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Parasite: Ele vai grudar em você!

Um filme que vai se alojar sob a sua pele

20/10/2023

Verdade seja dita, poucas coisas conseguem ser mais assustadoras — e perturbadoras — do que a profanação de nossos templos de carne, nossos corpos. Vermes, micoses, bactérias, fungos, seres de outros planetas, parasitas. E não. Não estamos falando de metáforas ou alegorias sul-coreanas do cinema moderno (brilhantes inclusive). Estamos falando das coisas que entram por nossa pele.

Parasite (graças aos deuses do VHS rebatizado por aqui de O Parasita, sem maiores distorções) chegou ao mundo em 1982, pelas mãos insistentes — e econômicas — de Charles Band. Com um elenco discreto, você pode ter uma pequena crise de ansiedade ao reconhecer o nome de Demi Moore nos créditos de abertura, e sim, é ela mesma. Mas não se empolgue demais.

Assim que o título é anunciado em uma combinação incômoda de tons de verde e vermelho (essas cores quando estão juntas desconcertam nossas percepções, pergunte a Wes Craven e Freddy Krueger se não acreditam em mim), o filme nos deixa apreensivos. E Parasite segue aumentando as apostas com um homem amarrado a uma maca; nosso amigo aparentemente sofre dores horríveis e/ou está sendo torturado. Paralelamente, um cientista médico analisa células que se parecem com protozoários, e possivelmente são expelidas por algumas larvas que estão por perto, também em análise. Não são larvas pequenas, mas seres oleosos, untados por gosma, coisinhas afiladas absolutamente nojentas. E na próxima sequência a coisa está dentro do homem, como em um pesadelo, ansiosa para ganhar o mundo irrompendo por sua carne e dilacerando os músculos e ossos que encontrar pelo caminho.

É um início de filme bastante perturbador, que de certa forma pretende nos preparar para o que ainda iremos encontrar.

O estado de tensão se mantém constante enquanto acompanhamos nosso amigo cientista até uma comunidade abandonada. Não é possível compreender exatamente do que se trata o lugar, mas ele é cercado por cercas e arames, lembrando um tipo de área militar ou comunidade fechada. É nesse lugar que descobrimos que estamos em uma distopia, e que nosso companheiro de viagem, Paul Dean, carrega uma arma laser. As outras pessoas que Paul encontra oscilam entre a normalidade e uma selvageria descontrolada, quase demente. Seu mundo parece ter perecido frente a alguma catástrofe, e mesmo o sistema monetário involuiu a metais preciosos (como prata) e outros produtos valiosos (joias, relógio, ou itens raros — como batons).

Paul Dean segue viagem até um vilarejo chamado Joshua, que mantém o ar abandonado, apocalíptico do filme. Ainda não entendemos exatamente o que ele está buscando (ao que tudo indica uma cura para o parasita que carrega), mas é interessante a maneira cadenciada como o longa se propõe a avançar. Basicamente estamos nesse mundo hostil, que pereceu sob uma hecatombe atômica. Nesse mundo corrompido, as gangues violentas estão forçando o comando, roubando e se impondo, e em sua oposição estão os pequenos lojistas e pessoas como Patricia Welles, a “Patty”, interpretada por Demi Moore. Também existe essa corporação misteriosa, que ao que tudo indica está no encalço de Paul Dean e com o que ele transporta em segredo.

Depois de uma briga entre Paul e a gangue local de Joshua, os delinquentes decidem abrir uma unidade de contenção do médico. É quando o parasita se revela pela primeira vez, saltando do recipiente para o peito de um dos rapazes e o fazendo gritar em agonia. O ser é uma espécie de sanguessuga, mas é grande como um gato e possui uma pele grossa que lembra a de um anfíbio. Depois que ele se adere, não há como tirar.

Após o ataque, o parasita permanece grudado no rapaz, e Paul acaba levando uma surra como recompensa. Desacordado, o médico é resgatado e salvo por Patty, que continua sendo a principal personagem positiva do filme.

Parasite tem muitos pecados de roteiro e produção, algumas atuações passam longe do razoável, mas esse é um filme interessante também pelos erros e pela discrepância entre seus personagens. Em um mesmo mundo devastado você tem pequenos negociadores, pessoas boas, assaltantes, assassinos e pessoas ricas e ansiosas por mais poder — que continuam sendo a casta mais prejudicial e perigosa de uma sociedade. Essas pessoas poderosas levam o nome de comerciantes no filme.

Os efeitos práticos nas cenas mais sangrentas são simples, mas cumprem seu papel bem o suficiente para nos deixar desconfortáveis. Já os efeitos das criaturas, dos parasitas, são bastante eficientes. Mesmo os parasitas com dentes e o tamanho de um Shih Tzu são bem feitos (mas me digam depois que assistirem).

Outro ponto interessante do filme é a relação entre a indústria farmacêutica, os empresários e o governo, que parecem ter se associado de uma maneira indissolúvel. As motivações para a criação desse novo parasita não ficam totalmente claras, mas você formará sua própria teoria depois de assistir o filme. O que se sabe é que quando essa coisa se reproduz, ela lança esporos no ar, e as sementes de parasitas contaminarão quem respirar ou tocar nelas. As diferentes camadas dos personagens “maus” também são um ponto a favor, e logo percebemos que em um mundo como o de Parasite, se importar demais com os outros pode colocar em risco sua própria vida.

Agora nosso conselho é que você se deixe parasitar por essa produção e aperte bem depressa esse play. Como um bônus, caso você tenha por aí alguns óculos 3D das vidas passadas, pode tentar usá-los para assistir esse filme, diz a lenda que os efeitos são quase bacanas.

E a gente não esqueceu de lançar alguns esporos no trailer! Só conferir!