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Caveira Viu: Pinóquio de Guillermo del Toro

Cineasta deixa sua assinatura fantástica no clássico de Carlo Collodi

14/12/2022

O personagem Pinóquio pode ter um significado diferente para cada pessoa. Para alguns, ele é uma lição de que não devemos contar mentiras. Para outros, traz lições sobre o que significa ser um menino de verdade. E em outras interpretações, ele se assemelha ao Monstro de Frankenstein, uma criatura que de repente precisa buscar seu lugar no mundo.

LEIA TAMBÉM: PINÓQUIO: O FRANKENSTEIN DE MADEIRA

Desde 1940 a história se popularizou em todo o mundo graças à versão da Disney sobre a obra de Carlo Collodi. Com digressões que chegam a ser gritantes da obra original, a animação entregou uma visão mais açucarada e virtuosa do personagem e de toda a trama, mais amigável ao público infantil — o que não significa que não tenha provocado certo trauma nos pequenos com as sinistras transformações de meninos em jumentos.

Porém, quem conhece a história original, recentemente publicada pela DarkSide® em Pinóquio: Wood Edition, sabe que Pinóquio não é um personagem tão inocente assim  que o enredo conta com algumas passagens bem sinistras. Tendo isso em mente, é de se imaginar que Guillermo del Toro daria aquela atmosfera Dark que tanto esperávamos para o nosso pequeno Frankenstein de madeira.

Pinóquio

A visão fantástica do Pinóquio de Guillermo del Toro

Produzido em stop-motion, o novo filme lançado pela Netflix já se distancia bastante da estética arredondada e colorida da Disney. Aqui Pinóquio realmente se parece com um boneco de madeira — assim como boa parte dos outros personagens que teoricamente seriam de carne e osso.

Embora o enredo central seja o mesmo, o cineasta tomou suas liberdades criativas, ora aproximando-o do trabalho de Collodi, ora imprimindo a marca fantástica tão característica de del Toro. De modo geral, o público ganha com praticamente todas essas escolhas.

A primeira delas acrescenta camadas ao personagem Gepeto (David Bradley), carpinteiro que criou Pinóquio (Gregory Mann). Na animação da Disney de 1940 não entendemos muito bem aquela vontade de que o boneco ganhasse vida, no remake de Robert Zemeckis, sabemos da existência de algum menino que Gepeto havia perdido, mas a coisa para por aí.

LEIA TAMBÉM: CAVEIRA VIU: NOVO PINÓQUIO DA DISNEY

Gel Toro deu esse background que tanto queríamos, dedicando bons minutos à história de Gepeto e Carlo, seu filho, que ele tragicamente perde como uma consequência da guerra. Isso acrescenta camadas para um Gepeto imperfeito, que perde seu rumo, rende-se à bebida e constrói Pinóquio de maneira bem trôpega.

síndrome de pinóquio
Netflix/Divulgação

Ao dar vida ao boneco, Guillermo del Toro também se esquivou da figura da Fada Azul, dividindo-a em dois personagens místicos (ambos dublados por Tilda Swinton), de naturezas distintas: uma mais benevolente, e outra mais rígida e atenta a regras.

O encontro inicial do Pinóquio animado com Gepeto está longe da empolgação que conhecemos na Disney, o que, convenhamos, é bem mais sensato, não é? O que você faria se acordasse um dia de ressaca e descobrisse que um boneco de madeira feito por você agora está falando e andando por aí?

Com essa história de fundo da relação de Gepeto com seu filho, o relacionamento dele com Pinóquio recebe alguns contornos bem realistas. Enquanto o boneco tenta impressioná-lo, o carpinteiro se frustra de que Pinóquio nunca será como seu filho. Uma mensagem poderosa sobre corresponder às expectativas um do outro e de aceitar o outro, mesmo com todas as falhas dele (e as nossas também).

Até mesmo o Grilo, sagazmente dublado por Ewan McGregor, ganha contornos mais dúbios, aceitando se tornar a consciência de Pinóquio em troca de uma recompensa. Embora ele se mantenha como o narrador da história, sua participação parece ter diminuído um pouco, mas nem por isso o personagem se tornou menos importante.

Pinóquio Guillermo del Toro
Netflix/Divulgação

Pinóquio vai à guerra

Uma característica que difere bastante a versão de Guillermo del Toro para Pinóquio é a ambientação na Segunda Guerra Mundial, especialmente sobre a ascensão do fascismo. Embora cause uma estranheza inicial na comunidade em que Gepeto vive, Pinóquio logo é visto pela autoridade local fascista Podesta (Ron Perlman) como uma possível arma de guerra, dada a imortalidade do boneco. Sim, Pinóquio vai à guerra!

Uma sequência dedicada ao treinamento do boneco ao lado de outros garotos para que se preparem para o combate funciona como um espécie de substituta à Ilha dos Prazeres, aquele parque de diversões onde os meninos viravam asnos. O deslumbre visual do mais recente filme da Disney é substituído pela brutal realidade dos terrores da guerra, até mesmo em relação às crianças. Os meninos podem não se transformar literalmente em animais, mas o recado de del Toro está dado.

A assinatura de del Toro

Essa não é a primeira e nem será a última vez que veremos a história de Pinóquio ser contada. O que podemos destacar dessa versão é a assinatura do cineasta, conhecido por ter uma marca bem característica, misturando o sinistro com o belo, a brutal realidade com a fantasia. Ele já fez isso em A Forma da Água, O Labirinto do Fauno e com tantas outras produções. Não seria diferente com o menino de madeira de Carlo Collodi.

Com uma liberdade criativa que os grandes estúdios provavelmente podariam, Guillermo del Toro criou o seu próprio Pinóquio com a ajuda do roteirista Patrick McHale e do diretor Mark Gustafson, com quem divide os créditos da produção. Pode não ter aquela cara mais independente como o Pinóquio de Roberto Benigni, lançado em 2019, mas esse provavelmente nem era o objetivo. O cineasta queria o seu Pinóquio e é isso o que ele entrega.

Guillermo del Toro
Netflix/Divulgação

Com uma identidade que conversa com diversas de suas obras, del Toro chega até a ser um tanto autoindulgente e repetitivo em alguns momentos — a piada dos coelhos jogando cartas funcionou muito bem na primeira vez, mas a gente não precisava revisitá-la em outros dois ou três momentos. Mas ei, a mensagem era justamente aceitarmos o outro mesmo com suas falhas, não é mesmo?

Esse Pinóquio não se propõe a ser o mais sinistro, fantástico ou o mais fiel à obra de Collodi (embora consiga ser bem sinistro, sim). Do início ao fim, del Toro faz jus a ter acrescentado o seu nome ao título do filme: essa é a visão dele sobre o clássico. Quem é fã do cineasta certamente irá aproveitar cada minuto. Quem não é fã, também irá gostar de conhecer esse lado mais espinhoso e até mesmo humano da história. Uma bela animação com uma mensagem poderosa que já garantiu lugar nos nossos corações errantes.

LEIA TAMBÉM: MITOMANIA: CONHEÇA A SÍNDROME DE PINÓQUIO

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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