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De Mary Shelley a Milicent Patrick: Criadoras de monstros

Escritora e artista plástica conceberam monstros icônicos

08/04/2022

Histórias de terror parecem ser o habitat natural de mulheres. Elas são perseguidas e aterrorizadas por serial killers, forças malignas e monstros inimagináveis. Mulheres precisam resistir, lutar e sobreviver nessas histórias porque na vida real elas acabam fazendo o mesmo. Não é à toa que alguns dos monstros mais icônicos da cultura pop foram criados por elas.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: A DAMA E A CRIATURA, DE MALLORY O’MEARA

Como diria a cineasta e escritora Mallory O’Meara: “Mulheres são a parte mais importante do terror porque, de longe, é com as mulheres que o terror acontece”. Ela é autora do livro A Dama e a Criatura, que conta a história de Milicent Patrick, artista que desenvolveu o conceito visual da Criatura no filme O Monstro da Lagoa Negra, de 1954.

Créditos: Universal Studios

Apesar de sua importante contribuição com o cinema de terror na era de ouro dos monstros da Universal Studios, Milicent ainda é uma desconhecida do público, graças a uma indústria que ainda tem sérios problemas em creditar os talentos que a tornam milionária — principalmente quando as contribuições vêm de mulheres.

Se ainda hoje há muito preconceito na indústria cinematográfica com mulheres, principalmente no gênero de terror, imagine como era a realidade na década de 1950. Agora, vamos voltar quase um século e imaginar como era a vida de uma mulher que contava histórias assustadoras no início do século XIX.

Mary Shelley e o pioneirismo na concepção de monstros

Filha de uma notória escritora feminista e de um conhecido escritor, Mary Shelley conseguiu ter uma criação bem diferente da maioria das meninas de sua época. Mesmo sem contar com a presença física da mãe Mary Wollstonecraft, que tragicamente faleceu poucos dias após o parto, ela teve acesso a uma educação pouco usual para uma garota. A história da mãe e da filha podem ser conhecidas em profundidade no livro Mulheres Extraordinárias: As Criadoras e a Criatura.

Créditos: Richard Rothwell / Imagem de domínio público

Juntando os interesses pessoais por ciências e as tragédias que permearam a vida da escritora — a morte da mãe e o fato de que vários de seus filhos morreram precocemente —, ela desenvolveu o primeiro esboço de Frankenstein em uma competição de escrita com amigos, incluindo o parceiro Percy Shelley e o autor Lord Byron. Mais tarde, a história que seria apenas um conto acabou expandindo para um livro e uma das primeiras obras de ficção científica da história.

Apesar de seu brilhantismo, a trajetória de Mary Shelley como escritora não foi fácil. A relação ilegítima com Percy Shelley fez com que ela não fosse bem vista na sociedade londrina e, além disso, não era de bom tom que mulheres escrevessem histórias de terror, ou qualquer coisa, na verdade. No máximo algum romance bem água com açúcar.

Como resultado desse contexto inóspito a autoras mulheres, Frankenstein foi publicado anonimamente em sua primeira edição, apenas com um prefácio assinado por Percy Shelley — que os críticos especularam ser o verdadeiro autor da história. As primeiras recepções da crítica foram razoavelmente boas, porém, quando a identidade da autora se tornou conhecida, muitos veículos passaram a criticá-lo de maneira dura, principalmente associando as “falhas” ao fato de o livro ter sido escrito por uma mulher.

Milicent Patrick: Uma dama negligenciada

Ironicamente, a história escrita por Mary Shelley seria adaptada pela Universal na época em que o estúdio ficou conhecido por suas produções monstruosas, que incluem O Monstro da Lagoa Negra. Mas a desproporcional relação entre intensa dedicação e desmerecimento da indústria cinematográfica começou antes para Milicent Patrick.

