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Necronomicon: O livro, o conto, o terror

Conheça esse título maldito do horror cósmico e sua história

01/04/2024

Dono de uma mente criativa e ousada, H.P. Lovecraft deixou um grande legado na literatura. De Cthulhu a Arkham, passando pelos Grandes Antigos, o autor de Rhode Island abriu as portas para o horror cósmico com suas maldições e mitos.

LEIA TAMBÉM: DA OBSESSÃO À INSPIRAÇÃO: AS PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS DE H.P. LOVECRAFT

Entre suas diversas criações, há uma que se tornou praticamente uma lenda urbana e vive aparecendo na cultura pop. Trata-se de nada mais, nada menos do que o Necronomicon. Um poderoso grimório feito de pele humana e escrito em sangue que tem o sinistro poder de enlouquecer aqueles que ousam desvendar seu conteúdo. Com feitiços e encantamentos capazes de ressuscitar os mortos e estabelecer contato com outras dimensões, a obra também traz a história dos Antigos e formas de invocá-los.  

Aparecendo em várias histórias do autor, o Necronomicon se tornou tão famoso ao longo do tempo que já foi levado para os cinemas algumas vezes, como em A Morte do Demônio (1981) e Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (1993), além de inspirar a criação de inúmeros outros livros macabros dentro do horror. Mas afinal de contas, o que é o Necronomicon? Qual é a sua importância nas obras de Lovecraft? 

necronomicon evil dead

Uma criação de H.P. Lovecraft

Embora seja um objeto inanimado, o Necronomicon é praticamente um personagem no universo criado pelo escritor americano, sendo mencionado recorrentemente em suas narrativas. A primeira menção oficial ocorreu no conto “O Cão de Caça”, escrito em 1922 e publicado em 1924, o qual acompanha dois ladrões de covas que encontram um misterioso amuleto, o qual consta nas páginas do Necronomicon, o livro proibido escrito por volta de 730 d.C. pelo insano Abdul Alhazred. Apesar desta ser sua primeira aparição no universo lovecraftiano, o Necronomicon é apenas mencionado em “O Cão de Caça”, ganhando mais destaque e importância em obras futuras.

Inclusive, vale apontar que o autor do Necronomicon, Abdul Alhazred, já havia aparecido em “A Cidade sem Nome”, conto publicado um ano antes, em 1921. A história é extremamente importante para o universo interconectado do autor, já que é uma das primeiras a ser ambientada nos Mitos de Cthulhu.

LEIA TAMBÉM: O QUE SÃO OS MITOS DE CTHULHU

Ao longo das décadas, o Necronomicon voltaria a aparecer em outras histórias, fazendo parte de contos amados pelos fãs como “Nas Montanhas da Loucura”, “O Chamado de Cthulhu” e “O Horror de Dunwich”. O grimório maldito se tornou tão famoso que acabou sendo incorporado à ficção de outros autores, como August Derleth e Clarck Ashton Smith. 

nas montanhas da loucura

O nascimento de uma lenda urbana 

Uma característica marcante da escrita de Lovecraft é a forma como suas histórias imitam relatórios oficiais e outros documentos. Ao criar um universo onde cientistas, estudiosos e pessoas comuns têm a sanidade desafiada por monstros antigos, objetos ocultos, outras dimensões e mistérios difíceis de serem compreendidos pela mente humana, o escritor aproximava suas histórias dos leitores, borrando as fronteiras entre o real e a ficção. A forma pela qual Lovecraft descrevia racionalmente coisas aterrorizantes e misteriosas facilitava que leitores questionassem o fato de que aquilo poderia ser um relato verdadeiro de algum aventureiro desafortunado. 

Isso nos ajuda a entender por que o Necronomicon se tornou uma lenda urbana com vida própria. A ideia de que o livro existia mesmo foi reforçada em diversos momentos, por exemplo quando Lovecraft escreveu que após sua tradução para o latim o grimório havia sido banido pelo Papa Gregório IX em 1232 e que apenas cinco instituições no mundo possuíam cópias do manuscrito, incluindo o Museu Britânico, a Biblioteca Nacional da França e a biblioteca da fictícia Universidade Miskatonic, situada em outra criação do autor, a cidade de Arkham, no estado de Massachusetts. 

Essa mistura entre realidade e ficção causou um verdadeiro alvoroço entre os leitores de Lovecraft e de revistas pulp como a Weird Tales. O escritor recebia tantas cartas de pessoas ávidas para saber a localização e detalhes do livro que precisou inúmeras vezes explicar que o Necronomicon era uma mera invenção sua. Vale lembrar que o início do século XX foi marcado por uma intensa fascinação do público com o oculto e objetos antigos, impulsionada pelas escavações no Egito e descobertas de tumbas de faraós. O furor era tão grande que o editor da Weird Tales sugeriu que Lovecraft escrevesse o maldito livro, apenas para saciar a curiosidade dos leitores. 

lovecraft

A história do Necronomicon

Eis que em 1927, Lovecraft finalmente escreveu a história fictícia do Necronomicon, que foi publicada postumamente em 1938. De acordo com o conto, Abdul Alhazred venerava Cthulhu e Yog-Sothoth, recebendo dessas divindades um conhecimento secreto para produzir a primeira versão do livro, cujo título original era Al Azif

Pouco sabemos sobre o próprio Alhazred. O poeta louco passou anos explorando as ruínas da Babilônia, os segredos subterrâneos de Mênfis e o grande deserto ao sul da Arábia. Em seus últimos anos, residiu em Damasco, onde escreveu o Necronomicon, e desapareceu misteriosamente em 738 d.C. 

