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Oppenheimer abre um novo capítulo na nossa conflituosa relação com Christopher Nolan

Cineasta genial ou superestimado?

12/05/2023

Um diretor ambicioso, talentoso, versátil e com produções que são sucesso de público e de crítica. Um cineasta megalomaníaco, de falas polêmicas, com produções superestimadas e falta de alma em seus personagens. Tudo isso pode ser dito sobre Christopher Nolan — talvez até pela mesma pessoa.

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Há algo em Christopher Nolan que inspira certa admiração e ao mesmo tempo exaustão — principalmente com seus filmes cada vez mais longos. Grande parte do público o conheceu no enervante Amnésia, um thriller contado de trás pra frente com um desfecho surpreendente. Embora não seja o primeiro longa do diretor (esse mérito fica com o filme Seguinte) foi uma produção importante para o cineasta, que começava a deixar uma marca registrada um tanto original dentro do marasmo de Hollywood.

Se você não teve o primeiro contato com o trabalho de Nolan em Amnésia, é bem possível que esse encontro tenha ocorrido com Batman Begins. Em 2005 o diretor entregou uma vistosa e celebrada produção de origem para o personagem icônico da DC Comics, propondo uma visão diferente das versões anteriores mais recentes dirigidas por Tim Burton e Joel Schumacher

Claro que toda história de origem precisa de uma continuação, o que garantiu mais dois filmes do morcegão para a conta de Christopher Nolan: Batman: O Cavaleiro das Trevas e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. O segundo filme da trilogia virou uma espécie de marco no cinema, unindo os fãs mais aficionados das HQs ao pessoal que nunca pegou um quadrinho nas mãos na vida. Também foi marcado pela atuação poderosa de Heath Ledger no papel de Coringa, seguida de sua trágica morte, o que não impediu sua consagração com o Oscar® póstumo de Melhor Ator Coadjuvante. Muita gente diz até hoje que essa trilogia do Batman de Nolan “não é um filme de super-herói”. Seja lá o que isso signifique.

coringa de heath ledger em batman o cavaleiro das trevas
Warner Bros./Divulgação

Paralelamente aos filmes do Cavaleiro das Trevas, Nolan abraçou outros projetos mais autorais que também encantaram audiências, como o surpreendente O Grande Truque (o melhor crossover de Batman, Wolverine e Viúva Negra de todos os tempos). Mas foi no badalado A Origem — mais conhecido no Brasil pelo seu título original, Inception, mesmo — que Nolan explodiu um número considerável de cabeças. Não, não era um filme de gore. Estou falando do público maravilhado com o roteiro, as teorias levantadas pela história e os deslumbrantes efeitos visuais.

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Desde então ele vem entregando um projeto mais ambicioso que o outro, muitos em gêneros cinematográficos distintos. Interestelar trouxe um elenco estelar (trocadilho intencional) em uma ficção científica que brinca com viagens no tempo; Dunkirk foi um drama de guerra que mostrou pra todo mundo como um tanque vazio é um recurso valiosíssimo para um suspense; e Tenet pretendia ser o filme que traria as pessoas de volta às salas de cinema “após a pandemia” (detalhe: ele foi lançado em 2020).

Só que ao mesmo tempo em que Christopher Nolan entrega trabalhos caprichados, a originalidade parece dar espaço a uma certa autoindulgência. Uma fórmula para arrancar premiações. Produções tão ambiciosas que parecem “grandes demais para falhar”. Isso sem contar que os filmes aparecem cada vez mais extensos — nada contra, desde que haja história para isso. Para o Nolan, toda versão é a versão do diretor, e isso deve se repetir em breve com Oppenheimer.

Oppenheimer: Um filme controverso desde seu nascimento

O próximo filme de Christopher Nolan, que já está causando um burburinho na internet para o bem e para o mal, tem tudo para ser o mais ambicioso do diretor até agora (tenho a impressão de já ter ouvido isso antes). 

oppenheimer
Universal/Divulgação

O longa será um drama cinebiográfico sobre o cientista titular do Projeto Manhattan, responsável pela criação da bomba atômica. Ambientado na Segunda Guerra Mundial, a história se concentrará na vida pessoal de J. Robert Oppenheimer, que será interpretado por Cillian Murphy, que já trabalhou com Nolan em Batman Begins e A Origem.

Acima de tudo, estamos falando de um estudo de personagem. Ou melhor, com um orçamento de 100 milhões de dólares, estamos falando de um dos estudos de personagem mais caros da história. Precisaria mesmo de tudo isso? A gente sabe que o Nolan costuma empregar muito bem orçamentos polpudos na estética de seus filmes, com efeitos especiais deslumbrantes — preferencialmente com pouco ou nenhum CGI — e edições caprichadas para vídeo e som. Mas um estudo de personagem precisa mesmo de tudo isso?

