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O que é ero guro?

Disseque o estilo de Shintaro Kago no mangá Pedacinhos

28/02/2024

Um gênero marcado pela união entre o erótico e o grotesco. Uma manifestação literária e artística que se expande para uma atitude e filosofia de vida. Esse é o ero guro, um movimento contracultural japonês que abalou e continua abalando a tradicional sociedade japonesa. 

LEIA TAMBÉM: ESCATOLÓGICO E GROTESCO: O BIZARRO E EXTRAORDINÁRIO UNIVERSO DE SHINTARO KAGO

É nessa vertente, capaz de fazer até mesmo o Marquês de Sade corar de vergonha, que temos Pedacinhos, premiado mangá de Shintaro Kago. Ambientado em meio a uma série de assassinatos misteriosos em que corpos femininos são encontrados divididos ao meio, Pedacinhos e seu autor Shintaro Kago são grandes representantes do ero guro no mundo dos mangás. 

pedacinhos

Mas afinal de contas, o que é ero guro? Vem que a Caveira te leva pelo Japão do início do século XX para explicar esse estilo único e para lá de interessante. 

O Japão da década de 1920

Engana-se quem acha que o ero guro se resume à pornografia ou horror. Embora muitas vezes trabalhe com esses gêneros, o movimento possui uma relação intrínseca com o Japão das décadas de 1920 e 1930, tecendo comentários sociais por meio de enredos e ilustrações que abarcam monstruosidade, mutilação e sexo. 

Antes de entrarmos especificamente no ero guro, vale uma rápida recapitulação da história japonesa. Nos anos 1920, o Japão já havia passado por dois conflitos armados, a Guerra Russo-Japonesa e a I Primeira Guerra Mundial. Situado como uma nova potência imperialista, o país se encontrava entre o final do período Meiji, marcado pelo nacionalismo e industrialização, e o período Showa, caracterizado pelo conservadorismo e militarismo. É no período chamado de Taisho que o Japão foi marcado por uma grande agitação social, pelo consumismo desenfreado e aumento da ocidentalização. A mídia de massa se expandiu e artistas vanguardistas pregavam um estilo de vida ligado ao hedonismo.

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Era um terreno fértil para o nascimento do ero guro, que marcava o fascínio pelo bizarro e decadente, assim como uma forma de resistência contracultural. Existem inúmeras explicações para esse surgimento. Alguns historiadores apontam que era a exploração de uma nova liberdade sexual e moral. Enquanto outros indicam ser uma forma de rebelião contra os valores tradicionais do Estado ou até mesmo uma sátira à ocidentalização. 

ero guro

A arte da resistência e da crítica

O certo é que o ero guro apareceu na década de 1920 como uma subcultura que explorava o desviante, o bizarro e até o ridículo, manifestando a atmosfera social da época. O fascínio pelo erotismo, já presente na arte japonesa, se aliou ao sensacionalismo e à exploração de excessos, tabus e temas considerados anormais, aliados a novas políticas sexuais e mudanças políticas e sociais. 

As raízes do movimento remontam a artistas do século XIX, como Tsukioka Yoshitoshi, que em 1860 produzia xilogravuras violentas e explícitas com decapitações e atos eróticos. Yoshitoshi viveu em um Japão devastado pela guerra civil, o que posteriormente levaria a mudança para o regime Meiji. Esse detalhe mostra como o ero guro é catapultado por momentos marcados por guerras, protestos e ocidentalização.

Embora possua raízes no século XIX, o ero guro apareceu distintamente nas décadas de 1920 e 1930. Um momento definidor foi o chamado Incidente Abe Sada em 1936, quando uma prostituta estrangulou seu amante até a morte durante o ato sexual, cortando suas genitais e as carregando em seu próprio quimono. O caso gerou muita comoção na época e fascinou as pessoas, de forma que muitos artistas e escritores se inspiraram nesses acontecimentos bizarros para criar eventos ainda mais estranhos na ficção. O caso inclusive chegou a ser base para o filme de 1976 O Império dos Sentidos.

império dos sentidos

Um dos exemplos mais famosos do ero guro da época é o conto A Lagarta, publicado pelo autor Edogawa Ranpo em 1929. Exemplificando o foco no erotismo e grotesco, a história envolve um veterano de guerra tetraplégico e surdo cuja esposa precisa agir como sua babá e escrava sexual até que ela passa a torturá-lo.

Um legado que vai muito além 

Nascido nos anos 1920 e 1930, o ero guro logo encontrou a censura japonesa, de forma que muitas dessas atividades foram suprimidas durante a II Guerra Mundial. No entanto, isso não significa que o movimento desapareceu. Pelo contrário.

No período pós-guerra, o ero guro ressurgiu em novas formas de expressão, principalmente em mangás e pinturas, eventualmente encontrando espaço no cinema e na música. Alguns dos artistas que se destacaram a partir dos anos 1960 foram Toshio Saeki, conhecido pelo senso de humor macabro com imagens de figuras decapitadas e personagens pervertidos; Suehiro Maruo, mangaká marcado pelo estilo gráfico e controverso; Takato Yamamoto, ilustrador que mistura o estilo tradicional japonês com a arte gótica ocidental e Shintaro Kago, mangaká autor de Pedacinhos, famoso por sua apreciação do surreal e absurdo. 

suehiro maruo

O ero guro perdurou ao longo do tempo, chegando a transbordar para produções ocidentais. É o caso da capa do álbum You’re Dead! do rapper americano Flying Lotus, que foi desenhada pelo próprio Shintaro Kago, e filmes como American Mary de 2012. De gravuras e xilogravuras para o cinema e mangás, o estilo continua se desenvolvendo, consolidando um lugar na esfera artística e incitando a controvérsia. Com uma arte que continuamente inova, inspirando artistas que pensam diferente, o ero guro é uma grande caixinha de surpresas. Ainda não sabemos qual caminho o movimento vai trilhar, mas temos certeza de que será algo impactante e igualmente bizarro. 

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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