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Conheça a tradição afro-americana de ring shout

Ritual foi uma das inspirações para o livro de P. Djèlí Clark

11/08/2022

Em Ring Shout: Grito de Liberdade, P. Djèlí Clark criou uma realidade alternativa para o estado sulista da Georgia nos anos 1920. Misturando fantasia com a dura realidade histórica da perseguição à população negra no estado, ele criou um cenário em que uma maldição engrossa as fileiras da Ku Klux Klan, dando origem a monstros chamados Ku Kluxes, que disseminam o preconceito e a discórdia.

LEIA TAMBÉM: LANÇAMENTO: RING SHOUT: GRITO DE LIBERDADE, DE P. DJÈLÍ CLARK

É nesse mundo que Maryse Boudreaux se divide entre a venda de uísque (contrabandeado, por causa da Lei Seca) e a luta contra os Ku Kluxes, com sua espada mágica, a cabeça cheia de histórias e a companhia de Sadie e Cordy. Uma jornada com contornos sobrenaturais para livrar o mundo do ódio.

Embora seja uma ficção, a obra de Clark tem raízes na realidade. Um dos elementos reais é o filme O Nascimento de uma Nação, de D. W. Griffith, que enaltecia os crimes cometidos pela Klan. O próprio nome da obra tem sua origem em uma tradição chamada ring shout.

O que significa ring shout e quais suas origens

Ring shout é uma tradição religiosa com origens na África Ocidental que foram misturadas a elementos do cristianismo. Trata-se de um ritual religioso iniciado pelos escravos africanos nas Índias Ocidentais e nos Estados Unidos

Na prática, os fiéis se reúnem em um círculo, arrastando e batendo os pés e batendo palmas, frequentemente rezando e cantando, e conduzindo o círculo em sentido anti-horário. Uma pessoa ditaria o ritmo, e suas frases seriam respondidas pelos demais fiéis. Na tradução literal, ring shout seria um círculo de gritos. Apesar do nome, o ato de gritar não é uma parte essencial do ritual.

Acredita-se que as origens do ring shout venham de danças africanas, que também apresentam elementos melódicos, de batidas que ditam o ritmo e a dinâmica de chamado e resposta, além da própria estética, do giro em sentido anti-horário e de uma atmosfera de transe de seus participantes. A cerimônia se assemelha aos rituais de povos como os ibos, iorubás, ibibios, efiks, bahumonos e bakongos

Alguns estudiosos acreditam que o ritual talvez tenha se originado nos rituais islâmicos da África Ocidental, como uma imitação ao tauafe, a procissão em massa ao redor da Caaba que ocorre durante a peregrinação à Meca. 

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Evolução do ring shout para os tempos atuais

Em alguns casos, pessoas escravizadas fugiam para as florestas à noite para realizar o ring shout, um ritual que costumava se estender por horas, levando os participantes a se retirarem por exaustão. No século XX, alguns fiéis afro-americanos nos Estados Unidos praticavam os shouts formando um círculo ao redor do altar, em frente a ele ou ao redor do corredor central da igreja.

Ring Shouters, 1930 Courtesy Anacostia Community Museum/Smithsonian Institution

Historiadores atribuem ao ring shout um elemento crucial para unificar as diversas colônias africanas escravizadas nos Estados Unidos. Mais tarde, os ritmos do ritual serviram de inspiração para o blues e o jazz

As práticas de ring shout foram cristianizadas e praticadas em algumas igrejas com predominância de fiéis afro-americanos. Elas ainda são realizadas hoje em dia pelas comunidades gullah e associadas a algumas congregações metodistas com prevalência de fiéis negros.

O ring shout na obra de P. Djèlí Clark

De acordo com o autor de Ring Shout: Grito de Liberdade, a música é um elemento crucial na história, bem como a tradição dos shouts. Clark destaca a importância da prática desde suas raízes africanas dos escravos e o poder espiritual para influenciar sua escrita.

No livro, ring shouts podem ser ouvidos no celeiro de Nana Jean, que permite que os praticantes dancem de acordo com a vontade do espírito até que sua influência se cesse. O ritual serve como uma conexão de Maryse com sua espada graças à sua habilidade de ouvir os cânticos dos mortos e suas conexões com os antigos deuses. As anotações entre os capítulos reproduzem as palavras de ex-escravos ao descrever diferentes ring shouts e seus propósitos específicos.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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