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K-Beauty: Entenda a obsessão sul-coreana pela beleza

Tema é abordado no livro Se Esse Rosto Fosse Meu, de Frances Cha

02/05/2023

Você já deve ter percebido que faz alguns anos que a Coreia do Sul está com tudo! Seja com os grupos de k-pop que dominam as paradas, seja com o cinema de filmes aclamados como Parasita, com os doramas que bombam nos streamings, com a literatura e até com a indústria da beleza.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: SE ESSE ROSTO FOSSE MEU, POR FRANCES CHA

Basta uma passadinha pelas redes sociais para ver que os cosméticos coreanos — chamados de k-beauty — viraram verdadeiros objetos de desejo, mas não só. Assim como as brasileiras, as sul-coreanas (e os sul-coreanos, em menor nível) andam obcecadas por cirurgias plásticas em busca de um padrão de beleza homogêneo e praticamente inatingível.

Esse é um dos muitos temas contidos em Se Esse Rosto Fosse Meu, elogiado romance de estreia de Frances Cha, lançado aqui pela DarkLove (sabe quem amou? A Taylor Jenkins Reed, de Daisy Jones and The Six!). Uma das personagens criadas pela autora, Ara, está preocupadíssima com uma amiga que junta dinheiro para a cirurgia plástica que, acredita ela, vai mudar sua vida.

se esse rosto fosse meu

Os efeitos nefastos da obsessão pela beleza

E essa preocupação não existe só na ficção. A chamada “epidemia da beleza” reforça uma imagem única, fazendo com que aqueles que não se encaixem nesse estrito padrão tenham sérios problemas de autoestima, de autoimagem e cheguem a se endividar em busca do rosto e do corpo perfeitos. Isso num país extremamente desigual, em que mulheres ganham consideravelmente menos que os homens e não ocupam tantos cargos de poder.

Uma reportagem do New York Times, publicada em 2018, apresenta Kim Ji-yeon. A jovem conta que queria fazer cirurgia plástica desde os 7 anos. Nos 13 anos seguintes, ela destruiu fotos de si mesma até que seus pais pagaram por uma cirurgia para quebrar a mandíbula da filha e realinhá-la.

“Mesmo depois de gastar uma quantia significativa de dinheiro para mudar as características de alguém para ‘encaixar-se’ no padrão, a pessoa não faz nada para reparar os sentimentos internos de insegurança e inferioridade. É apenas uma máscara que fornece uma sensação falsa e superficial de confiança e apenas aumenta o ciclo de autocrítica a longo prazo”, argumenta a autora coreana-americana Karen Cho, em artigo no Medium.

LEIA TAMBÉM: A FASCINANTE [E HORRIPILANTE] ARTE DE MIMI CHOI

Ao se dar conta disso, Kim Ji-yeon cortou os cabelos curtos, jogou as maquiagens fora e encabeçou uma onda de protestos das mulheres contra a indústria da beleza, que empurra esses tais padrões goela abaixo das coreanas e não à toa faturou 8,3 bilhões de dólares em 2022, segundo a Straits Research.

coreia do sul e obsessão por beleza
JUNG YEON-JE VIA GETTY IMAGES

A beleza que não está nos olhos: está nas pálpebras

Se aqui no Brasil a onda tem sido de bichectomias (para diminuir o volume das bochechas), lipolads (essa que deixa o abdômen feminino trincado como o de uma Tartaruga Ninja) e harmonizações faciais muitas vezes grosseiras, na Coreia do Sul — que registra a maior taxa de cirurgias plásticas per capita do mundo – os padrões são outros. Karen explica:

“Na Coreia do Sul, embora ter pálpebras duplas possa não ser normal, certamente é o padrão. As pálpebras duplas são idolatradas por muitos sul-coreanos, pois fazem os olhos das pessoas parecerem mais redondos e maiores, um visual considerado bonito na nossa cultura. Eu cresci com pálpebras simples, e isso foi uma das principais causas por trás de meus baixos níveis de confiança”. (Sim, lá, as mulheres têm problemas de autoestima por causa das… pálpebras. Tem ideia do quão pesado isso é?)

“É difícil acreditar que algo tão pequeno quanto rugas nos olhos afete alguém tão profundamente; no entanto, foi um fardo que carreguei por anos a fio. Eu ouvi inúmeras histórias de meninas de várias faixas etárias, celebridades e até meninos fazendo cirurgia de pálpebras duplas para parecerem mais atraentes. Passar pelo procedimento de cirurgia de pálpebra dupla foi claramente muito prevalente a ponto de quase se normalizar — e suas histórias eram como uma voz irritante que não me deixava em paz.”

Beleza, status, classe social e racismo

Karen explica que as diferentes formas de beleza não são bem aceitas em seu país de origem, obcecado por mulheres de pele clara, de porcelana, com olhar angelical, quase infantil. Meio esquisito, né? “Infelizmente, na Coreia do Sul, há muito pouco espaço para parecer diferente ou ter características únicas, considerando que a cultura da Coreia do Sul é cega para uma visão muito unidimensional e homogênea da beleza. É importante seguir as tendências, e a individualidade não é tipicamente glorificada ou positivamente reforçada da mesma forma que nos Estados Unidos”, conta.

Isso se deve também ao fato de a Coreia do Sul ser um país considerado classista. O vencedor do Oscar® 2020, Parasita, de Bong Joon-Ho, deixou isso bem claro no filme. “Parecer ‘classe alta’ e elite é o padrão de beleza máximo a ser alcançado. Por exemplo, a pele clara é considerada bonita porque as pessoas de nível socioeconômico mais elevado naturalmente evitam o sol, uma vez que não precisam realizar trabalhos ao ar livre. Dito isto, a pele mais escura está associada à ‘classe baixa’”, explica Karen.

parasita
NEON CJ Entertainment

A obsessão pela aparência na Coreia do Sul faz com que candidatos a empregos e até mesmo a certas escolas precisem enviar uma foto para participar do processo seletivo. Isso porque “ser apresentável é considerado um sinal de respeito, de não ser preguiçoso. Na verdade, é considerado rude não se apresentar de uma forma favorável ou atraente”, segundo a autora.

Mesmo a aclamada indústria cosmética, que se tornou ponto de obsessão nas redes sociais do mundo todo, é focada em peles claras — é raro ver produtos de beleza feitos para peles escuras e não tão raro vemos fórmulas coreanas dedicadas ao clareamento de pele — o que é extremamente racista e excludente. Fora a tal rotina de skin care sul-coreana, que tem pelo menos 10 passos e é feita com produtos caros, que visam a “corrigir” toda e qualquer característica vista como imperfeição. Isso tudo antes de aplicar a maquiagem, tá?

Com esse pano de fundo, Se Esse Rosto Fosse Meu pinta um quadro vívido das esperanças, sonhos e percalços das mulheres em uma sociedade em rápida mudança — e de uma cultura muitas vezes incompreendida. Eleito um dos livros do ano por publicações e emissoras como Time, Esquire, New York Post, BBC e NPR, a obra de Frances Cha busca retratar essa luta enquanto tem a amizade entre mulheres como força motriz. Afinal, nada mais belo do que as relações que cultivamos.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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1 Comentário

  • Sarah

    20 de agosto de 2023 às 12:17

    muito interessante o post, isso me faz pensar que realmente o ser humano nasce mau, como propoz Hobbes. Como pode algo tão superficial assim literalmente ditar a felicidade das pessoas? A sociedade é doente desde os primordios da humanidade. Mas, a esperança´é a ultima que morre, quem sabe um dia viveremos mais em paz em relação as nossas aparencias

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