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Quando os Adams Saíram de Férias e A Garota da Casa ao Lado: O que esses livros têm em comum?

A crueldade humana em sua forma mais primitiva

15/09/2022

Quando os Adams Saíram de Férias é uma obra angustiante, daquelas em que você precisa colocar o livro na geladeira (alô, fãs de Friends!) para que os personagens não possam lhe causar nenhum mal. O romance de Mendal W. Johnson foi considerado tão repulsivo à época de seu lançamento que por muito tempo nenhuma editora se atreveu a republicá-lo. Mas a DarkSide® não tem medo de trazer de volta esse título enervante.

Na história, um grupo de crianças se aproveita da ausência dos pais, que estão em algum lugar muito longe, para ministrar um “jogo” cruel com sua babá, com direito a muita violência e tortura. Só que quando elas se dão conta de que a “brincadeira” pode ter consequências para eles, as coisas podem tomar um rumo muito mais sinistro.

Publicado em 1974, esse é o único romance de Johnson, que faleceu apenas dois anos após o seu lançamento. Dizem que na época em que isso ocorreu o escritor já tinha três outros livros em andamento.

Infelizmente Mendal W. Johnson não viveu tempo suficiente para conhecer a obra de outro escritor, com uma narrativa talvez tão brutal quanto a sua. Em A Garota da Casa ao Lado, Jack Ketchum conta a história de uma adolescente que vai morar com a tia, mas começa a ser agredida e torturada por ela, seus filhos e demais crianças da rua.

Não é coincidência que os temas de ambos os romances soem tão parecidos. Tanto Johnson como Ketchum utilizaram como base o mesmo acontecimento: a perturbadora história de Sylvia Likens.

Sylvia Likens: Uma história à qual nunca vamos nos acostumar

Em 1965 a cidade de Indianapolis presenciou um crime brutal: o assassinato de uma adolescente após meses de maus-tratos e tortura contínua. Sylvia Likens tinha 16 anos quando ela e a irmã Jenny, de 15 anos, foram morar com Gertrude Baniszewski e seus filhos.

Diferentemente da história de Ketchum, os pais das garotas não haviam morrido em um acidente. Eles eram artistas circenses que frequentemente deixavam os cinco filhos sob os cuidados de outras pessoas, pois estavam constantemente viajando. A mudança para a casa de Baniszewski, que não era parente, ocorreu em julho de 1965 após a mãe das meninas ter sido presa por furto e sob um acordo de que o pai delas pagaria vinte dólares por semana a Gertrude.

As coisas começaram a desandar rapidamente quando o pai começou a falhar com seus pagamentos, o que deixou Baniszewski furiosa. Para descontar sua frustração, ela passou a abusar das meninas Likens, agredindo-as com um remo e privando-as de suas refeições. Logo a violência passou a ser direcionada a Sylvia.

Não demorou muito para que os filhos de Gertrude começassem a participar das agressões, que logo se estenderam às crianças da vizinhança. A violência envolveu espancamentos, alimentação forçada, chutes, cortes e apagar cigarros em sua pele. A tortura ocorreu de maneira contínua, progredindo para abusos sexuais e psicológicos.

Eventualmente, ela foi confinada ao porão, onde ficava amarrada na maior parte do tempo. Sylvia tinha apenas um colchão velho e dificilmente contava com qualquer tipo de higiene. Gertrude chegou a obrigá-la a escrever uma carta aos pais dizendo que ela havia fugido da casa de Baniszewski e culpando um grupo de garotos pelas agressões ao seu corpo.

Após uma tentativa de fuga de Sylvia, a garota foi agredida com tanta ferocidade que foi encontrada morta na manhã seguinte, com o corpo já enrijecido pelas horas que haviam se passado. A família tentou enganar a polícia sobre o ocorrido, forçando Jenny a mentir também, mas a irmã de Sylvia sussurrou a um policial que contaria a verdade se a tirassem de lá. A morte da garota ocorreu por diferentes fatores, desde as constantes agressões ao seu corpo, desnutrição e um golpe na cabeça, considerado fatal.

Gertrude, dois de seus filhos e dois garotos da vizinhança foram acusados pelos crimes e passaram por julgamento. No fim das contas, a mulher foi condenada por assassinato em primeiro grau e sentenciada à prisão perpétua. Sua filha Paula foi condenada por homicídio em segundo grau e os outros três por homicídio culposo.

Nenhum dos livros é uma romantização do caso, com histórias e personagens distintos. A dinâmica mais próxima ainda é de A Garota da Casa ao Lado, ao qual Ketchum confere um narrador que era amigo de Meg (a Sylvia da história) e que é atormentado pela culpa de não ter ajudado a amiga.

Quando os Adams Saíram de Férias se distancia narrativamente dos fatos, mas não quanto à crueldade retratada. Aqui a ausência de adultos direciona o foco para uma maldade gratuita e inata (ou não) daquele grupo de crianças. Qual a origem para tanta perversidade? E afinal, se os Adams voltassem de férias isso seria melhor ou pior para o destino da pobre Barbara?