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A simbologia do corvo em diferentes culturas

Da Grécia Antiga ao famoso poema de Poe

08/02/2024

Mensageiro, portador de bons ou maus presságios, animal dos deuses. O corvo é um animal com uma simbologia marcante em diferentes culturas, e que pode assumir diferentes significados. Não por acaso, é a ave escolhida por Edgar Allan Poe como antagonista de seu mais celebrado poema. O Corvo: First Edition é um resgate da imortal edição ilustrada do poema, com artes de Gustave Doré que capturam toda a melancolia do autor.

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Inspirado pelo corvo falante de um romance de Charles Dickens, Poe também emprega em seu poema muitas referências folclóricas, mitológicas, religiosas e clássicas. Não por acaso, a ave pousa sobre o busto da deusa grega Palas Atena, associada à sabedoria.

Considerado uma das aves mais inteligentes que existem, o corvo é um animal muito curioso. Também é uma espécie carniceira, e por isso, os corvos passaram a ser associados à morte. E Edgar Allan Poe estava certo, corvos são capazes de imitar a fala humana, tal qual papagaios. 

o corvo

Com tantas peculiaridades, era de se esperar que diferentes culturas passassem a olhar para a ave com um pouco mais de interesse e fazendo muitas associações para a mitologia, a religião e o folclore como um todo.

Mitologia greco-romana

Na mitologia grega, o corvo é associado ao deus Apolo, da profecia. Acreditava-se que as aves eram sinal de mau agouro e que seriam mensageiras dos deuses ao mundo mortal. Diz a lenda que Apolo teria enviado um corvo branco para espionar sua amada Corônis. Quando o animal voltou com notícias de que ela teria sido infiel ao deus, Apolo queimou a ave em fúria, tornando suas penas pretas.

Segundo o historiador Tito Lívio, o general romano Marco Valério Corvo tinha uma dessas aves no seu capacete durante um combate contra um galês gigante. O corvo teria distraído o inimigo ao voar no seu rosto.

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Bíblia Hebraica e judaísmo

O corvo é a primeira espécie de ave a ser mencionada na Bíblia Hebraica. No Gênesis, Noé solta um corvo da arca após o dilúvio para descobrir se a água já estava baixando. Em outras interpretações, o corvo de Noé é visto como um símbolo de vícios, enquanto a pomba seria a virtude. Segundo a Lei de Moisés, não é permitido se alimentar de corvos, o que provavelmente contribuiu com a fama dessas aves.

noé e o corvo

No Livro dos Reis, Deus ordena que os corvos alimentem o profeta Elias. O Rei Salomão é descrito tendo cabelo preto como um corvo. Essas aves são um exemplo da generosa provisão de Deus a todas as Suas criaturas no Salmo 147:9 e em Jó 38:41. Também no Novo Testamento, corvos são usados por Jesus para ilustrar a provisão divina a Lucas. 

Oriente Médio e Islamismo

Na versão do Corão da história de Caim e Abel, um corvo é citado como a criatura que teria ensinado Caim a enterrar seu irmão assassinado. Nessa versão, logo após o fratricídio, Caim estaria buscando algum lugar para se livrar do corpo do irmão e percebeu dois corvos: um morto e o outro vivo. O que ainda estava com vida começou a cavar o terreno com o bico até formar um buraco, onde teria enterrado seu colega falecido. Ao testemunhar isso, Caim teria descoberto sua solução. 

A Idade Média Cristã

Segundo uma lenda do cristianismo ibérico, depois que São Vicente de Saragoça foi executado, os corvos protegeram seu corpo de ter sido devorado por animais selvagens até que seus seguidores pudessem recuperá-lo. O corpo foi levado ao sul de Portugal e um santuário foi construído sobre seu túmulo — que continuou a ser guardado por corvos. No século XII o corpo foi exumado e levado a Lisboa, ainda acompanhado das aves — essa transferência é retratada no brasão de armas da cidade de Lisboa.

brasão lisboa

Já a lenda do imperador germânico Frederick Barbarossa diz que ele repousa com seus cavaleiros em uma caverna que fica em uma montanha na Bavária. Segundo a crença, quando os corvos parassem de voar ao redor daquela montanha, ele iria despertar e restaurar a Alemanha à sua antiga grandeza. A história ainda diz que os olhos do imperador estão semiabertos em seu sono, mas que de vez em quando ele levanta sua mão e manda que um garoto vá para fora ver se os corvos já pararam de voar.

Cultura germânica e viking

Para os povos germânicos, Odin era frequentemente associado a corvos. Várias das imagens que representavam o deus o posicionavam escoltado por duas aves. Mais tarde, a mitologia nórdica definiria que tais aves são os corvos Huginn e Muninn, que servem como os olhos e ouvidos do deus.

odin

Os corvos se tornaram um tema bem comum quando o assunto envolve vikings. O herói e rei Ragnar Lothbrok tinha um estandarte de corvo chamado Reafan. Acreditava-se que quando a bandeira tremulava, Lothbrok venceria, mas se ela apenas ficasse pendurada, a batalha seria perdida.

