de alienígenas na ficção científica, muitas dizem ter sido abduzidas.

Relatos de abdução deste tipo se tornaram mais frequentes após os anos 1960, com mais histórias de ficção abordando alienígenas e todo o contexto da Corrida Espacial. Um fato que o Dr. Salman Hameed considera curioso é a intensidade com que as pessoas “vivem” tais experiências. Algumas delas desenvolvem sintomas reais de estresse pós-traumático, enquanto outras afirmam ter sido uma experiência transformadora de forma positiva em suas vidas.

Aliens e a nossa forma de encarar o “outro”

Na maioria das obras de ficção científica envolvendo aliens, eles são vistos como uma ameaça, frequentemente querendo dominar os humanos. Isso diz muito sobre os conceitos de xenofobia e intolerância, ainda tão presentes na sociedade. Star Trek foi uma obra significativa que tentou fazer o oposto, colocando espécies diferentes para coexistir e, como consequência, mostrando o primeiro beijo interracial da TV nos Estados Unidos. A série Wayfarers, publicada pela Caveira, também aborda uma temática semelhante.

O Dr. Hameed comenta que Invasores de Corpos tem uma alegoria óbvia da Guerra Fria, em que as pessoas possuídas pelos aliens seriam os comunistas, por serem todos iguais e privados de emoções. Embora algumas pessoas interpretem justamente de forma contrária, como uma crítica ao Macarthismo e à caça às bruxas, com uma sociedade que se tornou autoritária sem que as pessoas percebessem.

“É complicado interpretar Invasores de Corpos”, admite o professor. Ele acrescenta que, além da ameaça de infiltração abordada na trama, também podemos estabelecer um paralelo com a situação de imigrantes e refugiados nos dias de hoje. “É uma boa obra de ficção científica que te faz pensar em todos estes diferentes aspectos”.