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Tabitha King e Stephen King: o amor perfeito pela literatura

A autora de Pequenas Realidades teve de enfrentar o sexismo ainda na faculdade, mas seu posicionamento sempre foi seguro. E seu trabalho, brilhante

25/06/2019

Por Isabelle Simões, do site Delirium Nerd

Tabitha Jane Spruce, que mais tarde viria a ser conhecida como Tabitha King, nasceu em 24 de março de 1949, em Old Town, no Maine, Estados Unidos. A terceira filha entre oito irmãos do casal Raymond George Spruce e Sarah Jane White, a pequena Tabby, como era chamada carinhosamente, cresceu em uma família católica e simples do interior norte-americano. Foi educada em colégios católicos e trabalhava com o pai no armazém da família, junto com as outras crianças da família Spruce. “Cresci ouvindo as pessoas falarem junto a aquecedores de lenha”, conta Tabitha, em Coração Assombrado, biografia de Stephen King, lançada pela DarkSide Books

Leitora assídua desde criança, Tabby, segundo suas próprias palavras, foi uma criança independente, introspectiva, solitária, e que adorava escrever. Sua paixão pelos livros surgiu a partir da descoberta da biblioteca pública de sua cidade. Tal acontecimento foi um caminho sem volta para o universo literário e o início da jornada de aprendizado do olhar apurado e das histórias da nossa Rainha do Terror. 

Tabitha cursou Faculdade de História na Universidade do Maine, e foi nessa mesma época que conheceu o seu marido, o autor Stephen King. Casados há 48 anos, o casal teve três filhos: Naomi King, Joe Hill e Owen King. Publicou seu primeiro livro Pequenas Realidades, em 1981, que a DarkSide Books lançou em uma edição especial pela marca DarkLove. As histórias de Tabitha King costumam passar pelos gêneros do terror, ficção científica e fantasia. Como autora, Tabitha sabe explorar o psicológico dos seus personagens, apresentando histórias com diversas camadas, explorando também os contornos sombrios da mente dos humanos.

Tabitha King em família
Foto: Bill O’Leary / TWP Washington, DC

Numa época onde demoramos tanto para conhecer autoras renomadas, como foi o caso da chegada de Shirley Jackson e Octavia Butler no Brasil, esse é o momento ideal para conhecermos uma das autoras mais importantes que consegue revelar o lado mais sombrio de nossas mentes. 

Originalmente lançado em 1981, com o título Small World, a obra foi publicada no Brasil através de uma coletânea de terror e fantasia, durante a década de 80, mas acabou sendo esquecida e, muitas vezes, encontrada em pequenas quantidades em sebos.

Em Pequenas Realidades, conhecemos a história da socialite Dorothy Hardesty Douglas, filha de um antigo presidente norte-americano, apaixonada por miniaturas. Ela possui uma réplica idêntica da Casa Branca. Mas quando seu caminho se cruza com um homem chamado Roger Tinker, sua vida muda completamente e a socialite descobre uma maneira extraordinária e bastante perturbadora de decorar a sua casinha. Através da mistura de relações familiares problemáticas, passando pelo mundo bizarro das miniaturas, Tabitha King nos conduz para uma história aterrorizante e repleta de reviravoltas, onde não sabemos o que esperar do final da obra.

LEIA TAMBÉM: “Esposa é um status de relacionamento. Não uma identidade”, afirma Tabitha King

A tradutora Regiane Winarski, que também é responsável pela tradução das obras de Stephen King para o português, nos deixou ainda mais ansiosos para conhecer o mundo desenvolvido por Tabitha, em Pequenas Realidades: “Foi um grande prazer redescobrir as sutilezas de Tabitha King para contar a história da filha mimada de um ex-presidente americano que é apaixonada por casas de bonecas e miniaturas, e um ex-cientista do governo que desenvolve um dispositivo que acredita que seja do interesse dela. É fascinante acompanhar o desenvolvimento das personagens e a construção de uma história que vai dando aquele aperto na garganta de quando a gente tem certeza de que boa coisa não pode resultar disso. Tabitha desenvolve a trama de forma gradual e determinada, e o resultado é um livro que simplesmente não dá para largar.”, revelou em um texto especial publicado no DarkBlog

A trajetória da Dama do Terror

Tabitha foi educada dentro de uma família numerosa e pobre. Estudou no John Bapst Memorial High School, em Bangor, em 1967, e posteriormente cursou o ensino superior, na Universidade do Maine, onde as filhas inteligentes de famílias pobres conseguiam continuar os estudos, já que elas não possuíam privilégios econômicos para estudar em universidades de outros estados. Assim como Stephen, Tabitha conseguiu concluir o curso de História através de bolsas e trabalhos de meio experimente no campus. 

