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Onde Cantam os Pássaros mostra que histórias bonitas não são necessariamente histórias felizes

"Não existe fuga. Não existe proteção. O passado sempre nos encontra, no meio ou no fim da nossa curta jornada"

08/03/2019

Por Juliana Fiorese, parceira DarkSide

Eu ainda estou me recuperando do choque que eu tive ao terminar as últimas páginas desse livro. Sim, Onde Cantam os Pássaros, de Evie Wyld, deixou meus olhos lacrimejando no final.

Sim, me fez pensar, me fez refletir, me fez questionar, juntar as peças. E, sim, a história é in-crí-vel. Eu diria até que é uma linda história, partindo da ideia de que histórias bonitas não necessariamente precisam ser histórias felizes.

Esse livro claramente é um divisor de opiniões; a minha, muito mais que positiva. Vou tentar explicar aqui os motivos pelos quais eu adorei essa história e pode ser que, mesmo sem intenção, eu deixe passar algum spoiler. Tentarei ao máximo evitá-los, mas já fica o aviso. De qualquer forma, todos os spoilers são sinalizados.

Já adiantando que esse é um livro que sugere várias interpretações, que irão variar de leitor para leitor; e isso é fascinante. Acho incrível quando um livro traz isso porque nos oferece oportunidades para discutirmos a história, defendermos a nossa opinião e aumentar ainda mais o nosso repertório sobre a trama com a visão do outro. É genial.

O meu ponto de vista, particularmente, foi construído através de uma visão mais figurativa ao invés de pensar no sentido mais usual das coisas.

Normalmente eu mostro os detalhes da edição dos livros no final da resenha, mas dessa vez resolvi começar falando sobre a capa.

Que ela é linda, nós já percebemos isso de primeira, mesmo de longe.

Então, quando terminei de ler o livro, resolvi passar os olhos sobre esses elementos com um pouco mais de calma, gastando alguns minutinhos na leitura dessa colagem que nos é apresentada de maneira excepcional e encontrei coisas mais lindas ainda.

No canto inferior direito da capa, temos uma boca feminina com batom – vejam que não aparecem os olhos -, temos uma flor linda e muito maior que as outras acima e um pouco mais à sua frente, e algumas flores menores e folhas que nos lembram erva daninha envolvendo esse meio rosto que aparece.

Todos esses três elementos – batom, flor muito bonita e erva daninha – tem um significado muito importante na história, que o leitor só ficará entendendo nas últimas páginas do livro. Quando você terminar de ler, por favor, leia também esse discurso visual maravilhoso que capa do livro traz.

Por traz desses três elementos e um pouco mais para a esquerda da capa, temos um esqueleto. Esqueleto, para mim, significa morte. Ao lado desse esqueleto, mesmo que de maneira quase imperceptível, ainda tem um braço mostrando uma outra camada – músculos – que envolve o corpo humano. E essa transição faz todo o sentido do mundo para a história.

Como plano de fundo nos é apresentada a cor rosa, gente. Quer cor que demonstre mais inocência infantil no universo feminino do que essa? Querendo ou não, isso já faz parte da nossa bagagem cultural e tem sim, um significado enorme na história por trás da escolha dessa cor.

Na minha opinião, não foi só para deixar o livro “fofo”. Foi genial.

Pássaros tem uma simbologia forte sobre liberdade. No centro da capa, encontramos a silhueta de um pássaro. Mas ele não está lá. E pensei que isso pode sugerir uma busca diária de libertação, já que a presença dos pássaros é muito marcante ao longo de toda a narrativa.

O título de Onde cantam os pássaros está inserido em um círculo preto, assim como as laterais do livro e a fitinha de cetim que o acompanha, podendo representar toda a escuridão que tem por trás do mistério que envolve o passado e o presente da protagonista, repleto de sombras e manchas escuras que a atormentam ao longo de todo o texto.

Entre outros elementos que, no meu ponto de vista, também tem relação e significados para a historia.

Então, concluí que a escolha de tudo nessa capa não foi feita aleatoriamente para deixa-la bonita. Eu acredito que tem um significado por trás de cada elemento, de cada parte, de cada imagem que aparece na nossa frente.

Eu fiz questão de começar essa resenha apresentando essa observação para poder defender a minha opinião tão positiva sobre esse livro.

Pensei: “ora, se as imagens da capa me fazem pensar sobre o significado por trás de cada uma delas, o que me impediria também de pensar que as palavras seguem esse mesmo pretexto?”. E aí eu comecei a enxergar certas palavras com um sentido mais figurativo. Principalmente sobre ovelhas e feras.

O livro Onde cantam os pássaros vai nos contar então a história de Jake White, uma australiana que mora sozinha em uma fazenda, numa ilha britânica não muito conhecida.

Jake vive na presença do seu cachorro, Cão, e de suas ovelhas que, misteriosamente, começam a aparecer mortas de um jeito muito esquisito: alguma coisa vem à noite, mata suas ovelhas e as deixam em pedaços.

