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Dissecando Vecna

Vilão da Quarta Temporada de Stranger Things tem origem nos jogos de RPG e filmes de terror

01/07/2022

Desde que os primeiros sete episódios da quarta temporada de Stranger Things  foram lançados na Netflix no final de maio, os fãs ficaram atiçados com teorias e especulações, especialmente sobre Vecna, o grande inimigo que está aterrorizando a cidade de Hawkins, Indiana.

Ao longo dos anos, as coisas ficaram progressivamente mais fora de controle na cidade mais sinistra dos Estados Unidos. Se na primeira temporada o grande problema era o Demogorgon, um monstro que escapara do Mundo Invertido, a segunda e a terceira temporadas expandiram a mitologia com a introdução do Devorador de Mentes como a principal ameaça oriunda da dimensão sombria. Agora surge Vecna, um ser aterrador que ataca suas vítimas através de traumas, fazendo a pessoa reviver esses momentos até assassiná-las num ritual macabro, erguendo o corpo da vítima em pleno ar para, em seguida, quebrar todos os seus ossos, esmagando olhos e crânio.

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Créditos: Netflix

Enquanto o Demogorgon e o Devorador de Mentes eram criaturas relativamente similares, máquinas de matar aleatórias com sede de sangue, Vecna se manifesta como uma ameaça com uma motivação específica e cuja origem está conectada com a formação do Mundo Invertido.

⚠️ Alerta de spoilers ⚠️

No episódio final da primeira parte da nova temporada de Stranger Things, ficamos sabendo que Vecna ​​não surgiu no Mundo Invertido, na verdade, veio da nossa realidade e foi banido para a dimensão maligna.

Antes de se transformar na criatura, ele era um rapaz chamado Henry Creel (Jamie Campbell Bower), a primeira criança testada pelo Dr. Brenner (Matthew Modine). O número Um teve seus poderes bloqueados e trabalhou como ajudante no Laboratório Nacional de Hawkins. Anos depois, no mesmo laboratório, Eleven (Millie Bobby Brown) se tornaria sua aliada. No entanto, logo após restaurar suas habilidades, ela descobre a natureza sombria do jovem e, para derrotá-lo, abre acidentalmente um portal para a realidade que conhecemos como o Mundo Invertido.

Créditos: Netflix

A jornada do alter ego de Vecna é parecida com a de muitos vilões de histórias de terror. Ainda criança, ele era obcecado por aranhas viúvas negras, torturou e matou brutalmente sua mãe e irmã, colocando a culpa do crime no pai, vivido pelo icônico Robert Englund, em uma nada sutil referência ao monstro Freddy Krueger.

Créditos: Netflix

Ao contrário dos Demogorgons e do Devorador de Mentes, o monstro da vez tem forma mais humana. E, como de costume, as ameaças são nomeadas a partir dos personagens de “Dungeons & Dragons”. Ao ouvir a descrição de uma das mortes, o nerd mais fofo de Hawkins, Dustin (Gaten Matarazzo), batiza o vilão como  Vecna  em homenagem ao personagem que no jogo é descrito como um  mago das trevas e criatura morta-viva de grande poder que lança feitiços em seus inimigos.

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A história de Vecna no D&D

Assim como a moda, música e filmes dos anos 80, uma das marcas da série desde a primeira temporada sempre foram as partidas animadas de RPG. O personagem conhecido como Vecna está presente no universo de fantasia de “Dungeons and Dragons” (D&D) desde os primórdios. Ele foi concebido por Brian Blume, em 1976, quando criou os dois artefatos de poder — Olho e Mão de Vecna —, antes mesmo de determinar quem havia sido o dono original deles. O nome Vecna, aliás, é um anagrama de Vance, sobrenome de Jack Vance, o autor de SciFi e literatura fantástica cuja obra inspirou o sistema de magias do D&D — inclusive, o sistema no qual “prepara-se conjura-esquece” é conhecido como magia vanciana.

Temido na franquia de jogos Dungeons and Dragons, Vecna foi um humano criado dentro do Universo de Greyhawk. Ele estudou as artes místicas das trevas e eventualmente se tornou um dos mais perigosos magos que já existiram no multiverso. Conhecido como O Sussurrado, o Rei Imortal, Senhor da Torre Apodrecida ou Deus Acorrentado, ele foi treinado pela mãe, uma feiticeira cruel e poderosa. Nascido em Oerth, o mago se dedicou a acumular conhecimento e magia. Apesar de toda a força, Vecna não era páreo para seu maior algoz: a passagem do tempo. Temendo perder as conquistas adquiridas quando chegasse ao fim da própria vida, ele tentou alcançar o estado de semi deus. Em sua busca pela imortalidade, Vecna ​​se transformou em um poderoso necromântico e finalmente em um lich, um morto-vivo, a forma mais conhecida do vilão no mundo do D&D.  