O Necronomicon então foi traduzido para o grego, ganhando o título que conhecemos, pelo estudioso Theodorus Philetas. Após incidentes macabros, a obra teria sido queimada e banida pela Igreja Católica. Apesar disso, algumas cópias ainda estariam disponíveis pelo mundo em coleções secretas. Mais uma vez misturando realidade e ficção, Lovecraft escreve no conto homônimo que os rumores do Necronomicon inspiraram a escrita de O Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers. 

o rei de amarelo

Um dos aspectos mais fascinantes do Necronomicon é justamente sua periculosidade. Afinal, pouquíssimas pessoas sobreviveram após terem contato com suas páginas, capazes de levar os leitores à loucura. Segundo o próprio Lovecraft, o livro possui feitiços para outras dimensões e rituais de invocação de deidades antigas e poderosas, funcionando também como uma grande enciclopédia desses seres. 

Necronomicon na vida real

Lovecraft criou muito mais do que um livro. O Necronomicon une de forma magistral a história factual e os pesadelos criados pelo autor. Tudo isso ajudou a confundir a cabeça dos leitores de que a obra poderia ser real. Embora Lovecraft tenha afirmado categoricamente que o Necronomicon não existia, o fenômeno foi tão grande que acabou transportado para a vida real com edições sendo publicadas como o “verdadeiro” grimório, mas que não passavam de invenções fraudulentas.

Essas publicações ficaram ainda mais populares nos anos 1970 com o aumento no interesse pelo ocultismo. Uma das mais famosas foi a Necronomicon: O Texto de Simon, publicada em 1977. A história conta que dois monges procuraram o editor Herman Slater, famoso na cena ocultista de Nova York, para entregar a única cópia de um terrível livro escrito por um homem chamado Simon. Com uma série de feitiços, a obra procura estabelecer uma relação com as ideias de Lovecraft e Aleister Crowley, além de incluir mitos e rituais sumérios, babilônicos e assírios. 

necronomicon

Necronomicon: O Texto de Simon foi um grande sucesso e continua sendo publicado até os dias atuais, apesar de ser amplamente apontado como uma farsa. Ainda assim, muitas outras publicações afirmando ser o Necronomicon ou se inspirando na obra de Lovecraft vieram depois disso, como a obra homônima de George Hay. 

O legado macabro de H.P. Lovecraft

Ao longo dos anos, Lovecraft continuamente inseriu pequenas informações do Necronomicon em suas histórias, pintando uma imagem vívida e aterrorizante de um livro amaldiçoado cujo conhecimento proibido destrói a mente daqueles que se atrevem a investigá-lo. Um bom dessa rede construída pelo autor é o fato de o Necronomicon ser apontado como a causa da espiral de loucura do artista R. U. Pickman, protagonista do conto “O Modelo de Pickman”, publicado em H.P. Lovecraft: Medo Clássico Volume 2.

lovecraft medo classico

Esse grande universo compartilhado foi o suficiente para criar um objeto icônico que é central na mitologia lovecraftiana e que também transbordou para o mundo real, alimentando lendas urbanas, publicações macabras e outros produtos culturais. Não é de se espantar que o Necronomicon apareça em jogos de RPG, filmes de terror e outras obras literárias. O impacto é tão grande que o livro passou a ser recriado em versões feitas pelos fãs.

Se você se interessou pelo Necronomicon e tem coragem de desvendar seus segredos profanos, a Caveira tem uma boa notícia. O conto acabou de se republicado na edição de Necronomicon: Vida & Morte de H.P. Lovecraft, biografia escrita pelo professor de história W. Scott Poole e lançada em parceria com a Macabra. Necronomicon: Vida & Morte de H.P. Lovecraft investiga a fundo a mente criativa e perturbadora do polêmico escritor americano, explorando sua vida, suas obras e seu imenso legado. 

necronomicon vida e morte de hp lovecraft

Integrando a coleção tentacular da Caveira, que contém dois volumes de contos de Lovecraft e adaptações ilustradas, Necronomicon traz um olhar único sobre um dos maiores nomes da literatura mundial. Entre deuses antigos e encantamentos pervertidos, chegou finalmente a hora de abrir de uma vez por todas o livro maldito.

LEIA TAMBÉM: LOVECRAFT NA CULTURA POP

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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