Ao pensar que dentro da Universidade seria capaz de finalmente desenvolver sua inteligência, como sonhava desde a infância, quando se apaixonou pelo poder da literatura, no campus ela passou a enfrentar uma nova dificuldade: o sexismo. Um de seus professores costumava rabiscar nos trabalhos das alunas: “Desista e se case”. 

“Quando cresci em Old Town, não havia nenhum movimento feminista. Aprendi muito cedo que, o que quer que eu fizesse, o problema estava em ser mulher, e ser uma mulher que usava óculos era altamente deprimente. Quando meus peitos cresceram isso também não ajudou.”

Assim como tantas outras autoras que enfrentaram — e enfrentam — o sexismo da academia, mesmo que por recortes diferentes, Tabitha, nesse ambiente masculino e opressivo, passou a duvidar da sua capacidade intelectual, um efeito conhecido atualmente como Síndrome da Impostora. Esse efeito mostra que a mulher educada em uma sociedade sexista, que prevalece a liderança e o intelecto dos homens, passa a duvidar da sua inteligência, interferindo em sua autoestima, saúde mental e no merecimento de estar por direito naquele ambiente ou executando aquela determinada tarefa. 

Mesmo assim, Tabitha conseguiu passar por todas essas dificuldades dentro da universidade. Ela planejava fazer um mestrado em Biblioteconomia e se tornar bibliotecária em tempo integral após a formatura. Plano que surgiu devido sua paixão por bibliotecas desde a infância, mas quando a autora conheceu Stephen King, em um sarau de poesia, tudo mudou. Ambos se apaixonaram e compartilhavam a mesma paixão pela literatura e o sonho de se tornarem escritores.

O casal começou a morar juntos em Springer Cabins, próximo ao rio Stillwater. Como ambos estudavam na universidade, encontraram acomodações baratas neste local. Tabitha já estava no terceiro mês de gravidez da primeira filha, Naomi King, que nasceu em junho em 1970, e continuou frequentando as aulas apesar dos olhares julgadores, principalmente dos professores homens.

Tabitha King e Stephen King, autores publicados no Brasil pela DarkSide Books

Tabitha e Stephen se casaram após a formatura, em 1971. Porém, com uma filha pequena para criar, as dificuldades financeiras se agravaram e o casal passou por um longo período difícil, onde receberam várias rejeições de editoras e revistas. Em 1973, com dois filhos para criar (Owen King nasceu em 1972), Tabitha trabalhava em uma loja da rede de restaurantes Dunkin’ Donuts e lecionava aulas de inglês em uma escola particular no Maine. Enquanto isso, Stephen King revezava em trabalhos pequenos sem relação direta com a escrita.  Mas Tabitha sempre acreditou no potencial de Stephen King e sem a sua intervenção o autor não teria continuado em investir na carreira literária. 

Com um olhar apurado para histórias, antes de publicar o seu primeiro livro, na década de 80, Tabitha King começou trabalhando como editora nas obras do marido. No início, Stephen não tinha sequer uma máquina de escrever, contudo Tabitha emprestou sua antiga Olivetti, que guardou desde os tempos de faculdade, para que ele conseguisse produzir e enviar os seus primeiros trabalhos para os veículos de imprensa. Foi nessa mesma época que ele começou a trabalhar no primeiro grande sucesso, o best-seller Carrie, publicado originalmente em 1974.

Carrie foi desenvolvido graças a Tabitha King. Stephen não gostou das primeiras páginas escritas e acabou jogando no lixo. Na época, disse que não era capaz de escrever uma história sob a perspectiva feminina de uma adolescente. E não somente Tabitha foi a responsável por resgatar essas páginas jogadas no lixo, como ajudou Stephen no processo da escrita. Quando ela leu os primeiros rascunhos, identificou que dali surgiria uma grande história, e o início do seu trabalho como editora foi imprescindível para o sucesso do marido.

Tabitha King, autora de Pequenas Realidades, lançado pela DarkSide Books

Apaixonada pela literatura desde a infância, Tabitha King construiu o seu olhar apurado e sua imaginação dentro de uma pequena biblioteca pública na cidadezinha onde morava. Enfrentou diversas barreiras pelo caminho até a chegada de suas primeiras produções literárias. Passando por problemas financeiros, o sexismo na academia e o surgimento da maternidade em um período conturbado de sua vida. Passou também por uma fase difícil no casamento, onde Stephen King se envolveu com drogas e bebidas. Começou a escrever romances no início da década de 80. Foi publicada e elogiada pela crítica e, daí em diante, nunca mais parou. Agora, temos a oportunidade de conferir o seu primeiro livro pela Darkside Books e adentrar na imaginação e nas histórias da grande Dama do Terror.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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2 Comentários

  • Marcia de Freitas

    26 de junho de 2019 às 12:00

    Uma história de superação e talento indiscutível.
    É importante conhecer exemplos assim.

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