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Caveira Viu: O Pálido Olho Azul

Filme reimagina Edgar Allan Poe no meio de uma investigação

10/01/2023

O gótico e o macabro são uma presença marcante na obra de Edgar Allan Poe, mas suas contribuições literárias vão além. O clássico autor também teve uma ampla influência, muitas vezes sendo considerado o pioneiro, nas histórias de detetive modernas. O filme de ficção O Pálido Olho Azul reimagina a juventude do escritor para colocá-lo na investigação de um crime.

LEIA TAMBÉM: O LEGADO DE EDGAR ALLAN POE NA LITERATURA (E ALÉM DELA)

Foi no conto “Os assassinatos na rua Morgue”, publicado na coletânea Edgar Allan Poe Medo Clássico: Volume 1, que Poe nos apresentou ao personagem Auguste Dupin, um exímio investigador — ainda que não atuasse formalmente como detetive — no ano de 1841, antes mesmo de Sherlock Holmes e Hercule Poirot emprestarem sua sagacidade às tramas policiais criadas por Arthur Conan Doyle e Agatha Christie. Ele ainda protagonizou os contos “O mistério de Marie Rogêt” e “A carta roubada”, ambos publicados pela DarkSide® na mesma edição.

Nesse sentido, O Pálido Olho Azul serve tanto como uma homenagem como uma curiosa reimaginação da juventude do escritor. Para quem não sabe, Edgar Allan Poe teve uma breve carreira militar e serviu na Academia de West Point quando tinha 21 anos, tal qual sua versão fictícia.

Sobre o que é O Pálido Olho Azul?

Adaptado do romance de Louis Bayard publicado em 2003, o filme é ambientado na Academia de West Point, que precisa recorrer ao investigador — meio aposentado, meio eremita — Augustus Landor (Christian Bale) para solucionar um macabro crime. Um dos cadetes foi encontrado enforcado numa árvore, mas o suposto suicídio ganhou contornos sinistros quando o coração da vítima fora cirurgicamente retirado do cadáver enquanto ele estava na sala de autópsia.

Landor parece nutrir uma espécie de ranço pela Academia, cujos comandantes não fazem muita questão de se mostrar amigáveis, apenas querem que ele resolva o mistério logo para evitar que o local seja fechado. Os cadetes também não se mostram muito inclinados ou informados para ajudar na investigação, com exceção de um: Edgar Allan Poe (Harry Melling).

O Pálido Olho Azul
Netflix/Divulgação

De maneira um tanto furtiva, os dois encaram a investigação do (agora considerado) assassinato, seguindo por caminhos sobrenaturais e de possíveis práticas de ocultismo. Um caso que tem tudo para ir além das provas racionais e “elementares”, flertando com o macabro que Poe tanto aproveitou em suas obras.

O Pálido Olho Azul é aquele tipo de história que você precisa assistir sem levar spoilers, então a Caveira deixou aqui somente o essencial que você precisa saber sobre a trama.

LEIA TAMBÉM: O CORVO: POEMA DE EDGAR ALLAN POE NA CULTURA POP

Uma trama de gelar os ossos

Sabe a brincadeira “quente e frio” para descobrir se você está perto de algo? O filme funciona mais ou menos assim, só que sem chegar na parte quente. E nem estamos falando só da investigação, embora ela também se mostre bem fria nos momentos em que deveria estar esquentando. O roteiro e a direção de Scott Cooper parecem uma brasa que arde lentamente, mas que nunca queima como uma chama.

A ambientação no gélido inverno nova-iorquino, com direito aos leitos congelados do rio Hudson, confere a atmosfera perfeita para aquela morbidez que cai tão bem às histórias de Edgar Allan Poe: cinzento, nebuloso, inóspito. Uma pena que essas características também sejam tão pertinentes ao próprio filme, que nunca chega a esquentar para valer.

O Pálido Olho Azul
Netflix/Divulgação

O enredo chama a atenção, o elenco é bem promissor (Bale, Melling, Toby Jones, Gillian Anderson, Timothy Spall, Charlotte Gainsbourg, Robert Duvall) e a possibilidade de imaginar o que poderia ter inspirado a macabra obra de Poe vendem o filme muito bem. Mas de certa forma, parece que nenhuma dessas possibilidades é bem aproveitada na execução.

Justiça seja feita: a tão aguardada atuação de Melling na pele de Poe é um dos pontos altos aqui, oscilando entre a verborragia de um jovem poeta ainda apaixonado pelas palavras e um contexto que o coloca como um razoável, porém improvável, suspeito para os crimes investigados. Por outro lado, a premiada e aclamada atuação de Christian Bale não consegue passar do arquétipo do cara solitário, traumatizado e alcoólatra que tem zero paixão pelo que faz. A apatia é tão forte que nem o público sabe muito bem por que deveria torcer por ele.

Para um whodunit que entrega uma relação até bem interessante entre mentor e aprendiz (Landor x Poe), o mistério em si não envolve. Faltam elementos para levantar hipóteses além daquela apresentada pelo longa. Os personagens não têm carisma. A resolução do caso, ainda que surpreendente, não traz satisfação. 

Assim como as vítimas do filme, O Pálido Olho Azul parece ter perdido aquele elemento pulsante que chamamos de coração. Mas ainda é interessante especular sobre que acontecimentos macabros marcaram a vida de Poe para que ele entregasse as obras sinistras que tanto amamos.

LEIA TAMBÉM: 7 CURIOSIDADES SOBRE EDGAR ALLAN POE

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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