 Créditos: Dungeons & Dragons

No RPG, Vecna ​​tornou-se oficialmente o primeiro mortal capaz de sacrificar o próprio corpo para viver para sempre. Movido pela vingança, Vecna passaria anos atacando a cidade de Fleeth, que executou sua mãe por praticar feitiçaria. Similar ao monstro da série da Netflix, na sua mitologia, Vecna foi traído e atacado por um de seus acólitos, Kas, a mão sangrenta, influenciado pelo sinistro artefato conhecido como a Espada de Kas, destruiu Vecna. Após ser derrotado, os únicos vestígios do corpo físico de Vecna ​​eram sua mão esquerda e seu olho, que ainda carregava um fragmento da vontade do Lich criando os artefatos poderosos nas campanhas de D&D conhecidos como Mão e Olho de Vecna. 

 Créditos: Dungeons & Dragons

Mais tarde, o Culto de Vecna ​​tentou trazê-lo de volta como um deus ainda mais implacável, mas não tiveram sucesso. Quase mil anos depois o mago finalmente atingiria esse status de divindade plena. Vecna ​​foi relegado a divindade inferior quando sua história chegou ao fim. Ainda assim, ele causou estragos durante sua ascensão à divindade e seus terríveis poderes permanecem influenciando a realidade na forma de seus artefatos.

É requerido ao portador executar em si mesmo um ritual necromântico para invocar tais artefatos, sacrificando um olho saudável e uma mão esquerda que lhe tenham sido retirados há poucos minutos.

Mão de Vecna: a mão esquerda humana, de aparência decrépita e unhas longas como garras. Após cortar a própria mão esquerda, o artefato se fixa magicamente ao braço do novo portador. As habilidades concedidas  variam de acordo com a edição de D&D. As mais famosas são super-força, toque capaz de matar vida vegetal, habilidades similares à magia. Gradualmente, seu dono começa a acreditar que é Vecna. Personagens bons tornam-se sádicos e malignos; personagens malignos tornam-se a encarnação da corrupção e acabam voltando-se contra seus amigos e aliados. Caso a mão se volte contra o hospedeiro, tentará  sufocá-lo  até a morte e se for cortada, o portador morrerá e não poderá ser ressuscitado. 

Olho de Vecna: é um de seus artefatos místicos perdidos entre os planos, originalmente as pessoas tratavam-o como um mito, tanto seu olho, quanto sua mão. Após se fixar ao novo usuário, ele  passa a emitir um suave brilho avermelhado. Os poderes mais icônicos do Olho de Vecna são: visão no escuro, detectar auras mágicas, rogar maldições, dominação mental e ver através de ilusões. Retirar o Olho levará a morte do portador, sem a possibilidade de ressurreição.

Vecna ​​é um Mestre Necromante, o que significa que ele terá acesso a feitiços como Soul Cage, Astral Projection, Tether Essence e Finger of Death. Ele também poderá escolher entre outros feitiços, como: Power Word Pain, Power Word Kill, Foresight e Meteor Swarm. Suas resistências e ações lendárias são poderosas o suficiente para sempre fazer parecer que ele tem a vantagem, o que significa que os jogadores terão que trabalhar em conjunto para reverter o cenário.

 Creditos: Dungeons & Dragons

Identificar as especificidades da maldição de Vecna ​​é difícil porque depende muito da campanha criada pelo Mestre. No entanto, o único elemento que permanece inalterado em todas as campanhas é que a maldição de Vecna ​​é uma aflição que transforma magos em Nothics, monstros esguios que existem apenas para causar sofrimento. 

Como a maldição transforma magos em Nothics é um enigma que permanece sem resposta. Mas, no mundo da série, Vecna ​​usa a maldição para atacar pessoas que sofreram experiências negativas (esse é o único elemento em comum em todas as vítimas dele), usando suas aflições como uma conexão entre as dimensões. Similar à entidade ​​descrita nos livros de D&D, o Vecna ​​de Stranger Things parece usar os adolescentes como seus próprios Nothics, reunindo as consciências atormentadas de suas vítimas em torno de um totem que amplifica cada vez mais seus poderes e sua influência em nossa realidade.