A nossa protagonista também é um pouco esquisita aos olhos dos moradores daquela cidade britânica, por ser bastante reclusa e não gostar de fazer amigos. Jake tem um motivo muito forte para não confiar nas pessoas.

Então, além do mistério que envolve a fera, também temos o mistério do passado de Jake, que vai sendo desvendado aos poucos. Ir juntando as peças e descobrindo tudo que aconteceu é sensacional.

Fiquei impressiona como um único ato pode desenvolver uma cadeia de acontecimentos que fica maior a cada passo, a cada atitude, e como isso pode levar a várias e várias tragédias ao longo da vida de uma pessoa.

Eu nunca li nada semelhante com a estrutura narrativa que esse livro oferece e essa maneira que a Evie Weld escolheu para nos contar a história de Jake me encantou e me deixou com vontade de ler outros livros dela – como eu assisti algumas resenhas sobre esse livro antes de te-lo em mãos, eu já sabia como era essa estrutura e isso me ajudou muito na compreensão da história, então, se você preferir descobrir isso sozinho(a) é melhor avançar o post até depois da próxima foto.

A história é contada da seguinte maneira: os capítulos ímpares nos apresentam o presente de Jake. Já os capítulos pares vão nos mostrando a história do passado da protagonista, discorridos de um passado mais recente, para um passado mais antigo, onde chegamos, no final do livro, ao início da história e os acontecimentos que construíram a personalidade de Jake.

Outro ponto interessante é que nos capítulos ímpares (presente) Jake sempre usa verbos no passado:

“Levei algumas laranjas, limões e alho-poró para o caixa. Eu não
precisava de nada, aquela viagem tinha sido muito mais pelo
passeio de carro do que pelos suprimentos“. [p. 9]

E nos capítulos pares (passado) ela sempre usa verbos no presente:

“Greg?, chamo, sem respostas. Desligo a água para ouvir melhor.
A redback baixa sua pata. Greg? A espuma ainda densa em meus
cabelos estala nos ouvidos“. [p. 17]

O livro tem uma linguagem fácil e é bem rápido de ler, mas acredito que se for lido rápido, talvez detalhes muito sutis passem despercebidos, principalmente em relação a dois personagens secundários que aparecem: Lloyd e Samson. Eles tem uma importância enorme no contexto, mas é apresentado de maneira tão delicada, que pode parecer não fazer muito sentido.

Se você tiver a oportunidade de ler esse livro, por favor, dê uma atenção especial a ele. Não se empolgue com essa facilidade de leitura, vai com calma, aproveita e interpreta cada palavra que, no final, seu coração vai apertar e vai ser lindo.

Enfim, não é à toa que Onde cantam os pássaros ganhou tantos prêmios:

Miles Franklin Award, o mais importante prêmio literário australiano, o britânico Jerywood Fiction Uncovered Prize e o Barnes & Noble Discover Award, oferecido pela livraria norte-americana aos novos autores de destaque.

Ah !! É um livro que tem muito palavrão e descreve detalhadamente cenas pesadas, como por exemplo, o aspecto das ovelhas dilaceradas que Jake encontra. É bom ver a classificação do livro !!

Na minha opinião, o mistério se desenvolve muito além do que descobrir quem está matando as ovelhas de Jake e, se você for com a intenção de desvendar literalmente esse problema, pode ser que você se decepcione.

Quando eu cheguei no último capítulo ímpar do livro, eu já não estava mais me importando sobre essa fera que chega para matar suas ovelhas. Me pareceu uma história tão linda, que eu simplesmente me emocionei com as últimas frases do livro. Fiquei em estado de choque.

Que história linda !! Trágica – muito trágica -, mas extremamente poética, delicada e assustadora.

Isso pode ser um [[[ spoiler ]]], então, pula para depois da foto ♥ caso você não tenha lido o livro ainda !!

A história de vida de Jake me lembrou muito a história de vida de Oskar, do filme Deixe ela entrar – outra história maravilhosa, emocionante. Aliás, o sentimento que eu tive quando terminei de ler Onde cantam os pássaros foi o mesmo sentimento que tive ao terminar de assistir esse filme – tanto a versão sueca, quanto a versão americana.

Achei o livro cheio de contra-balanceamentos: o rosa (que na minha visão representa uma certa inocência infantil) e o preto (que, para mim, representa escuridão, sombra); a própria estrutura da narrativa; uma linguagem fácil de ler, porém pesada em suas descrições; o livro se chama Onde cantam os pássaros, mas na capa está faltando justamente esse elemento; uma história que aborda violência física e psicológica, porém incrivelmente delicada; o único apego que aparentemente Jake tem é com o seu cachorro e, no entanto, nem um nome ela foi capaz de dar a ele, chamando-o de Cão; entre outros diversos pontos e contra-pontos que vão deixando tudo muito equilibrado.

Eu não sou uma pessoa religiosa, mas acabei enxergando uma pequena busca de religião em Jake, no seu estado de desespero.