O rei Harald Hardrada também tinha um estandarte de corvo, chamado Landeythan. A ave ainda aparece no folclore da Ilha de Man, localizada no mar irlandês, que era uma colônia viking. O corvo é um dos símbolos do seu brasão de armas.

Grã-Bretanha Medieval e Torre de Londres

Corvos são bem importantes na mitologia do País de Gales graças a um poema que associa a ave a batalhas, bravura e morte. O texto se refere ao campo de batalha como o “banquete dos corvos”, com os animais se alimentando dos guerreiros mortos. 

Até mesmo na mitologia em torno do Rei Arthur a ave aparece, quando o monarca se prepara para a Batalha do Monte Badon e seu cavaleiro Owain mab Urien é acompanhado por uma revoada de corvos e protesta três vezes a Arthur que eles estão sendo atacados pelos servos do rei. O brasão dos Urien também possui corvos.

brasão urien

Vários personagens da mitologia do País de Gales têm seus nomes associados a corvos e corvídeos. Bran, o Abençoado e sua irmã Branwen são os exemplos mais conhecidos e se relacionam com um dos pontos turísticos mais conhecidos da capital do Reino Unido: a Torre de Londres.

Bran teria ordenado que após sua morte sua cabeça fosse retirada do corpo e levada ao local onde hoje é a Torre de Londres. Acredita-se que essa lenda tenha relação com o fato de que até hoje as aves são mantidas no local. Dizem até que o império britânico irá ruir se os corvos da Torre de Londres forem removidos.

Durante a Segunda Guerra Mundial os corvos da Torre morreram de choque durante os bombardeios, deixando apenas um par chamado Mabel e Grip. Pouco depois que o local reabriu ao público, Mabel voou para longe. Duas semanas depois, Grip também foi embora. O incidente virou notícia em vários jornais, relembrando a lenda de que isso poderia significar a ruína do império britânico. Considerando que pouco depois vários países ainda sob o domínio inglês se tornaram independentes, podemos afirmar que a lenda tem algum sentido.

torre de londres
eye35 / Alamy Stock Photo

Povos nativos da América do Norte

Várias mitologias de povos nativos da América do Norte têm o corvo com algum papel importante, principalmente nos da costa do Pacífico. Em boa parte dessas culturas, o corvo é o criador do mundo, mas ao mesmo tempo é considerado um deus traiçoeiro

Uma das lendas conta como o Corvo ajudou a trazer o sol, a lua, as estrelas, água fresca e fogo ao mundo. Dizem que no princípio de tudo, a Águia Cinza era a guardiã de todos esses itens, mas ela odiava tanto a humanidade que guardava-os para si, e as pessoas viviam na escuridão, sem fogo e água fresca. 

O corvo, que era branco na época, teria se apaixonado pela filha da Águia, que o convidou para a casa de seu pai. Quando o Corvo viu o sol, a lua, as estrelas e a água fresca, ele sabia o que precisava fazer. Em sua fuga, levou um pouco de fogo também. Ele pendurou o sol, a lua e as estrelas no céu e jogou sobre a terra toda a água que havia roubado, dando origem a todos os rios e lagos do mundo. Carregando uma pequena tocha no bico, a fumaça daquele fogo se espalhou por suas penas, tornando-as pretas.

corvo américa do norte

Hinduísmo e Sul da Ásia

Em um capítulo do livro Yoga Vasistha, Bhusunda é um antigo sábio que tem forma de corvo e relembra a sucessão de épocas na história da Terra, conforme descrito na cosmologia hindu. Ele teria sobrevivido a várias destruições, vivendo em uma árvore que realiza desejos no Monte Meru. Corvos são considerados ancestrais no hinduísmo e até hoje as aves recebem oferendas.

A deidade hindu Shanti é frequentemente representada montando em um corvo gigante. O animal se chama Vahana e a deusa é a protetora da propriedade, capaz de reprimir a natureza furtiva das aves. Dhumavati, a deusa viúva associada a discórdia, é representada cavalgando um corvo ou em uma carruagem sem cavalos com o emblema de um corvo.

Corvos também são a ave nacional do Butão e adornam o chapéu real, representando a deidade Gonpo Jarodonchen com cabeça de corvo. Esse deus é um importante guardião naquela cultura.

LEIA TAMBÉM: O CORVO: POEMA DE EDGAR ALLAN POE NA CULTURA POP

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1 Comentário

  • Marcelo Manaro

    15 de fevereiro de 2024 às 18:24

    muito bom o texto, mas poderiam te citado os Tengu da mitologia japonesa

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