Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


DarksidePerfil

Takashi Miike, o cineasta mais transgressor do Japão

Conheça o diretor do macabro que adaptou Audição

18/05/2023

O cinema japonês é marcado por nomes icônicos. Entre eles, um que com certeza se destaca é o de Takashi Miike. Destemido e versátil, Miike é capaz de passear por diferentes gêneros e estilos cinematográficos, evidenciando não apenas seu talento nato, mas também uma necessidade insaciável de se expressar. Essa determinação faz com que o diretor conte atualmente com mais de 100 títulos creditados em seu nome, variando entre longa metragens, episódios de televisão e filmes direto para vídeo. 

LEIA TAMBÉM: 7 FILMES DE TERROR INSPIRADOS EM LENDAS JAPONESAS

Miike é um dos maiores nomes do cinema e construiu uma carreira única baseada em histórias e visuais assustadores que deixam seus espectadores sem ar. Apesar de ser conhecido por seus filmes com violência gráfica, como Audição, Miike é muito mais do que apenas isso, possuindo um variado catálogo que se estende por comédias, filmes de ação, dramas, épicos históricos, filmes infantis e é claro, produções de horror. 

Fã de diretores como Akira Kurosawa, David Lynch, David Cronenberg e Paul Verhoeven, Takashi Miike é notório por suas cenas de violência extrema e seus banhos de sangue. Mas o cineasta está longe de ser limitado a isso, com escolhas estéticas e narrativas que vão muito além. Seja pelo uso da violência e do choque, pelo senso de humor sombrio, por enfrentar os limites impostos pela censura ou por sua recusa a pertencer apenas a um único estilo, Takashi Miike é o cineasta mais transgressor do Japão e você com certeza já se deparou com algum filme dele por aí. Quer apostar? 

De criança assustada a diretor de filmes assustadores

Nascido em 24 de agosto de 1960, em Osaka, no Japão, Takashi Miike é um dos diretores mais prolíficos em atividade, trilhando uma carreira como um dos cineastas que mais conta com filmes perturbadores no currículo. 

takashi miike

No entanto, engana-se quem pensa que o sonho de Miike era trabalhar na indústria cinematográfica com filmes assustadores. O diretor conta que sempre foi uma criança muito assustada e que até hoje tem um pouco de medo do escuro. Em uma entrevista, ele afirmou inclusive que não assiste a muitos filmes de horror, nem mesmo aqueles que produz! O motivo é simples: medo.

Sua primeira ambição era trabalhar com carros, com seu interesse em motores levando-o a se tornar um bem sucedido piloto de moto em competições amadoras. O sonho foi deixado de lado devido à dificuldade em obter a licença profissional de piloto, assim como pela dificuldade que tinha com matemática, algo essencial para trabalhar como engenheiro. Um belo dia, um anúncio da universidade Yokohama de Transmissão e Cinema chamou sua atenção e ele decidiu se inscrever para frequentar o local. Era o começo de uma jornada impressionante. 

LEIA TAMBÉM: CLÁSSICOS JAPONESES SOBRENATURAIS: DESCUBRA O QUE SÃO YŌKAI

Contudo, o diretor não se mostrava nem muito interessado no lado artístico do cinema nem na parte prática, frequentemente faltando às aulas. As coisas mudaram quando conseguiu um trabalho como assistente de direção substituto em um episódio da série de televisão Black Jack. A partir disso, começou a trabalhar constantemente em produções para a televisão, alcançando a impressionante marca de 30 a 40 créditos por ano. Segundo o próprio Miike, ele preferia trabalhar na televisão ao invés do cinema, considerando isso um ato de “rebelião”.

O primeiro crédito nas telonas foi em 1987 quando trabalhou como assistente de direção em O Rufião, um filme de Shohei Imamura, reitor e fundador da universidade Yokohama. Quatro anos depois, em 1991, Miike deixou de lado seu trabalho na televisão para se aventurar pelo mundo do cinema, trabalhando como assistente de direção no filme Shimanto-gawa de Hideo Onchi. Naquele mesmo ano, ele se sentou pela primeira vez na cadeira de direção, comandando a partir disso diversos filmes lançados diretamente em vídeo. 

takashi miike

O mundo dos filmes lançados diretamente em vídeo possibilitou que o diretor explorasse suas habilidades criativas e aumentasse ainda mais sua experiência. Devido à liberdade criativa e menor interferência dos produtores e estúdios, Miike nunca abandonou esse tipo de produção e até hoje faz filmes nesse formato. 