Aliás, com Oppenheimer Christopher Nolan entra no território que é um de seus principais pontos fracos atualmente: desenvolvimento de personagem. Pegue Dunkirk por exemplo: uma história envolvente, que faz você torcer pelos personagens mais pela situação em que se encontram do que por quem eles são (além de um bando de sortudos Forrest Gumps da Segunda Guerra). É uma história bem rasa, se a gente parar pra pensar. Mas tecnicamente bem executada, deem Oscars pros responsáveis!

Desenvolvimento de personagem nem sempre foi um problema para Christopher Nolan

Agora, se a gente voltar mais de vinte anos, temos um caso bem diferente em outro filme de Christopher Nolan: o próprio Amnésia, de 2000. Estrelado por Guy Pierce, o longa nos conduz à angustiante jornada de Leonard: um cara com perda de memória recente que tenta investigar o homicídio da esposa. É fascinante desvendar o personagem ao mesmo tempo em que ele próprio descobre fragmentos da própria vida.

Guy Pierce em Amnésia
Summit Entertainment/Divulgação

Ok, mas então o Nolan sabe desenvolver personagens, certo? O que separa Amnésia de Oppenheimer (além de 23 anos)? A resposta é 91 milhões de dólares. Enquanto a nova produção conta com um polpudo orçamento de 100 milhões de dólares, Amnésia se saiu muito bem com apenas 9 milhões.

Se sabemos que ele consegue contar uma boa história com menos dinheiro, por que ele não contaria uma história melhor com mais dinheiro? Porque há uma expectativa grandiosa de uma produção como esta. O próprio Nolan já se vangloriou recentemente de como reproduziu em uma explosão de bomba atômica em Oppenheimer sem o uso de CGI. Ou seja, é provável que toda a pirotecnia grandiosa, todos os efeitos megalomaníacos do filme estejam ali para disfarçar a fragilidade do seu roteiro.

Quanto mais dinheiro, menos história

A teoria que sustenta esta previsão macabra para o futuro de Oppenheimer vem justamente da filmografia de Christopher Nolan. A cada nova produção, o cineasta se mostra mais ambicioso e disposto a entregar algo ainda mais grandioso do que ele fez até hoje… mas isso ocorreu às custas da qualidade do roteiro

Ao mesmo tempo em que Tenet tem algumas das sequências de ação mais estonteantes do cinema, amarga uma nota de 69% no Rotten Tomatoes — abaixo da média do cineasta. A nota de Interestelar não é muito mais alta: 71%. Ou seja, por mais que seus blockbusters sejam deslumbrantes do ponto de vista técnico, tal “grandiosidade” não compensa a existência de um roteiro meia-boca e com alguns furos. A gente sente falta daquelas produções menores, com mais foco na história e nos diálogos.

Tenet
Warner Bros./Divulgação

Enquanto filmes como A Origem e Insônia (não roteirizado por Nolan, mas dirigido por ele) tenham narrativas tão geniais como Amnésia, elas não estão livres de furos no roteiro e algumas pontas soltas que não funcionam com audiências mais céticas. É o tipo de coisa que a gente perdoa de vez em quando, mas não quando se torna algo recorrente — Interestelar e Tenet que o digam!

Além de tudo isso, Oppenheimer ainda enfrenta a controvérsia da escalação de um elenco predominantemente (senão totalmente) branco, pelo menos com base no que foi divulgado até aqui para os papéis principais. Esta não é a primeira vez que a falta de diversidade é observada em filmes do cineasta, basta dar uma olhada nos elencos de filmes como Dunkirk, Interestelar e A Origem.

A qualidade técnica ainda é algo que vai atrair público, elogios e prêmios para os filmes de Christopher Nolan, e com Oppenheimer não deve ser diferente. A gente ainda quer ver de perto do que ele é capaz. 

A grandiosidade almejada pelo cineasta provavelmente está enraizada na necessidade de criar atrativos que justifiquem uma ida ao cinema, principalmente em tempos de disseminação dos serviços de streaming. Não é fácil concorrer com os arrasa-quarteirões da Marvel, é preciso fazer barulho (literalmente) e mostrar que só a sala de cinema promove a experiência adequada para ver aquele filme — quem viu Tenet na TV sabe muito bem disso (mas ainda assim, em nossa defesa, o ano era 2020!).

Oppenheimer talvez seja a obra necessária para um reposicionamento do próprio Nolan: ou ele sairá consagrado por dar conta de tudo (efeitos, atuações e roteiro), ou será o tombo necessário para uma possível volta aos filmes mais modestos que nos fizeram admirá-lo como cineasta. Em um trocadilho oportuno com a temática do longa, ou o filme irá bombar ou será uma verdadeira bomba.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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