As ovelhas – ou cordeiros – carregam um peso enorme em seu significado, principalmente para algumas religiões. Pessoas que acreditam nessa simbologia animal enxergam-as como representantes de positividade, como indícios de que tudo dará certo.

O que acontece com as ovelhas dessa história, é que elas estão sendo mortas, mutiladas, dilaceradas, apagadas da história. E a nossa personagem principal luta e se esforça muito para proteger suas ovelhas. E eu fiquei me questionando se ela estava se agarrando mesmo somente a isso? Ao significado literal dos acontecimentos? E achei que não.

[[[ Spoiler ]]] pula para depois da foto ♥ caso você não tenha lido o livro ainda:

Me pareceu muito que um sentimento negro de culpa perseguia a Jake e ela estava em constante busca por redenção.

Ainda tratando de religião e de contra-balanceamentos, eu achei engraçado quando Jake pergunta a Lloyd se ele é crente, pois ele estava dormindo no sofá abraçando uma bíblia:

“‘Você é crente?’, perguntei. (…)
‘Quê?’, e então olhou apara a Bíblia. ‘Ah.’ (…)
‘Não – foi o único livro que encontrei e pensei
que podia dar uma chance.’ Bocejou exageradamente“. [p. 115]

No entanto, ele vive usando expressões como “Cristo!“, “Por Deus!“, “Jesus!” o tipo inteiro. Sem falar que o nome dele, Lloyd, me lembra muito a sonoridade de Lord, Senhor.

Outro personagem que tem um nome aparentemente religioso é Samson. Esses três personagens – Jake, Lloyd e Samson – tem muita coisa em comum, por isso eu disse que é importante dar atenção a eles.

[[[ Spoiler ]]] pula para depois da foto ♥ caso você não tenha lido o livro ainda:

Eu não estranhei, de forma alguma, a aproximação de Lloyd e Jake, e a maneira fácil e não questionadora que ela o deixou entrar em sua vida. Na minha opinião, ela se viu nele – assim como também se viu no olhar de Samson – e sentiu um certo aconchego, uma certa semelhança, e ouso dizer até uma certa segurança. Igualzinho à aproximação de Oskar e Eli – ainda no filme Let me in ou, Deixe ela entrar.

Com certeza vou ler esse livro mais vezes e, com mais certeza ainda, encontrarei sempre algo novo que me passou despercebido e que vai enriquecer cada vez mais a minha percepção sobre a história. Onde cantam os pássaros entrou fácil na minha listinha das melhores leituras de 2015.

Por isso, eu indico demais o livro.

Mas, como eu falei no início do post, ele é divisor de opiniões e sugere diversas interpretações. Então, antes de escolher entrar nessa história, sugiro que veja outras opiniões, analise os argumentos das pessoas, analise o que eu escrevi aqui e, se nada disso te incomodar, Voilá.

O livro tem capa dura com revestimento soft touch e verniz localizado no círculo preto onde estão inseridos o título e os nomes da escritora e da editora. Além disso, como já mostrei nas fotos, as laterais do livro tem as páginas pintadas de preto assim como a fitinha de cetim, que serve como marcador de páginas.

A guarda do livro mostra o rebanho de ovelhas, com um espaço em branco entre elas, representando o que vem acontecendo com esses animais durante a história ♥ !!

A folha de rosto é inteiramente preta, com excessão do logo da editora, onde aparece a caveirinha branca ♥.

E, logo depois, temos a página da ficha catalográfica, seguida da página de agradecimentos.

Eu achei sensacional a escolha das formiguinhas !! Normalmente a gente vê formigas carregando pesos muito maiores que o de seu próprio corpo e elas estão sempre construindo novas casinhas. Isso me fez lembrar muito de Jake White !!

O início de cada capítulo traz o nome da autora do livro, Evie Wyld, o título da história, o logo da Darkside Books e o número do capítulo.

A diagramação do texto é muito boa, com a margem grande, o tamanho da fonte confortável, assim como o espaçamento entre as linhas ♥. Eu achei a experiência de leitura muito aconchegante.

O texto também traz notas de rodapé explicando determinados aspectos tanto da cultura inglesa quanto da cultura australiana. Principalmente falando sobre os animais da Austrália; sugiro que a cada animalzinho citado no texto, o leitor pesquise no Google sua imagem ♥.

Ah !! Antes de começar o capítulo 1, aparece a imagem de uma ovelha. E, antes de começar o capítulo 32, aparece a imagem de um esqueleto.

Quando a história acaba, a gente fica conhecendo um pouquinho sobre a autora através da página de agradecimentos e da página reservada à sua biografia.

Alguém aí já leu esse livro? O que achou dele? Quem ficou com vontade de conhecer a história?

Publicado originalmente no blog de Juliana Fiorese

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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1 Comentário

  • Paola Cruz

    19 de dezembro de 2019 às 07:33

    TENHO ESSA EDIÇÃO,COMPREI MEUS PRIMEIROS LIVROS DA DARKSIDE ESSE ANO E CONFESSO QUE ESTOU AMANDO.

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