Sua estreia nas grandes telas foi em 1995 com o longa Daisan no Gokudō. Contudo, foi Shinjuku Triad Society, lançado no mesmo ano, que despertou a atenção do público. Este drama criminal extremo reuniu elementos que se tornaram sua marca registrada, como a violência extrema e personagens inusitados. O sucesso de Shinjuku Triad Society, o primeiro de uma trilogia intitulada Black Triad Society, permitiu que Miike começasse a trabalhar com orçamentos cada vez maiores.

Enquanto ganhava cada vez mais reconhecimento com violentos e inovadores filmes sobre crimes e mafiosos, Miike também encontrava tempo para explorar gêneros diferentes. Em 1998, dirigiu tanto um drama de ficção científica Andoromedia quanto a comédia dramática Chûgoku no chôjin. Contudo, seria no ano seguinte que ele emplacaria um de seus maiores sucessos…

Audição: O clássico perturbador encontra seu diretor

A virada do século foi acompanhada por uma explosão do chamado “horror japonês”, que ganhou imensa popularidade no Ocidente em um movimento liderado por Ringu: O Chamado do diretor Hideo Nakata e acompanhado por outros clássicos de fantasmas vingativos como O Grito, Água Negra e Kairo. Entre essa leva de espíritos amaldiçoados, Takashi Miike optou por outro caminho e dirigiu a adaptação do clássico de Ryu Murakami: Audição.

audição

Lançado em 1997, o livro de Murakami acompanha a história de Aoyama, um viúvo de meia-idade que é convencido por seu filho adolescente a voltar a namorar. É aí que entra seu melhor amigo, o produtor de televisão Yoshikawa, que propõe que eles realizem testes de elenco para uma produção que provavelmente nunca vai existir com o intuito de ajudar Aoyama a encontrar um amor. Entre milhares de candidatas, quem conquista o coração de Aoyama é a ex-bailarina, Assami Yamassaki. Ignorando todos os sinais e advertências dos amigos, Aoyama se entrega ao mistério e encantamento da jovem, sem desconfiar que perigo e prazer andam lado a lado.

A adaptação de Miike mantém a essência transgressora e perturbadora do livro de Mukami, ao mesmo tempo em que o diretor adiciona seus próprios toques autorais à história. Um bom exemplo é a cena em que Assami senta-se em seu apartamento praticamente vazio enquanto espera por uma ligação. Esse momento não existe no livro, sendo uma criação do diretor. Em Audição, Miike deixou de lado o sobrenatural, que havia se tornado marca registrada no cinema de horror japonês, para mostrar o quão perturbadora pode ser a realidade

audição

O filme lhe rendeu atenção internacional e ainda hoje é discutido por suas questões de gênero, sexualidade e geração, assim como a natureza da solidão e dos relacionamentos. Apesar de não possuir muita violência gráfica, com exceção de seu notório clímax (que meio que compensar pelo filme todo…), Audição foi uma das grandes influências para os filmes apelidados de “torture porn”. Eli Roth, por exemplo, diretor de O Albergue, citou o filme como uma enorme influência e até mesmo colocou Miike em uma participação especial em seu longa. 

Provocativo e brutal, Audição entrou no hall dos melhores filmes de horror dos últimos tempos, rendendo fama internacional ao diretor. Mas o que mais Takashi Miike teria reservado na manga?

Depois de Audição: Mais filmes perturbadores e transgressores

No mesmo ano de Audição, Miike dirigiu Morrer ou Viver, um violento épico sobre a máfia Yakuza. Dois anos depois, o diretor entregaria outro controverso filme: Ichi, o Assassino, uma adaptação do mangá homônimo, que teve sua estreia em diversos festivais de cinema ao redor do mundo. Ichi, o Assassino é considerado um dos filmes mais violentos já feitos, permanecendo proibido em alguns países até hoje. 

ichi o assassino

Sobre o uso da violência em seus filmes, Miike afirmou que o sangue e a dor tornam tudo mais real para o público. Ele afirma que, diferentemente de Hollywood, não consegue fazer filmes violentos e legais, já que em seus longas os personagens são como monstros. Segundo ele, sua violência é extrema, mas também honesta

Audição e Ichi marcaram de forma singela a carreira de Miike no Ocidente, de modo que o diretor começou a ganhar cada vez mais notoriedade e credibilidade fora do Japão. Apesar disso, diferentemente de outros cineastas, ele não tinha nenhum interesse em se mudar para Hollywood, optando por permanecer no Japão.