 Nothic | Créditos: Dungeons & Dragons

Na trama do seriado, Vecna ​​usa telepatia, vasculhando os pensamentos das pessoas para identificar seus próximos alvos e atacá-los remotamente. A partir daí, ele os liga psiquicamente a si mesmo e ao seu reino — a área de fumaça vermelha vista por Max (Sadie Sink) —, prejudicando seus corpos à distância, sem nunca colocar a mão neles. De muitas maneiras, os poderes de Henry Creel/Vecna ​​são semelhantes aos de Eleven, mas exponencialmente mais avançados, já que ele teve muito mais tempo para refinar suas habilidades. Além disso, é tudo incrivelmente parecido com o estilo de matar de Freddy Krueger, da série de filmes Hora do Pesadelo (“A Nightmare on Elm Street”, no original em inglês), que inspirou fortemente a quarta temporada de Stranger Things.

Créditos: Netflix

Algo sobre o qual ainda estamos curiosos, no entanto, é: por que o Mundo Invertido está aparentemente congelado em 6 de novembro de 1983, já que a Eleven abriu um portão pela primeira vez em 1979? O que ocorreu em 1983 que teve um impacto tão grande nessa dimensão alternativa? Vecna pode ter uma importância bem maior do que apenas agir como um mero assecla do Devorador de Mentes. É possível, inclusive, que todos os eventos que aconteceram em Hawkins ao longo dos anos tenham levado ao retorno deste grande vilão da quarta temporada de Stranger Things .

Créditos: Netflix

Os episódios finais da quarta temporada de Stranger Things acabaram de ser disponibilizados pela Netflix, respondendo (ou não) se Eleven e seus amigos vão conseguir derrotar Vecna ​​ou se ele vai retornar na quinta temporada, que já foi definida com a última da série. Seria uma solução razoável preservar o número Um como o derradeiro inimigo da turminha de Hawkins. 

Stranger Fans

Para quem ama o universo de Stranger Things, não basta assistir a série, tem que continuar teorizando e pesquisando as origens e referências na cultura pop. Como a música Running Up That Hill — de Kate Bush — que, após entrar na trilha da temporada, retornou às listas de mais tocadas quase 40 anos depois do seu lançamento, no clássico disco Hounds of Love (1985). Muitos outros detalhes do universo criado pelos Irmãos Duffer podem ser encontrados no livro Stranger Fans — A década de 80 no universo da série Stranger Things. O autor, Joseph Vogel, é fã de carteirinha da série e criou um documento completo que é uma verdadeira homenagem.

Entre as muitas curiosidades desvendadas por Joseph Vogel estão os videogames na casa de fliperamas Palace Arcade e como eles transformaram a cultura jovem nos anos 1980, os paralelos com o filme ET: O Extraterrestre, o contexto por trás de Dungeons & Dragons, como surgiram as caixinhas de leite com anúncios de crianças desaparecidas, os filmes e livros mais importantes para a série e muitas outras coisas que todo fã vai adorar saber.

LEIA TAMBÉM: STRANGER THINGS E AS CRIANÇAS DAS CAIXAS DE LEITE

Falando de fã para fã, Vogel mergulha nos detalhes que tornaram essa década um terreno tão fértil para as ideias dos criadores de Stranger Things. Ele apresenta ainda informações preciosas e ilustrações de artistas que se inspiraram na sinergia sinistra que une a história, seus personagens e, é claro, os fãs. Um livro que evoca leitores e espectadores a compartilhar teorias e lembranças de uma série que veio para fincar raízes no imaginário pop mundial.

Prepare-se para entrar em uma verdadeira máquina do tempo. Se Stranger Things é uma carta de amor para os anos 1980, este livro é um guia minucioso de fã para fã da DarkSide® Books.

A Hora do Pesadelo: Never Sleep Again

O monstro Freddy Krueger, outra peça importante para entender o quebra-cabeças de referências do universo da cidade Hawkins, é o objeto central do livro A Hora do Pesadelo: Never Sleep Again. A obra conta a história de como o diretor resgatou uma antiga obsessão de sua infância para criar um dos personagens mais icônicos do cinema moderno.

A Hora do Pesadelo: Never Sleep Again é o registro mais completo sobre este slasher movie revolucionário. Para escrevê-lo, o autor Thommy Hutson, que já havia produzido um documentário sobre o filme, voltou a entrevistar membros do elenco e da equipe, incluindo o próprio criador e principal diretor da franquia, Wes Craven, que assinou a apresentação do livro, antes de nos deixar em 2015.

Créditos: New Line Cinema

Prepare-se para noites em claro.

LEIA TAMBÉM: STRANGER THINGS: O QUE ERA SUCESSO NO ANO DE 1985

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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