LEIA TAMBÉM: MONSTROS CLÁSSICOS DA UNIVERSAL: DOS LIVROS PARA O CINEMA

Créditos: Álbum de família

O pai de Milicent, ou melhor, Mildred (nome de batismo) naquela época, era um engenheiro civil que trabalhou em um resort na Califórnia apelidado de “Castelo Hearst” e respondia diretamente para Julia Morgan, a primeira arquiteta mulher licenciada no estado. Porém, a relação dos dois não era das mais estáveis e Julia o descreveu como alguém vingativo e que se deleitava com a infelicidade dos outros. Possivelmente o pai foi o primeiro de muitos monstros na vida de Milicent.

Em sua vida profissional, Milicent Patrick sempre foi uma artista talentosa e ganhou três bolsas de estudo para um instituto que servia como uma incubadora dos estúdios Disney — que a contratou em 1939. Ela trabalhou em um departamento formado apenas por mulheres que produziam dezenas de milhares de desenhos em celuloide. Conforme uma jornalista da Vanity Fair escreveu mais tarde: “O trabalho dessas mulheres era fazer o trabalho dos homens ficar bonito”

Na Disney, Milicent trabalhou como animadora de cores, que era considerado um efeito especial na época, no clássico Fantasia. Ela saiu do estúdio em meio a uma debandada de animadores em 1941 resultante de uma greve dos funcionários. Porém, não foi esse o motivo de sua saída, e sim o fato de que ela havia se envolvido com um colega animador, Paul Fitzpatrick, que era casado e sua esposa esperava um bebê — que tragicamente cometeu suicídio quando soube da traição.

Nos anos seguintes a artista trabalhou como extra em alguns filmes esquecíveis da Universal e encarou mais algumas tragédias pessoais, inclusive o suicídio de um namorado que a mencionou não muito amigavelmente na sua carta de despedida. Aos poucos começou a dar suas contribuições ao departamento de maquiagem do estúdio e em 1952 foi contratada para trabalhar em O Monstro da Lagoa Negra.

O que era para ser um filme B logo deu sinais de que seria sucesso de público graças ao sex appeal da criatura e sua relação com a protagonista. Para capitalizar em cima do trabalho de Milicent, o estúdio a enviou em uma turnê com a chamada “A Bela que criou a Fera”.

Porém, o sucesso da artista, que seguiu em turnê acompanhada das máscaras de icônicos monstros da Universal, incomodou o chefe do departamento, Bud Westmore. A participação dela no conceito da Criatura foi reduzida e a turnê rebatizada de “A Bela que vive com as Feras”.

Mas nada disso foi suficiente para conter a raiva de Westmore. Ele retirou completamente o nome de Milicent dos créditos do filme, substituindo-o pelo seu, e, quando ela retornou da turnê após um mês, ele a demitiu. Com poucos registros e rascunhos da artista, sua contribuição com o terror permaneceu desconhecida por décadas.

Tanto Mary Shelley como Milicent Patrick servem de exemplo e inspiração, lembrando a todos que o terror não é um clube do Bolinha no qual só os meninos podem brincar. A irreverência de ambas acabou pisando em muitos calos de quem acha que existe um “lugar de mulher”. Porém, se há algo que a história nos ensinou é que, assim como Mary e Milicent, mulheres são cercadas por monstros ao longo da vida. Sendo assim, quem melhor do que elas para saber o que é realmente assustador e ameaçador, não é mesmo? 

LEIA TAMBÉM: 13 MULHERES ICÔNICAS NO CINEMA DE HORROR

A Dama e a Criatura é DarkSide® Books

Repleto de detalhes fascinantes, humor bastante afiado e pesquisa incomparável, A Dama e a Criatura entrelaça a vida de Milicent Patrick com a da própria autora, duas mulheres separadas por décadas, mas unidas pelas tragédias e triunfos de trabalhar em Hollywood, para expor as pequenas e lentas mudanças que se sucederam em quase 70 anos.

Um documento histórico poderoso que não só repara uma injustiça de décadas, como também ajuda a fortalecer o caminho trilhado por muitas mulheres na indústria cinematográfica, A Dama e a Criatura chega pela DarkSide® Books em parceria com a Macabra Filmes em uma edição monstruosa, que qualquer Criatura iria querer abraçar no fundo do oceano.

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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