Em 2003, o diretor se aventurou novamente pelo horror em Uma Chamada Perdida, filme que segue os passos de Ringu: O Chamado ao demonstrar o aterrorizante mundo da tecnologia, dessa vez com pessoas recebendo ligações misteriosas que pressagiam suas próprias mortes. Assim como os filmes que o inspiraram, em 2008 Uma Chamada Perdida ganhou uma refilmagem norte-americana com o mesmo título. 

uma chamada perdida

Já em 2005, Miike foi convidado a dirigir um episódio para a série antológica criada por Mick Garris: Mestres do Terror, que já havia recebido outros diretores consagrados do gênero. No entanto, seu episódio, intitulado “Imprint”, foi considerado perturbador demais pela emissora e teve sua exibição cancelada, sendo disponibilizado apenas no DVD da série e permanecendo inédito até hoje nos Estados Unidos. O próprio Garris descreveu “Imprint” como excelente, mas difícil de assistir, sendo o filme mais perturbador que já havia visto. 

Em 2010, Miike lançou outro longa que marcou sua carreira: 13 Assassinos, refilmagem do filme homônimo de Eiichi Kudo de 1963. O drama histórico narra a jornada de um grupo de assassinos contratados para matar um sádico senhor da guerra. Começando de forma sóbria e controlada, o filme atinge um clímax sangrento e violento digno de qualquer outro filme do diretor. Para muitos, 13 Assassinos é um dos melhores longas de Miike, com uma mistura de estilos que demonstra toda a maturidade de sua arte. 

Em 2012, o cineasta lançou o melancólico drama de época Hara-Kiri: Morte de um Samurai, que estreou no Festival de Cinema de Cannes. No ano seguinte, Wara no Tate, seu suspense de espionagem, foi indicado ao prêmio Palma de Ouro do festival. 

Nos anos mais recentes, o diretor continua mais ativo do que nunca. Seu trabalho ainda abarca um extenso leque de produções que variam de filmes feitos para a televisão e cinema, episódios de séries e adaptações de jogos e mangás. Em 2017, por exemplo, Miike bateu a marca de seu centésimo filme: A Espada do Imortal, uma adaptação do famoso mangá homônimo. 

a espada do imortal

Em sua vasta e extensa carreira, Miike abordou os mais diferentes temas, gêneros e histórias. Embora seja difícil imaginar, suas produções possuem semelhanças temáticas entre si, muitas trazendo a família como um elemento importante e uma visão do Japão moderno como uma sociedade multicultural. Oscilando entre filmes menos acessíveis, direcionados aos fãs do “cinema extremo”, e outros voltados para grandes audiências, o cineasta mostra toda a sua versatilidade e criatividade. No fim das contas, não há melhor maneira de expressar isso do que com suas próprias palavras: “Estou me descobrindo como cineasta o tempo todo”. 

Takashi Miike: Um cineasta do macabro

Uma das coisas mais fascinantes na carreira de Miike é que mesmo quando seus filmes não se encaixam especificamente no horror, muitos ainda contêm sequências macabras e assustadoras. Não é à toa que o diretor adaptou o perturbador Audição, obra-prima de Ryu Murakami que encontrou um lar definitivo aqui na DarkSide® Books

audição

Então que tal mergulhar naquela dobradinha clássica: livro e depois filme? Afinal, nada mais propício do que se aventurar pelo romance poderoso e transgressor de Murakami para em seguida assistir a adaptação feita pelo cineasta mais transgressor do Japão.  

A Caveira só deixa um pequeno aviso: se prepare, pois ninguém sai ileso do livro de Murakami e do filme de Miike

LEIA TAMBÉM: AUDIÇÃO: 5 CURIOSIDADES SOBRE O LIVRO E O FILME

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

Website

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

Audição + Brinde Exclusivo
R$ 69,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Ela Não Pode Confiar

    Wicked
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
DarksideLançamento

Lançamento: Nas Montanhas da Loucura Vol. 2, por H.P. Lovecraft e François Baranger

O universo de H.P. Lovecraft se tornou gigante e enraizado em toda a literatura de...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Histórias Fantasmas, por Borja González

Em 2016, Gloria, Laura e Cristina querem formar uma banda punk chamada The Black Holes,...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Azolla, por Karine Bernadou

Azolla e seu companheiro, um caçador, vivem nas profundezas da floresta. Esposa...

Por DarkSide
LançamentoMacabra

Lançamento: Condado Maldito Vol. 7: Temporada das Sombras, por Cullen Bunn e Tyler Crook

Algo maligno retornou dos mortos e uniu forças com a família de Emmy para dar início...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Anamorfose, por Shintaro Kago

Depois de arrebatar os leitores com truques narrativos engenhosos em Pedacinhos,...

Por DarkSide